SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A boxeadora italiana Angela Carini desistiu com apenas 46 segundos de sua luta as oitavas de final do boxe feminino até 66kg nas Olimpíadas de Paris. Sua adversária, a argelina Imane Khelif, foi reprovada em teste de gênero em campeonato mundial no ano passado, mas cumpriu os requisitos para os Jogos Olímpicos.
A italiana desistiu logo depois de ter levado um soco da adversária no nariz. O relógio ainda marcava 2min14s restantes no primeiro assalto. Assim que levou o golpe, a boxeadora de azul ergueu aos mãos e informou o abandono.
O COI afirmou que todas as atletas que disputam os Jogos de Paris cumprem os regulamentos de elegibilidade. A entidade ressaltou que todas apresentam as condições médicas aplicáveis de acordo com as regras da Unidade de Boxe de Paris, que regulamenta a competição. Em seu site, ela consta como atleta mulher.
Carini se recusou a cumprimentar a adversária após o anúncio do resultado e foi às lágrimas. Ela fugiu da tentativa de aproximação da rival e caiu de joelhos no ringue.
Após sofrer um primeiro golpe no rosto, segundos antes, a italiana já havia dito: “Não é justo, dói muito”. Segundo o jornal italiano Corriere Della Sera, o técnico Emanuele Renzini teria pedido para ela pelo menos terminar o primeiro round. O combate foi retomado, mas somente por mais dez segundos, até a desistência.
COMO COMEÇOU A POLÊMICA
Khelif foi reprovada em teste de gênero no Mundial feminino de boxe no ano passado. A atleta de 25 anos foi desclassificada pela IBA (Associação Internacional de Boxe) por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade a IBA não é regulamentada pelo COI.
A luta de Carini contra a argelina virou polêmica na Itália antes mesmo de começar. Na véspera do duelo, a ministra Eugenia Roccella deu declarações preconceituosas e acusou Khelif de ser “um homem que se identifica como mulher”. No entanto, não há confirmação que ela seja uma atleta trans.
Após a luta, o treinador de Carini disse que a italiana estava com dor de dente, tomando antibióticos, e que desistiu após sentir dor no nariz. O técnico acrescentou na sequência, de acordo com o Della Sera, que a “máquina das redes sociais” tinha entrado em ação, citando que a questão dos hormônios da adversária é controversa.
Carini eximiu Khelif de culpa e pediu desculpa à adversária. A italiana confirmou que disse “não é justo” durante o combate, mas ressaltou que não cabe a ela julgar a argelina e se desculpou por não tê-la cumprimentado após a desistência.
URGENTE – Angela Carini abandona a luta contra uma mulher trans nas olimpíadas de Paris!Ela foi admitida na competição pelo comitê olímpico! pic.twitter.com/WFtehOfibD
O QUE CARINI DISSE
Sim, eu disse que não é justo. Não é certo desistir de uma Olimpíadas, mas não cabe a mim julgar. Não sou ninguém para julgar Imane. A verdade é que não sabemos nada sobre minha oponente, exceto por uma coisa: ela não tem culpa. Ela é uma mulher que está aqui para fazer as Olimpíadas, como eu. Quem sou eu para julgá-la? Não depende de mim, cabe aos outros fazê-lo. Angela Carini, ao Corriere Della Sera
Não cumprimentar a adversária: “Eu estava errada. Saí do ringue cheia de raiva. Nunca terminei uma partida sem cumprimentar minha adversária. Peço desculpas a Imane por não me despedir dela”.
Desistência: “Estou com o coração partido, mas minha cabeça está erguida. Eu lutei. Eu tentei lutar. O ringue é minha vida, e nunca tive medo e não tive medo nesta quinta-feira (1). Mas sou uma boxeadora muito instintiva e disse a mim mesma imediatamente: ‘Algo está errado’. Eu senti aquele golpe, me machucou. Foi muito ruim, eu não conseguia mais respirar. Disse a mim mesma: ‘basta’. Eu nunca fui derrotada por nocaute e até nesta quinta-feira (1) eu nunca tinha saído de um ringue antes do final da luta. Eu sou uma guerreira, mas às vezes até as guerreiras, quando veem que a batalha está perdida, enfiam suas espadas na terra e se rendem”.
IBA SE MANIFESTA
A entidade internacional de boxe se pronunciou na última quarta (31) sobre a desclassificação de Khelif. A IBA afirmou que a argelina não foi submetida a um teste de testosterona, mas sim a um exame separado e reconhecido, cujas especificidades permanecem confidenciais. Tal teste indicou que não Khelif não atingiu os critérios necessários e que teria vantagens contra outras mulheres.
Segundo a entidade, Khelif inicialmente apelou da decisão ao CAS, mas depois retirou. A IBA também manifestou sua “preocupação com a aplicação inconsistente de elegibilidade” de outras organizações, mencionando o COI e as Olimpíadas. Por fim, a associação levantou questionamento sobre a “justiça competitiva e a segurança das atletas”.
Redação / Folhapress