SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando lançou seu álbum solo de estreia, “In Colour”, em 2015, Jamie xx era um jovem adulto com saudades de casa. Viajando o mundo pelo sucesso de sua banda The xx, que explodiu quando ele tinha 19 anos, o britânico fazia música eletrônica introvertida e sutil, calcada nos sons de sua cidade natal, Londres.
A sequência desse primeiro trabalho chegou apenas nove anos depois, na forma do disco “In Waves”, lançado em setembro. Ao contrário de seu predecessor, o álbum é muito mais virado para fora do que para dentro, tendo a pista de dança como seu cenário principal. Com esse espírito expansivo, Jamie xx chega ao Brasil nesta semana, para se apresentar em São Paulo e Curitiba a convite do selo Gop Tun.
Quando se juntou a Oliver Sim e Romy Madley Croft, seus amigos de infância, para fazer o papel de produtor no The xx, a principal influência do artista eram os sons eletrônicos que faziam a cabeça dos jovens no Reino Unido durante os anos 2000, como o jungle, o drum and bass e o dubstep. No processo de concepção de “In Colour”, a influência de seu país natal continuou soberana.
“Foi o tipo de coisa que estava se popularizando quando comecei a ter idade para ir em festas. Eu era obcecado com esse tipo de som”, diz Jamie, por telefone. “O ‘In Colour’ foi muito influenciado por estar sempre em turnê e querer estar em casa, sentir falta do Reino Unido.”
Entre um disco e outro, Jamie se tornou um dos produtores mais requisitados da música, tanto em esferas alternativas quando nas mais pops. Produziu faixas e remixes para artistas como Radiohead, Drake e Tyler, the Creator, além de ter trabalhado em mais um álbum do The xx ”I See You”, de 2017 e produzir o disco de estreia solo de Sim ”Hideous Bastard”, lançado há dois anos.
As ideias para um novo disco solo, porém, continuaram infrutíferas. “Estava sempre fazendo música porque é parte da minha vida, é o que me faz feliz. Mas não tinha nada que parecesse merecer ver a luz do dia”, diz o britânico. A inspiração só chegou quando o produtor teve uma chance de diminuir o ritmo, durante o distanciamento social imposto pela pandemia.
Jamie diz que sempre se interessa pelo que artistas novos estão fazendo na música eletrônica e que seu estilo de produção mudou ao longo desses nove anos. “Ao mesmo tempo, acho que uma das coisas que me fez conseguir terminar esse disco foi voltar a como eu produzia quando era adolescente, sampleando sons antigos.”
Em “In Waves”, os samples vão de cantores de soul e funk, como a vocalista americana Almeta Lattimore, a grupos do rock psicodélico britânico, como The Moody Blues. Na faixa “Dafodil”, o som mais proeminente é um trecho da brasileira Astrud Gilberto cantando em sua faixa “Touching You”, do álbum “Now”, lançado em 1972.
Jamie esteve no Brasil outras vezes. No ano passado, ele tocou no Lollapalooza e surfou no Rio de Janeiro. Com o The xx, ele tocou em São Paulo e no Rio outras duas vezes. Apesar do encanto pelos discos de jazz e MPB brasileiros, já queridinhos do público gringo, ele também diz ter ficado impressionado com os novos sons que ouviu no país.
“Até o que você ouve no rádio é incrível. Tudo soa tão fresco, tão minimalista”, diz o produtor, que incorporou as batidas do baile funk nos seus sets em sua última passagem pelo país, em que também tocou na Gop Tun os ingressos para vê-lo em São Paulo esgotaram em meia hora.
Num ano agitado para a cultura “clubber” britânica, que virou o centro das atenções no pop deste ano graças ao lançamento de “Brat”, da cantora Charli XCX, e o disco de estreia da produtora Peggy Gou, “In Waves”, Jamie xx se solidificou como um personagem importante dessa cena.
Mas os fãs fiéis ainda aguardam uma volta do The xx após sete anos do lançamento de seu último álbum. Jamie diz que um novo trabalho está nos planos, mas será um processo lento. “Às vezes parece que somos adolescentes de novo, mas ao mesmo tempo somos adultos ocupados, cada um com a sua agenda”, afirma. “É difícil alinhar nossas vibes novamente.”
AMANDA CAVALCANTI / Folhapress