SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Italo Ferreira nunca treinou tanto quanto agora: “Performance, performance, performance”. Tatiana Weston-Webb tem treinado pouco: “Realmente, não foi muita preparação”.
São eles os atletas que tentam manter a sequência de títulos do Brasil no Mundial de surfe. A etapa final, em San Clemente, nos Estados Unidos, que provavelmente ocorrerá nesta sexta-feira (6), a depender das condições do mar, é encarada de maneiras bem diferentes pelos representantes do país vivos na disputa.
O potiguar Italo, 30, frustrado por não ter obtido classificação para defender em Paris a medalha de ouro que recebeu nos Jogos Olímpicos de Tóquio, está sedento por uma conquista. A gaúcha Tatiana 28, prata em Paris-2024, vê sua missão cumprida na temporada e está “leve”, palavra que repete a cada duas ou três frases.
“A medalha era um sonho gigante. E, para mim, depois disso, caiu muito a pressão que eu estava sentindo. Estou superleve. Estou me sentindo ótima, confiante, orgulhosa de mim mesmo”, afirmou Weston-Webb. “Estou superfeliz, não tenho nada a perder aqui. Sou a quinta. Só posso ganhar. Estou me sentindo ótima.”
Ela se refere ao próprio ranking e ao formato de disputa da WSL, a Liga Mundial de Surfe, na sigla em inglês. Tati obteve a quinta e última vaga feminina no evento WSL Finals, que define os campeões do mundo. Ela precisa bater em sequência a quarta colocada, a terceira e a segunda para fazer a decisão em melhor de três baterias com a líder do ano, a norte-americana Caitlin Simmers.
A classificação da brasileira ao torneio derradeiro só foi obtida na mais recente etapa do Mundial, em Fiji. Já com a medalha de prata olímpica no peito -e após uma série de compromissos comerciais e de relações públicas-, na leveza, praticamente sem treino, chegou à final no oceano Pacífico e subiu da sétima para a quinta posição.
“A gente fez uma preparação incrível para as Olimpíadas, e eu me senti muito bem lá, mas já se passou um mês aí, não treinei tanto. Tive que viajar a Paris [a disputa olímpica foi no Taiti, na Polinésia Francesa], depois teve Fiji, realmente não tive muita preparação física. Mas eu tenho certeza de que é possível e confio no meu corpo para conseguir fazer o trabalho”, disse.
Italo Ferreira, na disputa masculina, também só conseguiu sua vaga no Finals na última chance. Vencedor de duas das últimas quatro etapas classificatórias, deu um salto na tabela, beliscou o quinto lugar e realizou uma preparação física quase maníaca para a decisão em San Clemente, nas ondas californianas de Lower Trestles.
“Eu realmente tenho me dedicado bastante nessa parte, é uma das minhas prioridades. Porque surfar eu já surfo desde criança. Então, o importante é preparar o corpo e preparar a mente para esse desafio, para esse grande dia, que é um tiro só. Eu vou começar às oito e meia da manhã, e o campeonato vai até umas três e meia da tarde”, afirmou, certo de que estará no certame do começo ao fim.
Como Tatiana, Italo precisa bater o quarto colocado, o terceiro e o segundo para disputar o troféu com o primeiro, o havaiano John John Florence. No Finals de 2022, ele traçou caminho semelhante até as batalhas decisivas com o compatriota Filipe Toledo, que triunfou. Apesar da derrota, disse ter compreendido bem o formato.
“São até seis baterias no dia. Isso realmente exige energia do seu corpo, por isso treinei muito em São Paulo. Era academia de manhã, piscina [de ondas artificiais] à tarde; piscina de manhã, academia à tarde. Isso me dá muita confiança, sei que meu corpo está preparado para puxar o meu máximo. Estou mais forte mentalmente e fisicamente”, declarou.
Ferreira precisará mesmo de bom preparo para manter a ora ameaçada hegemonia do Brasil no circuito masculino. A “Brazilian Storm”, “tempestade brasileira” que tomou conta da modalidade nos últimos dez anos, fez todos os campeões desde a temporada 2018 -em 2019, com o próprio Italo.
De 2014 para cá, a série só foi quebrada em 2016 e 2017, com o bicampeonato de John John, que novamente aparece como ameaça. Atual bicampeão, Filipe Toledo se afastou do circuito neste ano por questões de saúde mental. Yago Dora e o tricampeão Gabriel Medina cresceram na parte final da temporada, porém ficaram fora do Finals -Medina foi bronze nos Jogos Olímpicos.
Na disputa feminina, o Brasil ainda busca seu primeiro título. Tatiana foi vice em 2021, perdendo por muito pouco a final para a norte-americana Carissa Moore, e adoraria finalmente ser campeã mundial, porém não se sente pressionada. “Como falei, não tenho nada a perder, só a ganhar. Vou com esse pensamento.”
MARCOS GUEDES / Folhapress