SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foi sob uma chuva incessante que Jão subiu na noite deste sábado (20) ao palco do Allianz Parque, em São Paulo, para abrir sua “Super Turnê”, a primeira realizada em arenas, programada para percorrer o país com 15 apresentações até o fim de maio.
Foi o maior marco na carreira do cantor –curta, com pouco mais de cinco anos desde o lançamento de seu primeiro álbum, mas potente. Lotar um estádio com 45 mil pessoas não é tarefa fácil, afinal. O espaço normalmente é reservado para apresentações internacionais e só costuma receber brasileiros com carreiras mais longevas, como os Titãs e os Amigos, para citar dois exemplos que se apresentaram no mês passado.
Para isso, o cantor, de 29 anos, recorreu a uma estrutura superlativa, com produção da 30e, a mesma empresa por trás da turnê dos Titãs. Assim, Jão ultrapassou com facilidade as apresentações recentes em arenas de brasileiros mais experientes e disputou de igual para igual com nomes como Taylor Swift.
O show da cantora, aliás, parece ter sido uma inspiração. Assim como Swift, Jão investiu em quatro telões enormes, dois deles com altura de 30 metros, construiu um palco que atravessava o estádio quase que de uma ponta à outra e vestiu os fãs de pulseirinhas de LED que piscam de forma sincronizada.
Também como ela, o cantor atravessou todas as fases de sua carreira, cada uma dedicada a um de seus quatro álbuns –“Lobos”, com hits como “A Rua”; “Anti-Herói”, do sucesso “Essa Eu Fiz para o Nosso Amor”; “Pirata”, da faixa “Meninos e Meninas”, em que ele exalta sua bissexualidade; e “Gameboy”, de “Pirata”, seu lançamento mais recente.
Diferentemente da americana, o brasileiro mesclou canções de todos os álbuns nos mesmos sets. A estratégia parecia necessária. Poderia parecer anticlimático, por exemplo, se Jão tocasse de uma só vez várias faixas de “Anti-Herói”.
Marcado por uma melancolia excessiva e todo conduzido no piano, o disco combina pouco com um show de arena e com a nova fase do cantor, que se distanciou da sofrência para ressurgir mais sexy e confiante ao lançar seu último álbum.
A ideia era agrupar as faixas que pudessem representar um mesmo elemento –terra, ar, água e fogo–, mas em algumas ocasiões as divisões, borradas, acabavam se perdendo, deixando a impressão de que um set às vezes só terminava para que o cantor pudesse trocar de roupa.
A sensação acabou reforçada porque as transições, talvez por conta da chuva, não foram tão ágeis como deveriam, com as luzes apagadas e sem um clipe nos telões ou qualquer outra distração que pudesse entreter o público enquanto ele se preparava para retornar ao palco.
Prova disso foi que, em uma das ocasiões em que o cantor saiu de cena e deixou seus saxofonistas conduzindo um show à parte, a transição pareceu menos demorada e deu força ao início do próximo set. Talento, aliás, não falta à banda que o acompanha, com destaque para as backing vocals, as irmãs Francine Môh e Marta Souza, suas escudeiras de anos.
Com cabos de aço expostos acima da plateia, havia a expectativa de que ele cruzasse o Allianz Parque montado num dragão, mas talvez também por causa da chuva a apresentação não se concretizou. Ele volta ao estádio neste domingo (21), o que pode representar uma outra oportunidade para o voo.
Na maior parte do show, que teve cerca de duas horas de duração, Jão soube aproveitar os novos elementos que tinha à disposição. Se antes ele se apresentava na Audio, casa de shows da capital paulista para 4.000 pessoas, ou no Espaço Unimed, para 8.000, agora há espaço para muito mais.
O destaque foi para a apresentação de “Sinas”, em que Jão foi puxado para o topo do estádio numa corda, com o corpo curvado para baixo, reproduzindo a queda que estampa a capa do álbum “Anti-Herói”, e para os dois telões fronteais que se transformam num imenso arranha-céu, em que ele senta para cantar “A Última Noite”.
Apesar de algumas arestas, que podem ser aparadas nas próximas apresentações, Jão conseguiu mostrar a que veio, numa apresentação teatral, como tem se convencionado na música pop, mas com abertura para improviso e muito rebolado.
PEDRO MARTINS / Folhapress