SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Centenas de pessoas desafiaram autoridades da Turquia neste domingo (25) e participaram da parada do orgulho LGBTQIA+ em Istambul, um mês após as eleições marcadas pela campanha homofóbica do presidente Recep Tayyip Erdogan.
Como todos os anos, a marcha havia sido proibida pelo governador de Istambul, Davut Gül. No Twitter, ele disse que 113 pessoas foram detidas. “Nosso futuro depende de manter viva a instituição familiar, com nossos valores nacionais e morais”, escreveu.
A polícia impediu o acesso à avenida Istiklal, local tradicional das marchas do orgulho gay, assim como à praça central Taksim. Ruas próximas foram bloqueadas, e o transporte público na área, suspenso.
Os manifestantes, no entanto, reuniram-se algumas horas antes do início do desfile, em locais não informados até o último momento. Optaram por se reunir no Parque Mistik, no distrito de Sisli, onde carregaram bandeiras de arco-íris, enquanto os organizadores liam uma declaração para marcar a semana do orgulho gay.
Mais cedo, organizadores haviam dito que a polícia deteve mais de 50 pessoas após a marcha. O escritório da ONG Anistia Internacional na Turquia disse ainda que pelo menos uma pessoa sofreu ferimentos na cabeça enquanto era presa por autoridades.
Desde uma manifestação realizada em Istambul em 2014 com mais de 100 mil pessoas, paradas do orgulho gay começaram a ser gradualmente proibidas pelas autoridades turcas, que alegavam razões de segurança.
“Não aceitamos essa política de ódio e negação”, disse a organização da Semana do Orgulho LGBTQIA+ de Istambul em comunicado.
A homossexualidade não é crime na Turquia, mas a hostilidade a ela é generalizada e as repressões policiais nas paradas do orgulho gay tornaram-se mais duras ao longo dos anos. No ano passado, mais de 200 pessoas foram presas.
Durante a campanha, o governo liderado por Erdogan endureceu sua posição em relação aos direitos LGBT. Após sua reeleição no mês passado, acusou os partidos de oposição de serem “pró-LGBTQIA+”.
“Se o conceito de família não é forte, a destruição da nação se dá rapidamente”, disse ele a jovens em encontro transmitido pela televisão no início de maio. “[A comunidade] LGBT é um veneno injetado na instituição da família. Somos um país em que 99% da população é muçulmana. Não podemos aceitar.”
Erdogan ainda declarou que “a família é sagrada” e insistiu que pessoas LGBTQIA+ jamais vão se “infiltrar” em seu partido. O turco também lança ataques frequentes a pessoas da comunidade, qualificando-as de “pervertidas” e dizendo que “estão se espalhando como a peste”.
Redação / Folhapress