Jogadoras do River Plate presas por injúria racial são encaminhadas a presídio da capital

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As quatro jogadoras do River Plate detidas em flagrante sob suspeita de injúria racial durante a partida contra o Grêmio, em São Paulo, foram encaminhadas à penitenciária da capital localizada no bairro do Carandiru, após a Justiça converter a prisão delas em preventiva neste sábado (21).

Candela Díaz, Camila Duarte, Juana Cangaro e Milagros Díaz agora aguardam o resultado de um pedido de habeas corpus encaminhado pela advogada Thais Sankari, que as representa, para que elas respondam em liberdade.

Procurada pela Folha, Sankari disse que não vai se manifestar a pedido do clube argentino.

As atletas foram presas após a partida entre River e Grêmio, pela semifinal do torneio Brasil Ladies Cup, que foi disputada no estádio do Canindé, na capital paulista. O jogo foi interrompido ainda no primeiro tempo, depois do empate da equipe gaúcha aos 38 minutos.

Nas imagens da transmissão de TV, é possível ver a meio-campista do time portenho Candela Díaz imitando um macaco em direção a um dos gandulas da partida. Na sequência, um grupo de jogadoras do River parte para cima dele.

Instaura-se então uma confusão generalizada com jogadoras dos dois times, comissões técnicas e seguranças do estádio. O jogo ficou paralisado por 30 minutos e as atletas do Grêmio deixaram o campo.

A semifinal foi dada como encerrada depois que o árbitro Marcio Mattos dos Santos expulsou seis atletas da equipe argentina —as quatro que foram presas, a goleira Lara Esponda e a meia Julieta Romero, autora do primeiro gol da partida—, que ficou sem o número mínimo de atletas para continuar jogando. Com isso, o time gaúcho avançou à final, em que enfrentará o Bahia, neste domingo.

“Situações como essa não podem continuar acontecendo. Até quando a gente vai ficar fingindo que não tem racismo, que não tem machismo?”, disse Thaissan Passos, técnica das Gurias Gremistas —como é conhecido o time feminino do Grêmio— em entrevista ao SporTV depois do episódio.

“Espero que no próximo momento a gente venha falar sobre futebol, sobre tática, sobre resultado. E não o que aconteceu hoje. É uma vergonha e isso acaba manchando a competição e a grandeza que é o desenvolvimento do futebol feminino e o momento que estamos vivendo”

Segundo o próprio relato de Thaissan e uma nota de repúdio veiculada pelo Grêmio na sexta-feira, as atletas também foram alvo de insultos racistas ao defenderem o gandula. O clube lamentou o episódio e informou o registro de um boletim de ocorrência. “Faremos todo o possível para que o caso resulte em punição para as responsáveis”, diz trecho do texto.

Pelas redes sociais do time feminino, o River também se pronunciou, manifestando seu “mais absoluto repúdio diante dos gestos discriminatórios que ocorreram no encontro com o Grêmio pela Brasil Ladies Cup 2024”. Disse estar tomando as “devidas medidas disciplinares” e que seguirá trabalhando para eliminar esse tipo de comportamento.

A equipe acabou expulsa da competição, o que acarreta em uma suspensão pelos próximos dois anos conforme regulamento.

“Reiteramos o respeito pelo River Plate-ARG, instituição que participou das edições de 2021 e 2024, mas cabe ressaltar que além do aspecto desportivo, a Ladies Cup valoriza também o viés educativo e social presente nas ações complementares ao evento. Não iremos jamais compactuar com este tipo de episódio dentro do campeonato”, afirma a nota.

A organização informou ainda que implantou uma nova diretriz ao regulamento que prevê o “o banimento sumário de qualquer clube ou seleção participante, cujos atletas e dirigentes executem gestos racistas no campo de jogo”.

BEATRIZ GATTI / Folhapress

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