FILADÉLFIA, EUA (FOLHAPRESS) – O debate contra Joe Biden, em junho, mal havia acabado, e aliados de Donald Trump já haviam inundado o “spin room”, como é chamada a área reservada para entrevistas a jornalistas, para celebrar a vitória do ex-presidente tanto a da noite quanto a de novembro, que já davam como certa.
Democratas demoraram para aparecer e, quando surgiram, foi em grupo, como se incapazes de defender sozinhos a performance do democrata.
A Filadélfia não poderia ser mais diferente de Atlanta.
Diante do desempenho ruim de Trump no debate contra Kamala Harris nesta terça (10), o clima de preocupação era visível entre aliados do republicano. O próprio candidato, em uma ação bastante inusual, apareceu de surpresa no spin room para tentar convencer que foi o melhor debate de sua vida.
“Se foi isso, por que você está aqui agora, em vez de deixar sua performance falar por si só?”, gritou um jornalista na multidão que se acotovelava. “Eu tinha combinado com as pessoas que viria aqui”, justificou-se Trump.
Repetindo um discurso que já vinha sendo ensaiado antes mesmo do debate, o ex-presidente e seus aliados acusaram os moderadores David Muir e Linsey Davis de terem sido supostamente injustos com Trump.
“É lamentável que os moderadores se uniram a Kamala, numa relação de três contra um”, disse o conselheiro da campanha republicana Brian Hughes. “Os moderadores não foram bons. Foram três contra um”, repetiu o senador Tom Cotton. “Qualquer um que viu aquilo concordaria que não foi um tratamento igualitário dos dois candidatos”, completou o empresário Vivek Ramaswamy.
“Os moderadores foram três contra um, foi muito injusto”, afirmou o próprio Trump.
Republicanos ficaram especialmente incomodados com as intervenções dos moderadores, que desmentiram diversas falas do empresário. “Ficaram fazendo uma tal checagem da fatos de Trump, mas não de Kamala. Eles não a pressionaram nas mentiras e erros dela, que foram vários”, disse Cotton, por exemplo.
A postura dos jornalistas foi uma diferença significativa em relação ao debate de Atlanta, no qual os moderadores se limitaram a fazer perguntas, sem corrigir os candidatos.
Além de culpar a imprensa, republicanos dedicaram-se a repetir que Trump foi efetivo no que importa: transmitir a mensagem de que é ele o candidato que vai melhorar o bolso do eleitor.
“A coisa mais importante, o que importa, é a economia. Acabar com a inflação. E garantir a segurança da fronteira. O presidente entregou essa mensagem muito claramente. Nós conseguimos cumprir esse trabalho”, afirmou Hughes.
Do lado democrata, o clima era definitivamente mais leve do que o de Atlanta, mas longe do estado efusivo dos republicanos.
“Você está provando factualmente meu ponto”, disse, rindo, o governador Gavin Newsom, da Califórnia, ao ouvir de uma repórter que o cenário dessa vez parecia muito melhor do que o anterior.
O democrata foi um dos poucos azarados que precisou defender Biden em junho sintoma do desastre, ele foi inundado na época de perguntas se assumiria o lugar do presidente na chapa.
“O contraste é evidente”, disse Newsom nesta terça. “Isso prova o velho paradigma de que na política um dia equivale a um ano”, afirmou.
Mais comedido, o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, afirmou que Kamala “se mostrou presidenciável e colocou Trump na defensiva em todas as questões”.
“Ficou claro que ele não tem um plano. Quando falou sobre aborto, ele perdeu o controle., começou a falar de dívida estudantil”, destacou. “Em política externa, ele nem foi capaz de dizer que quer que a Ucrânia vença.”
Na mesma linha, a senadora democrata Laphonza Butler afirmou que o eleitor ficou sem saber ainda o que Trump quer fazer se for eleito. A estratégia democrata busca virar o jogo em um dos principais ataques de republicanos a Kamala: a ausência de uma plataforma de governo clara.
Não está claro se haverá um novo debate. Em um gesto típico, Trump disse que a campanha democrata já teria proposto mais um porque estaria supostamente desesperada, mas que ele não sabe se aceitará mais um. “Foi o melhor debate que eu já fiz. Eu me diverti. Espero que vocês tenham curtido também.”
FERNANDA PERRIN / Folhapress