SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Forças israelenses promoveram neste sábado (20) um inédito ataque contra alvos dos rebeldes houthis no Iêmen. Instalações de refino e depósitos de combustíveis do porto de Hodeidah, o principal controlado pelo grupo, foram destruídas por caças do Estado judeu.
É a primeira vez que isso ocorre desde que os houthis passaram a lançar drones e mísseis contra território israelense, em 19 de outubro passado, como forma de apoiar seus aliados do grupo terrorista Hamas, que havia lançado um ataque mortífero 12 dias antes.
Até aqui, Israel havia se limitado a se defender dos ataques, deixando ações ofensivas para forças dos EUA e do Reino Unido, que passaram a bombardear pontualmente os houthis após os rebeldes iniciarem uma campanha contra navios mercantes dos aliados israelenses no mar Vermelho e no golfo de Áden.
Mas tudo mudou na sexta (19), quando um drone de longa distância dos houthis conseguiu atingir o centro de Tel Aviv, enganando as propaladas defesas antiaéreas de Israel. Uma pessoa morreu no ataque, que quase atingiu a embaixada dos EUA na cidade.
Em Israel, o foco das ações dos rebeldes era Eilat, o porto principal no país no mar Vermelho, que fica a cerca de 1.800 km das posições mais ao norte dos houthis no Iêmen. Tel Aviv fica cerca de 300 km mais distante, o que mostra a sofisticação do arsenal de drones e mísseis fornecidos pelo Irã aos aliados.
Mas o grande estrago provocado pelos houthis está no mar Vermelho. A rota, por onde passava cerca de 15% do comércio marítimo mundial, foi praticamente interrompida. Tendo desviado todos seus navios ligando a Europa ao Oriente Médio, para circunavegar a África, a gigante Maersk informou na quarta passada (17) que a crise está longe de acabar e os custos do transporte, só crescem.
As IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa) divulgaram uma motivação mais ampla: “A ação ocorreu em resposta às centenas de ataques contra o Estado de Israel nos últimos meses”. Ainda não foram divulgados detalhes, mas o bombardeio quase certamente empregou aviões de ataque de longo alcance F-15.
Imagens divulgadas pelos próprios houthis mostravam um enorme incêndio em curso no porto. A mídia local falou em vítimas, mas sem números precisos até aqui.
Em uma guerra civil que começou em 2014, os rebeldes conseguiram ocupar a capital e boa parte do leste do país. O conflito opôs os grandes rivais regionais no mundo muçulmano.
De um lado, o Irã armou e financiou os houthis, aderentes do xiismo, o ramo minoritário do Islã centrado em Teerã. Do outro, o governo posto para correr foi apoiado pela Arábia Saudita, foco do sunismo, a principal denominação da religião.
Essa guerra civil está congelada de forma algo precária, mas o embate Israel-Hamas na Faixa de Gaza mudou todo o cenário regional, elevando o risco de uma ampliação do conflito.
Nas últimas semanas, o temor estava centrado na fronteira norte de Israel, onde escalou bastante o atrito entre forças do Estado judeu e do grupo xiita libanês Hezbollah. Muito mais bem equipada do que o Hamas, a organização ameaçou levar o conflito até aqui limitado em apoio aos palestinos a uma outra escala.
A mais recente guerra aberta entre o Hezbollah e Israel ocorreu em 2006, com um incômodo empate na prática, vendido pelos libaneses como vitória dado o poderio militar do rival. O ataque contra Tel Aviv e a retaliação contra Hodeidah mostra que os houthis mantém uma capacidade de disrupção grande, abrindo um novo foco de preocupação na região.
Como todos esses grupos envolvidos no combate a Israel são apoiados pelo Irã, o risco colocado é o de guerra aberta entre Tel Aviv e Teerã, que quase fatalmente envolveria também Washington. De forma geral, ambos os lados vinham evitando isso, mas em abril os iranianos lançaram um grande ataque com drones e mísseis contra os israelenses, algo inédito em mais de 40 anos de hostilidades entre os Estado.
Isso mudou o padrão usual do Irã, de empregar prepostos regionais, o chamado Eixo da Resistência, contra Israel. Tel Aviv retaliou de forma bem discreta, baixando a fervura.
IGOR GIELOW / Folhapress