Jack White lança discaço com patamar ousado e inédito de sujeira sonora

FOLHAPRESS – “No Name”, sexto álbum solo do cantor e guitarrista americano Jack White, pode até não ter nome, mas tem tudo que seus fãs esperavam: rock vibrante, ao que parece gravado “ao vivo” no estúdio, com batidas que lembram sua primeira banda a fazer sucesso, White Stripes, mas em versão mais crua.

A chegada do disco às plataformas digitais encerra um jogo de segredos iniciado em 19 de julho em lojas da Third Man, gravadora que pertence a White. Nas filiais de Detroit (onde ele nasceu), Nashville (onde ele vive atualmente) e Londres, quem fez uma compra naquele dia ganhou um álbum em vinil que não continha informação alguma sobre seu autor. Numa capa branca, apenas o título, “No Name”.

No mesmo dia, algumas pessoas começaram a reproduzir o disco no YouTube e logo as apostas trataram de cogitar ser um disco de Jack White. Fãs mais conhecedores de seu trabalho deduziram que tinha sido gravado em trio, com o baterista Daru Jones e o baixista Dominic Davis, colaboradores de longa data do guitarrista.

Para quem precisa, uma contextualização: em parceria com a baterista Meg White, ele apareceu nos anos 1990 no White Stripes, que trouxe de volta sucesso e relevância ao rock de garagem. Depois de seis álbuns aclamados e lançados até 2007, a dupla se separou e o guitarrista começou carreira solo, intercalada com discos gravados por duas bandas criadas por ele que se reuniam de vez em quando, The Raconteurs e Dead Weather.

Sua trajetória é marcada por uma militância na defesa da preservação do vinil e por alguns lances espertos como o que fez na turnê do álbum “Blunderbuss”, em 2012. Para esses shows, White montou duas bandas de apoio: The Buzzards, só com homens, e The Peacocks, integrada só por mulheres. As duas se alternavam a cada show.

Musicalmente, ele optou por muita experimentação, mesmo fortemente agarrado ao blues. Em 2022, lançou dois álbuns: “Fear of the Dawn”, com rock acelerado, e “Entering Heaven Alive”, um disco de folk rock. Ou, pelo menos, aquilo que um artista tão inovador define como folk. Este disco forma com o espetacular “Lazaretto”, de 2014, seus dois trabalhos mais celebrados.

“No Name” não é um álbum experimental. A opção foi mergulhar em algo que White domina completamente: riffs pesados de guitarra, distorções sonoras, bateria de batida marcial e o pé fundo no acelerador. Não por acaso, muitas faixas poderiam estar em qualquer disco do White Stripes em total harmonia com o resto do repertório.

E isso não se traduz em um trabalho nostálgico. Na verdade, ele leva o estilo facilmente reconhecível do White Stripes a um patamar ousado e inédito de sujeira sonora. O melhor atestado disso está em “Bombing Out”, faixa que é puro punk rock descontrolado. Pode ser encaixada também nessa categoria “Bless Yourself”, que soa como o barulho perfeito que toda banda de garagem anseia conseguir.

A faixa que abre o disco, “Old Scratch Blues”, já expõe por completo a estética dominante em “No Name”. O álbum é um punhado de canções furiosas gravadas como se tudo fosse registrado na primeira tentativa, sem maiores refinamentos. Dá para imaginar White e seus comparsas plugando os instrumentos, mandando ver a música e se dando por satisfeitos com essa versão.

O blues, devidamente acelerado, atravessa todo o repertório. Há também espaço para um pouco de rock sulista, aquela música tipo Allman Brothers ou Lynyrd Skynyrd, feita para bebedores de cerveja em botecos empoeirados. Basta conferir “It’s Rough on Rats (If You’re Asking)” para compreender.

Ao escutar o álbum na ordem das faixas, quando o ouvinte chegar a “Archbishop Harold Holmes” provavelmente vai comemorar que White novamente paga um belíssimo tributo ao Led Zeppelin, banda seminal que é, sem dúvida, uma das bases mais encorpadas do som do White Stripes.

Mas é bom esperar até o final, quando chega “Terminal Archenemy Endling”. Esta realmente parece ter sido escrita por Jimmy Page e Robert Plant, o dínamo criativo do Led Zeppelin. É musicalmente complexa, mas, num toque bem anos 1970, começa e termina com som ambiente de uma cachorrada latindo. Uma canção inatacável sob qualquer parâmetro que julgue um bom rock and roll.

Nunca se sabe o que Jack White vai fazer em seguida, mas provavelmente será algo muito bom. “No Name”, que começou como um brinde para fãs, ultrapassa a classificação de mero item de colecionador. É um discaço, mesmo gravado em clima de recreio com os amigos.

NO NAME

– Avaliação Ótimo

– Onde Disponível nas plataformas digitais

– Autoria Jack White

– Gravadora Third Man Records

THALES MENEZES / Folhapress

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