SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – França e Itália são países comumente associados à moda mais sofisticada, mas o Japão também está na lista para quem se interessa por vestuário. Afinal, vem do arquipélago alguns dos estilistas centrais da contemporaneidade, como Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Chitose Abe.
Os três designers e outros tantos nomes nipônicos têm algumas de suas criações expostas agora na Japan House, em São Paulo, na mostra “Efeito Japão: Moda em 15 Atos”. Trata-se de um conjunto enxuto mas eficiente em resumir o design de vestuário do país, da década de 1950 até hoje, ao exibir peças que de outra maneira só chegariam por aqui na mala dos fashionistas.
Uma das características dos estilistas japoneses é a desconstrução das formas do corpo, com um vestuário de formas maiores ou geométricas que não necessariamente segue a silhueta, afirma Natasha Geenen, a diretora cultural da Japan House. “O corpo acaba sendo só um portador da roupa”, ela diz.
Isto fica claro num modelito cor verde militar todo em lã desenhado por Yohji Yamamoto para a coleção de inverno de 1983 e 1984. Drapeados em camadas enrolam o corpo, e as peças de cima e de baixo se confundem umas com as outras, com formas exageradas e aparente sobra de tecido, num dos looks mais bonitos da mostra.
No final daquela década, o país passou a viver uma bolha econômica, e em decorrência da prosperidade a tendência eram roupas com “design exuberante, que mostrassem luxo”, diz o diretor de moda Souta Yamaguchi, o organizador da exposição. Ele acrescenta que um dos objetivos, com a seleção dos modelitos à mostra, é evidenciar como as mudanças na sociedade se refletiram no design de vestuário.
Yamaguchi exemplifica apontando para um vestido combinado com um blusão, ambos da marca Pink House, na cor rosa claro e com apliques de flores. O traje é largo, não apertado no corpo e “fofo, pensando nos personagens que os japoneses criam, que também são muito fofos, puxando para o lado pop”, ele afirma.
Outra peça de destaque é um conjunto de calça jeans rasgada e jaqueta de couro da Undercover, a mais conhecida marca de streetwear japonesa, que causa sensação desde a década de 1990 e aparece nas ruas das principais metrópoles. A etiqueta de Jun Takahashi fez até uma parceria com a Melissa, no ano passado, que resultou no lançamento de um coturno de plástico com detalhes de espinhos.
Num dos textos na parede do espaço expositivo, somos informados que a Undercover desfila na Semana de Moda de Paris desde 2003, o que ilustra a presença internacional da moda japonesa afinal, ela só virou objeto de desejo por circular nas capitais da moda, onde também algumas marcas abriram lojas.
Em fotos e explicações curtas posicionadas ao redor dos manequins, a mostra deixa claro como os estilistas do país souberam se articular internacionalmente, se descolando da imagem de que o traje do Japão é o quimono ou o quimono desconstruído. Por exemplo, a designer Kansai Yamamoto, que tem um macacão exposto, criou figurinos de palco para David Bowie na turnê do disco “Ziggy Stardust”.
Se na cabeça de muitos a moda feita na terra do sol nascente desperta as palavras minimalismo e formas orgânicas, a riqueza do design local é tanta que talvez isso não faça mais sentido. De acordo com o organizador da exposição, “existe um entendimento prévio de que a moda hoje é muito diversificada, então não existem mais aqueles traços que caracterizam exatamente o que é o Japão”.
EFEITO JAPÃO: MODA EM 15 ATOS
– Quando Até 1º de setembro. Visitação de terça a sexta, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h.
– Onde Japan House – av. Paulista, 52, São Paulo
– Preço Grátis
JOÃO PERASSOLO / Folhapress