RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – O prefeito do Recife, João Campos (PSB), exonerou, na noite desta quarta-feira (5), dois secretários cotados para ocupar a vaga de vice da chapa na tentativa de reeleição em outubro.
Com a medida, Campos afunila o processo de escolha do nome para a vice e reduz as chances do PT de ocupar a vaga. Em abril, quatro secretários haviam se aliado a partidos da base do prefeito. Nesta quinta-feira (6) se encerra o prazo para a desincompatibilização dos cargos previsto na legislação eleitoral.
Victor Marques (PC do B), favorito para a vice, deixou a chefia de gabinete do prefeito, cargo que tem status de secretário no município. A outra exonerada foi a secretária de Infraestrutura, Marília Dantas (MDB).
Marques tem perfil mais político, embora não tenha disputado mandatos. Ele é considerado o braço direito de Campos na prefeitura. Também é amigo do prefeito há anos e de extrema confiança dele. Ambos são engenheiros. O PC do B, partido ao qual Victor agora é filiado, foi vice de Geraldo Julio (PSB) na prefeitura de 2013 a 2020 e de Paulo Câmara (PSB) no governo de 2015 a 2022.
Marília Dantas comanda uma pasta com Orçamento de R$ 1 bilhão por ano e as obras com mais impacto na cidade, como encostas em morros, pontes e calçamento de ruas. Ela acumulava a função de secretária com o comando da Emlurb, estatal que cuida da limpeza urbana da cidade, função que também exerceu na gestão de Geraldo Julio. A presidência da empresa pública é um dos postos mais cobiçados pelos partidos políticos.
Ao articular a filiação de secretários a partidos da base governista em abril, Campos buscou fazer um contraponto ao PT, que continua com o pleito de indicar um nome para a vaga.
O prefeito não quer ceder a vaga a um nome petista, já que há possibilidade de ser candidato a governador nas eleições de 2026 em Pernambuco contra a governadora Raquel Lyra (PSDB). Nesse cenário, Campos quer deixar um nome da sua confiança no comando da capital pernambucana.
Nos bastidores, partidos aliados, com exceção do PT, não acreditam que a vice ficará com um nome petista. A esperança dos petistas é uma eventual atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com os senadores pernambucanos Humberto Costa e Teresa Leitão, ambos do PT, na terça (4), no Palácio do Planalto.
De acordo com interlocutores de Humberto e Teresa, a reunião teve discussões sobre o cenário político e eleitoral no Recife. Os dois parlamentares reforçaram a vontade do PT do Recife de ter a vice de João Campos. O presidente da República deverá ter uma conversa definitiva com o prefeito do Recife ainda no mês de junho.
O PT do Recife avalia que o PSB precisa fazer um gesto para o partido, já que os petistas abriram mão de candidaturas aos governos estaduais em 2018 e 2022 em prol de nomes do PSB.
Já na legenda pessebista, a avaliação é que, se ficar com o PT a vice – ainda que o PSB não acredite nisso – João Campos não será candidato a governador em 2026, para não entregar o poder na capital aos petistas. O PSB acredita que, se fizesse isso, o PT faria corpo mole na campanha eleitoral de 2026, podendo trabalhar pela derrota de João Campos para Raquel Lyra.
Ainda no páreo, o PT até agora o partido que mais se mostra interessado em ocupar a vice tem dois nomes como pré-candidatos à vaga: o assessor do Ministério das Relações Institucionais, Mozart Sales, e o deputado federal Carlos Veras (PE).
Mozart tem apoio da maioria no diretório municipal do partido no Recife, do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e da senadora Teresa Leitão (PT-PE), enquanto Veras é aliado do senador Humberto Costa (PT-PE).
Os petistas de Pernambuco dizem que o presidente Lula (PT) poderá ser decisivo na tentativa de convencer João Campos a colocar um integrante do PT como vice.
O entorno do prefeito diz que, se Lula insistir, o chefe do Executivo municipal jamais diria não ao presidente, mas há dúvidas tanto no PT quanto no PSB se Lula estaria disposto a se mostrar irredutível no assunto.
Um fator que atrapalha o PT, reconhecido no próprio partido, é a divisão. Vendo o cenário ficar mais difícil, petistas intensificaram nos últimos dias conversas para tentar chegar a um nome de consenso.
Para a disputa da reeleição, João Campos tem apoios garantidos, além do PSB, de MDB, Republicanos, federação PT/PV/PC do B, Avante, Solidariedade e recentemente firmou aliança com a União Brasil, em troca de votos do PSB para a candidatura do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) à presidência da Câmara dos Deputados. O prefeito ainda tenta obter o apoio do PDT.
Nesta quinta (6), a governadora Raquel Lyra exonerou o ex-deputado federal Daniel Coelho (PSD) do cargo de secretário de Turismo de Pernambuco. Ele será adversário de João Campos na disputa do Recife com apoio da chefe do Executivo estadual. Recém-filiado ao PSD, Daniel terá o apoio de Podemos, PP e da federação PSDB/Cidadania.
O campo bolsonarista terá como candidato o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto.
O deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) e a deputada estadual Dani Portela (PSOL) disputam a candidatura na federação entre os dois partidos. Dani tem a maioria no diretório em Pernambuco, mas Túlio articula para obter aval da direção nacional da federação para ser candidato. Caso se viabilize, o parlamentar deverá ter apoio do PDT.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress