SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Manuela Blatt, 18, é uma jovem brasileira que está no último ano do ensino médio nos Estados Unidos. Após ir morar em Miami, na Flórida, em 2022, decidiu criar um projeto de ensino de inglês gratuito, chamado ‘Brazil with an S’. Hoje, a iniciativa tem mais de 70 professores voluntários, a maioria deles também jovens, 165 alunos e por volta de 160 na fila de espera.
“Senti a necessidade de melhorar a minha conexão com o Brasil quando mudei de país. Em uma conversa com a minha família, comecei a refletir sobre a experiência de morar fora e como muitos não têm essa oportunidade por falta de condições às vezes, até pela barreira do idioma”, diz Blatt.
Em 2023, o Brasil ocupou a 70ª posição de 113 países no Índice de Proficiência em Inglês, relatório feito pela EF (Education First), empresa especializada em intercâmbio cultural e viagens educacionais para o exterior. O estudo analisa como o idioma está se desenvolvendo em países em que ele não é nativo.
O Brazil with an S tenta fazer sua parte para alterar esse quadro, segundo Blatt. De formato remoto, o projeto é focado em crianças e jovens de 6 a 18 anos que fazem parte da rede pública brasileira. Os professores são alunos de escolas particulares e bilíngues do Brasil ou de colégios em países do exterior.
Os interessados em participar do Brazil with an S, como aluno ou professor, precisam acessar o site do projeto e se cadastrar. Será necessário informar nome, data de nascimento, email, telefone, cidade, país e nível de inglês para ensinar, é necessário ter nível avançado.
De início, o projeto surgiu com a participação de pessoas do convívio da fundadora. “Compartilhei com amigos da escola, que falam inglês, e com amigas do Brasil que estavam interessadas.”
Com o tempo, o projeto começou a receber o contato de mais pessoas interessadas em ajudar. “Não há uma restrição a São Paulo, Rio de Janeiro ou Miami, onde moro”, diz Blatt. “Temos professores de Portugal, Singapura e outros estados dos EUA e Brasil.”
Ela também fez contato com a diretora da Escola Municipal Celestino da Silva, localizada no centro do Rio de Janeiro, para divulgar o projeto entre os alunos da instituição.
Gabriela da Silva Rego, diretora da escola, afirma que conheceu o Brazil with an S através da sua antecessora no cargo. “Divulguei nas reuniões de pais do começo deste ano. Tivemos algumas adesões e percebemos que os alunos que têm aula no projeto tiveram um rendimento melhor no Ibeu, curso de inglês com convênio com a prefeitura”, diz.
Para a diretora, a escola deve incentivar atividades complementares sempre que possível, e o projeto tem sido um bom exemplo disso. “Há uma proximidade entre os jovens da escola e do Brazil with an S, até mesmo em relação à linguagem e idade. Eles passam a confiar que podem falar inglês e viajar para um outro país. A escola precisa incentivar a convivência e a troca, e ir além do básico”.
Em 2024, o Brazil with an S evoluiu, diz Blatt. “Aprendemos com a prática a organizar aulas e adaptar os conteúdos aos alunos. Os professores que já estão no projeto acolhem os que estão chegando. No começo, é normal eles se sentirem inseguros em falar em público e dar aulas.”
Em relação à dinâmica das aulas, o foco é compartilhar aquilo que se adapta à realidade dos alunos. Alguns dos professores também consideram as suas próprias experiências como estudantes nos EUA, para selecionar os conteúdos.
Segundo Blatt, também existe uma organização para que as turmas sejam de até quatro alunos, para permitir que eles sintam-se mais à vontade.
Como é um projeto voluntário, as aulas ocorrem após os horários letivos dos professores e também dos estudantes. Elas acontecem à noite durante a semana e aos fins de semana, a depender da disponibilidade.
Há um ponto de melhoria identificado por Blatt e pelas coordenadoras do projeto. Segundo ela, alguns dos alunos enfrentam instabilidades de conexão recorrentes para acessar as aulas. “Os alunos precisam pagar planos de celular para participar, e muitas vezes, notamos dificuldades”, diz.
Neste ano, o projeto começou a desenvolver a criação de um fundo para os alunos com dificuldades de acesso. Com os recursos, ela pretende oferecer ajuda aos alunos com problemas de acesso. Há, no site do projeto, um espaço para doações.
Para o futuro, Manuela Blatt diz que, além do inglês, deseja oferecer espanhol de forma gratuita. “Pretendo levar o projeto adiante, e acredito que muitos das pessoas que participam pensam o mesmo. Não é difícil doar 40 minutos de uma semana para ensinar ou aprender um idioma”, afirma.
MATHEUS DOS SANTOS / Folhapress