SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alvos de críticas após cercar hospitais na Faixa de Gaza em sua guerra contra o Hamas, militares de Israel disseram nesta terça-feira (14) que estavam coordenando o envio de incubadoras para o território palestino com o objetivo de transferir bebês recém-nascidos para áreas que seriam mais seguras.
As tropas israelenses se posicionaram próximas às instalações hospitalares na Cidade de Gaza, a maior da faixa homônima, que, segundo a inteligência do país, são usadas como abrigos por integrantes do Hamas. Na véspera, Israel havia dito que terroristas estavam escondidos em uma espécie de quartel-general construído em túneis abaixo do hospital al-Shifa, o maior do território palestino.
Sob cerco, médicos e pacientes que ainda estão no Shifa relatam caos e dizem que o local está em vias de colapso. Ashraf al-Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que cerca de cem corpos estavam em decomposição no hospital e que não havia como retirá-los.
“Estamos planejando enterrá-los em uma vala comum dentro do complexo médico. Será muito perigoso porque não temos proteção, mas não temos outras opções”, disse ele à agência de notícias Reuters.
Outros médicos no Shifa relatam que há uma “crise sanitária aguda” no local. O hospital, sitiado pelas forças israelenses e localizado próximo a áreas em que ocorrem combates intensos entre soldados israelenses e o Hamas, deixou de funcionar normalmente e registra desabastecimento de itens básicos e falta de medicamentos.
O cirurgião Ahmed El Mokhallalati disse que os corpos estavam gerando um mau cheiro insuportável e representando risco de infecções. “Hoje tivemos um pouco de chuva e foi realmente horrível porque ninguém podia sequer abrir uma janela”, afirmou ele. “Os civis começaram a cavar no hospital para tentar enterrar os corpos sob sua responsabilidade, sem nenhuma providência do lado israelense.”
Em relação aos bebês, Qidra, do Ministério da Saúde local, disse que não há mecanismos nem equipamentos para que ocorram transferências seguras. “Mas não temos nenhuma objeção para que os bebês sejam transferidos para qualquer hospital, no Egito, na Cisjordânia ou mesmo para os hospitais de ocupação [israelenses]. O que mais nos importa é o bem-estar e a vida desses bebês”, afirmou ele.
As IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) publicaram nas redes sociais fotos de soldados carregando para uma van incubadoras portáteis e alimentados por baterias os equipamentos, segundo autoridades, seriam usados para a retirada de recém-nascidos do local.
Sem combustível para os geradores de energia que mantêm as incubadoras em funcionamento, o hospital tinha bebês enfileirados em camas para que ficassem mais aquecidos.
O Hamas, grupo terrorista que controla Gaza, nega a presença de combatentes no hospital e diz que 650 pacientes e de 5.000 a 7.000 civis deslocados estão encurralados na unidade médica, sob fogo constante de franco-atiradores e drones. Afirma ainda que 32 pacientes morreram na unidade nos últimos três dias, incluindo três bebês prematuros cujas incubadoras foram desligadas por falta de energia.
Israel nega que o hospital esteja sitiado e diz que suas forças permitem a saída das pessoas. Médicos e funcionários, porém, negam a informação e afirmam que aqueles que tentam sair ficam sob a mira de combatentes. A Reuters não conseguiu verificar a situação de forma independente.
Israel prometeu exterminar o Hamas depois que terroristas do grupo romperam barreiras e invadiram cidades israelenses para matar civis no dia 7 de outubro. Segundo os israelenses, 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 240 foram levadas para Gaza como reféns no dia mais mortal de seus 75 anos de história.
Mas sua resposta, incluindo um cerco total e um bombardeio constante contra o território densamente povoado, tem alarmado vários países. Israel diz que o Hamas é o culpado pelos ferimentos aos civis porque os combatentes usam a infraestrutura civil como escudo, o que a facção extremista nega.
Autoridades médicas em Gaza, controlada pelo Hamas, afirmam que mais de 11 mil pessoas foram mortas em decorrência dos ataques israelenses, cerca de 40% delas crianças, e várias outras estão presas sob escombros. Cerca de dois terços dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza ficaram desabrigados. Alimentos, combustível, água potável e suprimentos médicos estão esgotando.
Redação / Folhapress