WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Após a crescente pressão internacional sobre Israel diante do desastre humanitário na Faixa de Gaza, Tel Aviv vai começar a fazer pausas diárias de quatro horas em suas operações militares ao norte da região.
O anúncio foi feito pelo coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, nesta quinta-feira (9). Principal aliado internacional de Tel Aviv, o governo americano também sofre com críticas internas e externas ao seu apoio à ofensiva militar contra o grupo terrorista Hamas, que, segundo autoridades palestinas, já deixaram mais de 10 mil mortos e outros milhares de feridos e deslocados.
O objetivo da pausa é dar tempo para que civis se desloquem para o sul, permitir a chegada de ajuda humanitária e a saída de reféns capturados pelo grupo terrorista. Segundo Kirby, a população será avisada com três horas de antecedência sobre o horário dessas janelas.
Questionado sobre como será esse aviso, o americano afirmou que detalhes devem ser fornecidos pelas forças israelenses. Tel Aviv ainda não se manifestou sobre a medida, mas, de acordo com a Casa Branca, haverá um pronunciamento sobre o horário da primeira pausa ainda nesta quinta. Nenhum representante de Israel participou do anúncio feito pelo governo americano.
Kirby afirmou ainda que uma segunda passagem, além de Rafah, será aberta para permitir a entrada de mais ajuda humanitária na região, e que o governo americano vem insistindo com Israel para que “minimize a morte de civis e faça tudo que eles possam fazer para reduzir esses números”.
Inicialmente, Washington se opôs a qualquer possibilidade de frear as operações militares israelenses, sob a justificativa que Tel Aviv teria o direito e o dever de se defender, e que uma pausa na ofensiva ajudaria o Hamas a reaglutinar suas forças.
A referência a “pausas humanitárias” na resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas teria sido, inclusive, o real motivo de veto ao texto pelos americanos. Com a paralisia do órgão, a Assembleia-Geral aprovou uma resolução exigindo “tréguas humanitárias” o instrumento, porém, tem caráter apenas recomendatório.
A posição americana começou a mudar em resposta ao aumento de críticas tanto internas a Israel, quanto externas, vinda de líderes mundiais, que cobram de Tel Aviv o respeito ao direito internacional. Muitos acusam o país de graves violações de direitos humanos em Gaza e, no último sábado, milhares de pessoas participaram de uma manifestação em Washington em que Joe Biden foi chamado de genocida.
A postura do democrata vem sendo atacada por sua própria diplomacia. Na última semana, o site Politico obteve um memorando interno do Departamento de Estado recomendando que a Casa Branca passe a apoiar um cessar-fogo e criticar publicamente Israel. Do contrário, o país será percebido regionalmente como um ator “desonesto e enviesado”.
Biden enfrenta ainda resistência dentro de seu partido por seu apoio ao aliado no Oriente Médio alas mais à esquerda dos democratas são contrárias a essa aliança, o que pode custar votos ao presidente na acirrada disputa pela reeleição no próximo ano.
Assim, as negociações entre americanos e israelenses em torno de uma pausa se intensificaram nos últimos dias, com a visita do secretário de Estado, Antony Blinken, à região, e uma ligação entre o presidente Joe Biden e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na última segunda-feira (6).
Após o anúncio desta quinta, o presidente americano afirmou que a negociação sobre as pausas “demorou mais do que ele esperava”, ao ser questionado por repórteres se ele estava frustrado com Netanyahu. Ele disse ainda que havia pedido por uma pausa mais longa do que três dias. Biden negou, no entanto, qualquer possibilidade de apoio a um cessar-fogo.
O governo israelense vinha rejeitando qualquer possibilidade de freio em suas operações nesta quinta, o comandante Moshe Tetro disse não haver crise humanitária no território palestino. Assim, o anúncio das pausas, antecipado pela Casa Branca, indica que a mudança de postura de Tel Aviv decorre da pressão americana.
Com base em pessoas familiarizadas com o assunto, o jornal britânico The Guardian publicou nesta quinta que o premiê israelense rejeitou um acordo de cessar-fogo com grupos palestinos que suspenderia o conflito por cinco dias em troca da libertação de alguns dos reféns sequestrados nos ataques do dia 7 de outubro.
De acordo com o jornal, Netanyahu havia descartado a proposta logo após os atentados terroristas que mataram cerca de 1.400 pessoas, mas as negociações foram retomadas diante da ofensiva terrestre em Gaza, no fim de outubro.
Segundo as pessoas consultadas pelo Guardian, o premiê se manteve resistente a flexibilizar as propostas. Ele enfrenta, no entanto, pressão crescente para priorizar a libertação dos sequestrados, que estão sendo mantidos presos pelo Hamas em Gaza há mais de um mês. Calcula-se que haja mais de 200 reféns.
FERNANDA PERRIN / Folhapress