JOÃO PESSOA, PB (FOLHAPRESS) – O segundo turno da eleição municipal em João Pessoa tem entre suas principais pautas uma operação da PF que atingiu o candidato à reeleição, Cícero Lucena (PP), e a resposta à pandemia durante o governo Jair Bolsonaro, que teve entre seus ministros da Saúde o hoje candidato Marcelo Queiroga, do PL.
Queiroga tenta desbancar o favoritismo do prefeito, que ficou próximo da vitória no último dia 6, quando obteve 49,2% dos votos na capital da Paraíba.
O ex-ministro da Saúde, por sua vez, alcançou 21,8% na votação e superou o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) e o deputado estadual e ex-prefeito Luciano Cartaxo (PT) para chegar ao segundo turno.
Médico cardiologista, Queiroga disputa aos 58 anos uma eleição pela primeira vez.
Sua principal aposta agora, na busca por uma difícil virada, é a nacionalização do debate. Na quinta-feira (17), o ex-ministro recebeu visita do ex-presidente Bolsonaro, que participou de carreata pela cidade.
Logo após o fim da apuração do primeiro turno, o candidato do PL já tinha dado sinais de que radicalizaria o discurso ao chamar Cícero de “satanás”.
O prefeito, que conta com o apoio do governador João Azevêdo (PSB), tenta se desvencilhar do debate ideológico, mesmo com o apoio formal do PT. Isso porque o candidato petista no primeiro turno, Luciano Cartaxo, declarou neutralidade.
Além dele, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) também decidiu não manifestar apoio nem a Cícero nem a Queiroga.
De uma safra mais tradicional da política, o atual prefeito já foi senador e governador. Fez sua carreira política no PSDB, onde foi opositor aos governos do PT no Senado de 2007 a 2015.
Para chegar ao seu quarto mandato de prefeito, Cícero enfrenta, além de Queiroga, a Operação Território Livre, da Polícia Federal, que investiga o envolvimento de facções criminosas na eleição da capital paraibana e o aliciamento violento de eleitores.
A primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, foi presa em 28 de setembro, a uma semana do primeiro turno.
No dia 1º, a Justiça Eleitoral na Paraíba revogou a prisão, afirmando que ela não tem condenações criminais na Justiça, possui residência fixa e ocupação lícita e constituiu advogado. Cícero tratou a prisão da esposa como política.
As investigações indicam a existência de um suposto esquema criminoso em que integrantes da prefeitura viabilizavam a nomeação de servidores comissionados indicados por membros de facções. Em contrapartida, o grupo do prefeito receberia o apoio político e controle de territórios nas eleições.
No contra-ataque a Queiroga, que explora a operação policial, Cícero ataca a atuação do ex-ministro durante a pandemia da Covid, classificando-o como “pior ministro da Saúde da história”.
O candidato à reeleição faz menção, por exemplo, ao contrato do governo Bolsonaro para a compra da vacina indiana Covaxin com superfaturamento, e à falta de investimentos da gestão de Queiroga em João Pessoa.
O terceiro colocado no primeiro turno, Ruy Carneiro, declarou apoio ao ex-ministro da Saúde. Durante a campanha, Carneiro fez duras críticas ao prefeito, de quem já foi aliado no passado, o que inviabilizou uma reaproximação.
“O claro envolvimento da atual administração com o crime organizado, conforme tem revelado as investigações da Polícia Federal, exige a união de forças em defesa da nossa cidade”, disse, ao anunciar o apoio a Queiroga.
O PT declarou apoio ao prefeito. A justificativa é de que, do outro lado, o candidato do PL representa o avanço do bolsonarismo na capital paraibana. Porém, há um racha interno, já que Luciano Cartaxo, a sua vice Amanda Rodrigues e o marido dela, o ex-governador Ricardo Coutinho, se declararam neutros na disputa.
O partido elegeu apenas um vereador em João Pessoa, em um desempenho ruim.
A pré-campanha do PT já havia sido tumultuada, com a disputa interna entre Cartaxo e a deputada estadual Cida Ramos para saber quem seria o candidato do partido à prefeitura.
Além das alas de cada um deles, o presidente estadual do partido, Jackson Macêdo, defendia apoio a Cícero já no primeiro turno. No fim, prevaleceu a influência de Ricardo Coutinho sobre a executiva nacional, que optou pelo nome de Luciano.
Dividido na Paraíba, o PT elegeu apenas um prefeito no estado.
MAURÍLIO JÚNIOR / Folhapress