Israel reage a decisão dos EUA e diz que tem munição suficiente para invadir Rafah

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O principal porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, disse nesta quinta-feira (9) que o Exército do país tem munição suficiente para invadir Rafah e realizar “outras operações já planejadas”. A fala é uma resposta à decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de suspender o envio de 3.500 bombas para evitar que armas americanas sejam usadas na cidade.

O governo Biden tem aumentado o tom das críticas ao aliado, dizendo repetidas vezes que o plano de invadir Rafah, cidade superlotada de deslocados pela guerra no sul da Faixa de Gaza, não tem apoio de Washington. Na quarta-feira (8), em uma entrevista à CNN, Biden admitiu pela primeira vez que armas americanas vem sendo utilizadas para matar civis em Gaza.

Em pronunciamento nesta quinta, o premiê Binyamin Netanyahu fez uma crítica velada a Biden. “Se tivermos que estar sozinhos, então estaremos sozinhos”, disse, sem mencionar os EUA ou o presidente americano diretamente. “Se necessário, lutaremos com nossas unhas. Mas temos muito mais do que isso, e com força de espírito e a ajuda de Deus, seremos vitoriosos.”

Outros dois membros do conselho de guerra de Netanyahu, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o ex-premiê rotativo e opositor Benny Gantz apoiaram publicamente as declarações do chefe de governo. “Eu digo aos inimigos de Israel e também aos nossos melhores amigos: o Estado de Israel não pode ser intimidado”, disse Gallant. “Seremos fortes e atingiremos nossos objetivos.”

Gantz, por sua vez, disse em uma publicação no X que “Israel tem o dever moral e de segurança nacional de continuar lutando para resgatar os reféns e destruir a ameaça do Hamas. E os EUA têm o dever moral e estratégico de fornecer a Israel as ferramentas necessárias para essa missão”.

Já o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, sugeriu que o grupo terrorista Hamas ama o presidente americano. Ben-Gvir é um dos membros mais radicais da coalizão de Netanyahu, que é a mais à direita da história de Israel.

Para Washington, uma ampla operação terrestre em Rafah não será capaz de derrotar o Hamas —objetivo alegado de Tel Aviv— e deve enfraquecer a posição israelense nas negociações com a facção. Os EUA tentam conseguir um acordo de cessar-fogo e de soltura dos reféns sequestrados em 7 de outubro de 2023 em um esforço conjunto de mediação com o Egito e o Qatar.

De acordo com a UNRWA, agência da ONU para os refugiados palestinos, mais de 80 mil pessoas fugiram de Rafah desde que Israel começou a avançar sobre a cidade no início da semana. O local concentra quase 1,5 milhão de pessoas —a imensa maioria, deslocados internos que fugiram do norte da Faixa de Gaza.

Na última segunda-feira (6), Tel Aviv orientou que cerca de 100 mil pessoas saíssem da parte leste de Rafah, em um prenúncio da invasão terrestre. Na véspera, um ataque com foguetes reivindicado pelo braço armado do Hamas na passagem de Kerem Shalom, perto da cidade, havia deixado quatro soldados israelenses mortos e vários feridos.

Como retaliação, Israel fechou o posto e tomou outro, o de Rafah, deixando apenas uma passagem aberta para a entrada de ajuda humanitária —a de Erez, no norte. Na quarta (8), Tel Aviv afirmou ter reaberto Kerem Shalom, mas foi contestado por organizações internacionais.

Segundo membros do Hamas e moradores, as forças israelenses concentraram tanques perto de áreas urbanas de Rafah nesta quinta. Na véspera, as Forças Armadas de Israel divulgaram um vídeo que mostrava dezenas de tanques cruzando a fronteira e entrando na cidade.

Durante meses, Israel ordenou que a população se retirasse do norte de Gaza, alvo da maior parte dos bombardeios. Assim, centenas de milhares de pessoas se deslocaram em direção ao sul, para Rafah, que antes da guerra tinha cerca de 280 mil palestinos.

A ameaça de um ataque mais amplo deixa a população com medo de passar por outra nakba, como ficou conhecido o êxodo de 700 mil palestinos que foram permanentemente expulsos de suas casas na criação de Israel, em 1948. Na época, alguns deles fugiram para países árabes vizinhos, como Jordânia, Síria e Líbano, e outros foram para Gaza. Israel contesta a versão de que eles foram expulsos à força.

“Costumava ouvir histórias da nakba de meu pai, que ouviu essas histórias de meu avô. Agora, quando penso sobre isso e comparo, acho que o que aconteceu em 1948 não se compara à brutalidade de nossa nakba atual”, diz Mohammad Emad, 22, que teve que se mudar pela quarta vez com a família, dessa vez para a cidade de Deir Al-Balah, à agência de notícias Reuters.

Após sete meses de guerra, grande parte de Gaza encontra-se em ruínas. De acordo com relatório do Ocha, escritório da ONU para a coordenação de assuntos humanitários, mais de 60% dos edifícios residenciais do território foram danificados, e pelo menos três igrejas e 243 mesquitas foram destruídas.

Até agora, quase 35 mil pessoas foram mortas em Gaza devido à guerra, segundo contagem das autoridades de saúde do território. Quem sobrevive aos bombardeios sofre com a falta de insumos causada pelos bloqueios de Israel. Segundo o Ocha, aproximadamente 30% das crianças com menos de dois anos em Gaza têm desnutrição aguda, e mais da metade da população passa fome.

Redação / Folhapress

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