RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – João Campos (PSB) foi reeleito prefeito do Recife neste domingo (2) em primeiro turno.
Com 74,74% das seções totalizadas, o filho do ex-governador Eduardo Campos obteve 77,41% dos votos, ante 14,15% do Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro.
O resultado deu ao PSB o quarto mandato seguido no comando do Recife, um recorde na redemocratização. Antes de João, o partido governou o Recife entre 2013 e 2020 com Geraldo Julio. Até então, a legenda que mais tinha governado a cidade era o Recife, com três triunfos, de 2001 a 2012.
João Campos liderou a corrida eleitoral desde o começo, segundo as pesquisas de intenção de voto. A situação confortável nas Eleições 2024 foi diferente da sua primeira vitória, em 2020, quando conseguiu vencer apenas no segundo turno contra Marília Arraes, sua prima de segundo grau e à época adversária pelo PT. Atualmente, os dois são aliados.
O prefeito reeleito é cotado como possível candidato a governador de Pernambuco nas eleições de 2026. A ampla margem de votos era um desejo do entorno de João Campos, para mostrar força política ao grupo da governadora Raquel Lyra (PSDB).
O vice-prefeito eleito é Victor Marques (PC do B). A escolha pelo ex-chefe de gabinete e amigo pessoal foi bancada pelo prefeito, que queria um nome de confiança para a sua sucessão, em razão da possibilidade de deixar o cargo em abril de 2026 para disputar o governo. O PT, que pleiteou a vaga, foi preterido.
Além da logística de vacinação contra a Covid no começo do governo, João Campos teve, entre as prioridades do seu primeiro mandato, a ampliação do número de vagas de creches do Recife, ações de contenção de encostas em morros, asfaltamento de ruas na periferia, construção de parques e investimento em eventos, como Carnaval e Réveillon.
Os percalços enfrentados, como os deslizamentos de terra que deixaram mortos e feridos em maio de 2022 na região metropolitana e falhas na saúde, não foram impeditivos para a votação elástica. A falta de alvarás para creches foi explorada pela oposição apenas na campanha eleitoral.
Um dos fatores apontados para a vitória expressiva é a própria oposição. Nos bastidores, oposicionistas e o próprio entorno de João Campos dizem que a atuação dos adversários foi frágil no período, com contrapontos de pouco efeito diante da gestão municipal.
Associado a isso, o governo de Raquel Lyra (PSDB), adversária de João Campos, tem reprovação elevada no Recife, conforme mostraram as pesquisas de intenção de voto em 2024.
No campo político, João Campos iniciou o mandato com a promessa de que o PT não faria indicações políticas para o seu governo, o que foi descumprido posteriormente.
O distanciamento com os petistas se refletiu em manifestações no começo do mandato. Em março de 2021, quando Lula retomou os direitos políticos após decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), João Campos defendeu que todo cidadão tinha o direito de ser julgado de forma justa e com imparcialidade, mas não citou o nome de Lula no texto.
No mesmo ano, com Lula avançando na intenção da candidatura presidencial, os dois se encontraram, em um início de uma aproximação política que culminou com a aliança entre PT e PSB em 2022. João Campos foi um dos nomes que deram aval para a ida de Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente, para o PSB.
Em 2022, o prefeito não atuou de forma decisiva, segundo avaliações internas no PSB, na eleição em Pernambuco, quando o partido saiu derrotado após 16 anos no poder. Com a legenda fora do governo estadual, João Campos também deixou de ser associado à rejeição ao partido.
De olho na reeleição, o prefeito entregou duas secretarias municipais ao PT em 2023. O movimento atraiu a sigla, que não lançou candidato a prefeito do Recife em 2024 pela primeira vez desde a sua fundação.
Em paralelo, João Campos articulou a filiação do vice eleito Victor Marques ao PC do B, que tem uma federação com o PT, a fim de amarrar a sigla petista ao seu palanque.
O prefeito reeleito também implantou um estilo político mais agregador, em um contraponto ao antecessor Geraldo Julio, que costumava ir mais para embates com a oposição.
Na forma de se comunicar, João Campos apostou sobretudo nas redes sociais. Apenas no Instagram, tem mais de 2 milhões de seguidores. A abordagem com o público se concentra em vídeos didáticos sobre ações da gestão e descontração, como no Carnaval, quando o prefeito descoloriu o cabelo atendendo a apelos populares.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress