SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A curta carreira de Dener foi suficiente para encantar os brasileiros. Dribles desconcertantes, habilidade, arrancadas em direção ao gol e um jeito irreverente de jogar futebol que divertia quem estivesse no estádio ou assistindo pela TV.
Há 30 anos, o Brasil se despedida de um dos seus maiores talentos comparado até nesta sexta-feira (19) com Neymar e Ronaldinho Gaúcho.
O FURACÃO DENER
Dener era sinônimo de drible. A velocidade aliada à habilidade tornava o garoto franzino num pesadelo para os defensores. Nas arrancadas, o meia enfileirava rivais até chegar à área adversária. Pará-lo, portanto, era uma tarefa ingrata. Não é difícil encontrar vídeos nas redes sociais com lances do ex-jogador com essa descrição.
A estreia nos profissionais aconteceu aos 18 anos, em 1989, pela Portuguesa. Dois anos mais tarde, Dener seria o principal nome da Lusa na conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Na sequência da carreira ainda vestiu as cores de Grêmio (1993) e Vasco (1994).
O talento de Dener ficou eternizado em golaços no Canindé. Em 1991, contra a Inter de Limeira, o camisa 10 arrancou de antes do meio-campo, driblou seus marcadores e tocou na saída do goleiro. A outra obra-prima foi assinada contra o Santos, em 1993. Nova arrancada, caneta, rivais pelo caminho, drible no goleiro e um carrinho para empurrar a bola para a rede.
‘Queria ver de perto’. O talento e habilidade impactaram Zé Roberto. O convívio acontecia quando o ex-jogador ainda estava na base da Portuguesa. “Eu lembro que eu faltava na escola para ver ele jogar. Eu brigava com meus companheiros para ser gandula do jogo, só para ver de perto. Ele era diferenciado por sua técnica refinada, velocidade e capacidade de driblar os adversários com muita facilidade.”
Dener somou apenas dois jogos com a camisa da seleção brasileira (principal) e não teve tempo de concretizar sua a ida ao futebol europeu. “O Dener era do nível de Ronaldinho, Neymar. Tinha um futuro extraordinário pela frente. Foi um jogador fantástico”, afirmou Pepe, ex-jogador e ex-treinador de Dener na Lusa nos anos 1990.
Para Zé Roberto, Dener tinha o encantamento da dupla. “Ele fazia as mesmas magias que eles (Ronaldinho Gaúcho e Neymar) em campo contra os seus adversários. Dribles e lindos gols. Ele já tinha negociação com o Stuttgart, da Alemanha. E, na naquela época, poucos jogadores saiam para jogar na Europa. Só quem era craque.”
A primeira vez com a camisa da Seleção. A convocação veio para um amistoso contra a Argentina, em março de 1991. Paulo Roberto Falcão explica o que determinou a entrada do jovem na lista. “Era um momento de observar novos jogadores. Cafu, Leonardo, Mauro Silva. E o Dener me impressionou muito pela forma como ele conduzia a bola em velocidade, sem deixá-la escapar, um controle de bola incrível.”
Dener entrou em campo no segundo tempo do empate em 3 a 3 contra os atuais campeões mundiais. Os gols brasileiros foram marcados por Renato Gaúcho, Luís Henrique e Careca, o último com Dener iniciando a construção da jogada. “Tinha muita habilidade. Ele tinha muito potencial e, certamente, seria um dos jogadores tops daquela geração”, completou Falcão.
Maradona reconheceu o talento. Em janeiro de 1994, Dener desfilou o seu repertório de dribles num amistoso entre Vasco e Newell’s Old Boys, em Rosário. O detalhe curioso: o encontro marcava a volta do “El Pibe” ao futebol do seu país. Um dos lances marcantes tem Dener enfileirando adversários até ser parado pelo goleiro. Ele fazia sua estreia pelo clube carioca e acabou sendo reverenciado pelo ídolo argentino e torcedores locais.
Exageros além do campo. Se sobrava talento para driblar os defensores, Dener preocupava quando estava distante dos gramados. “Infelizmente as companhias, amigos e situações criadas por ele na Portuguesa o prejudicaram e atrapalharam a prosperar. Se nós falarmos só do futebol, ele era do primeiro escalão”, disse Emerson Leão, que comandou o craque no Canindé.
Acidente trágico. Dener morreu no dia 19 de abril de 1994. Aos 23 anos, ele foi vítima em um acidente de carro, na Lagoa Rodrigues de Freitas, na zona sul do Rio. A perícia, à época, apontou que o jogador do Vasco morreu asfixiado pelo cinto de segurança. Dener dormia no banco do carona no momento do choque do veículo contra uma árvore. Oto Gomes, que dirigia naquela madrugada, disse que dormiu ao volante.
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DENER AUGUSTO DE SOUZA – 02/04/1971 – 19/04/1994
Portuguesa – Título: Copa São Paulo de Futebol Júnior (1991)
Grêmio – Título: Campeonato Gaúcho (1993)
Vasco – Título: Taça Guanabara (1994)
Seleção Brasileira – 2 jogos (principal)
AIGOR OJÊDA / Folhapress