BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O negociador-chefe do Brasil para o G20, o embaixador Mauricio Lyrio, afirmou nesta sexta-feira (8) que as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza são temas ainda em aberto e alvo de negociação para a conclusão da declaração final da cúpula do bloco.
“Nós estamos negociando com os demais países a questão dos parágrafos sobre geopolítica que estarão na declaração”, afirmou o diplomata, em entrevista a jornalistas.
“Se olharem a declaração da Presidência que acompanha as [reuniões] ministeriais está dito que dois temas seriam discutidos: a questão da guerra na Ucrânia e a questão palestina, do Oriente Médio. Sim, há uma discussão entre os governos para se chegar a uma linguagem consensual sobre esses dois temas. Mas a mensagem principal é de que precisamos chegar à paz em relação não só a esses conflitos, mas a todos os conflitos”, acrescentou.
Questionado depois de maneira mais direta se ainda não há um consenso entre os países-membros do G20, Lyrio apenas acrescentou que “isso está sendo negociado”.
Os conflitos no Leste Europeu e na região do Oriente Médio vêm sendo objeto de divergências dentro do bloco nos últimos anos e motivo de impasse.
Para não contaminar as discussões, em particular os grupos de trabalho setoriais, o Brasil tentou isolar essa questão em uma declaração separada, mobilizada a cada novo encontro. No entanto, o tema agora deverá ser incluído na declaração final do G20.
“Alguns membros e outros participantes expressaram suas opiniões sobre a Rússia e a Ucrânia e a situação em Gaza”, diz trecho do documento. “A presidência brasileira do G20 conduzirá a discussão sobre essas questões entre os sherpas no próximo mês [novembro], em preparação para a cúpula de líderes no Rio de Janeiro.”
Lyrio também disse que não houve convite à Ucrânia, pois a negociação de paz não é tema da cúpula do bloco. O presidente Volodimir Zelenski havia pedido para ser convidado.
O Rio de Janeiro vai sediar nos dias 18 e 19 deste mês a cúpula de chefes de Estado do G20, bloco que conta com as principais economias do mundo e mais a União Europeia e a União Africana.
Líderes como o americano Joe Biden, o chinês Xi Jinping e o francês Emmanuel Macron confirmaram presença na cúpula. Segundo o governo brasileiro, incluindo os convidados, virão ao Rio 55 representantes de países ou organizações internacionais.
Uma das ausências será a do presidente russo Vladimir Putin, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, por crimes cometidos na guerra da Ucrânia. O governo brasileiro ainda não sabe quem será o representante da Rússia.
A organização do G20 também não acha provável a participação do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Os convites para a cúpula são tradicionalmente direcionados aos países e não a pessoas individuais, portanto o governo brasileiro argumenta que caberia à atual administração de Biden definir se o convidaria.
Durante a entrevista, Lyrio foi questionado sobre o futuro do G20 com a eleição de Trump, um crítico do multilateralismo e também de grande parte da agenda discutida no âmbito do bloco, como a pauta ambiental e de transição energética.
Ele minimizou a situação, mas disse que isso será objeto de diálogo. O embaixador ressaltou que, em 2026, os EUA estarão na presidência do G20 e lembrou que, a partir de 1º de dezembro, quando a África do Sul assume o posto, o Brasil vai compor com os americanos a chamada troika do G20 que é integrada pelo último país a realizar o evento (Brasil), o presidente em curso (África do Sul) e o seguinte (EUA).
“Minha impressão é que o presidente Trump participou de todas as reuniões do G20 durante o seu mandato”, afirmou. […] “Dificuldades de países com determinadas linguagens, com determinados temas, isso é normal. Isso é da natureza das reuniões internacionais e da elaboração de documentos, como esse, entre líderes”, completou.
O primeiro evento da cúpula do G20, no dia 18, será a sessão para discutir o tema da inclusão social e da luta contra a fome e a pobreza. Nesse momento será lançada oficialmente a iniciativa brasileira Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
O negociador-chefe brasileiro falou que já há um “número muito significativo” de adesões à iniciativa, sem antecipar quais.
REUNIÕES BILATERAIS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma série de reuniões bilaterais com chefes de Estado. Nesta quinta-feira (7), a Casa Branca e o Palácio do Planalto confirmaram que um desses encontros será com Biden.
Lyrio também disse que a agenda de bilaterais ainda está sendo fechada, mas que praticamente todos os países haviam solicitado encontro separado com o presidente brasileiro.
Questionado posteriormente se isso incluía a Argentina, do presidente Javier Milei, ele evitou comentar casos particulares e que “quase todos” haviam pedido o encontro com Lula.
NATHALIA GARCIA E RENATO MACHADO / Folhapress