SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezenas de milhares de palestinos no norte da Faixa de Gaza estão fugindo dessa que é uma das regiões mais devastadas pela guerra à medida que Israel intensifica ataques às vésperas de possíveis negociações de cessar-fogo.
Avichay Adraee, um porta-voz do Exército de Tel Aviv, afirmou nesta segunda-feira (30) na rede social X que, sob a justificativa de “destruir capacidades de organizações terroristas”, as operações militares iriam “se estender para oeste até o centro da cidade”. “Para sua segurança, evacue imediatamente para o oeste e depois para o sul, para a área de al-Mawasi”, afirmou.
Tanques israelenses avançaram sobre o bairro de Zeitoun, na Cidade de Gaza, e atacaram várias áreas no norte, enquanto aeronaves bombardearam pelo menos quatro escolas após ordenar que centenas de famílias abrigadas no interior saíssem, segundo moradores.
De acordo com autoridades de saúde do território, controlado pelo Hamas, ataques israelenses mataram pelo menos 58 pessoas nesta segunda. O Estado judeu diz ter atacado centros de comando após tomar medidas para mitigar o risco de ferir civis.
A área no sul de Gaza para onde os moradores foram direcionados está superlotada. Antes mesmo de o atual conflito eclodir, o território já era um dos mais densos do mundo; agora, após praticamente todos os habitantes terem se deslocado internamente em 20 meses de bombardeios, as áreas supostamente seguras estão ainda mais sobrecarregadas.
Palestinos no norte de Gaza relataram uma das piores noites de bombardeios israelenses em semanas. “As explosões não pararam; eles bombardearam escolas e casas. Parecia um terremoto”, disse à agência de notícias Reuters Salah, 60, pai de cinco filhos e morador da Cidade de Gaza. “Nas notícias ouvimos que um cessar-fogo está próximo, no terreno vemos morte e ouvimos explosões.”
Parte dos que agora se deslocam novamente para o sul haviam voltado para o norte no cessar-fogo que vigorou entre janeiro e março deste ano. Desde o fim da trégua, mais de 684 mil pessoas foram deslocadas, de acordo com um órgão liderado pelo Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados).
“Sem um lugar seguro para ir, muitas pessoas buscaram refúgio em campos de deslocamento superlotados, abrigos improvisados, prédios danificados, ruas e áreas abertas”, diz documento publicado pelo Ocha, o escritório de ajuda humanitária da ONU, na semana passada. “As pessoas foram confinadas em espaços cada vez menores, com 82,6% da Faixa de Gaza agora dentro de zonas militarizadas por Israel ou colocadas sob ordens de deslocamento desde 18 de março.”
Os ataques ocorrem um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizer que um acordo para interromper a guerra poderia ocorrer nesta semana. “Façam o acordo em Gaza. Tragam os reféns de volta”, afirmou o republicano na sua plataforma, a Truth Social, em um recado ao aliado do Oriente Médio.
Os EUA propuseram um cessar-fogo de 60 dias e a libertação de metade dos reféns em troca de prisioneiros de palestinos. O fim da guerra seria alcançado em uma segunda parte do acordo, no qual o Hamas libertaria os sequestrados restantes.
Nesta segunda, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, disse que Tel Aviv concordou com a proposta, colocando o ônus sobre o Hamas. “Israel está falando sério em sua vontade de chegar a um acordo de reféns”, afirmou a jornalistas em Jerusalém.
Há impasses nos bastidores, no entanto. Um membro do Hamas, que se recusa a depor as armas, diz que o progresso depende de Israel concordar em encerrar a guerra e se retirar de Gaza. Já Tel Aviv diz que só pode terminar a guerra quando o Hamas for desarmado e desmantelado.
Fontes palestinas e egípcias com conhecimento dos últimos esforços para alcançar uma trégua disseram que os mediadores de Qatar e Cairo intensificaram seus contatos com os dois lados, mas afirmam que nenhuma data foi definida ainda para uma nova rodada de negociações.
As expectativas devem aumentar nesta segunda, quando o ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, vai à Casa Branca para conversas sobre a guerra no Oriente Médio, de acordo com um funcionário israelense.
A ministra das Relações Exteriores da Áustria, Beate Meinl-Reisinger, falando em Jerusalém na segunda-feira ao lado de seu homólogo israelense, disse a repórteres que Viena estava muito preocupada com a situação humanitária em Gaza, que ficou 11 semanas sob bloqueio total de Israel este ano.
“O sofrimento dos civis está sobrecarregando cada vez mais as relações de Israel com a Europa. Um cessar-fogo deve ser acordado”, disse ela, pedindo a libertação incondicional dos sequestrados e a manutenção de um fluxo ininterrupto de ajuda humanitária para Gaza.
Até agora, a guerra matou mais de 56 mil palestinos, cerca de 3% da população de Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
Redação / Folhapress
