SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O adolescente Henrique Marques de Jesus, 16, morto esta semana em Jericoacora, teria feito, sem saber, um gesto com as mãos que seria símbolo de uma facção criminosa da região. Segundo Danilo Martins de Jesus, pai do jovem, esse foi o motivo do assassinato.
Danilo explicou que o filho posou para fotos e fez o número “três” com as mãos. No entanto, segundo o pai, o jovem não sabia que aquele mesmo gesto seria o símbolo de uma facção criminosa que atua no Ceará.
Pai afirma que o símbolo feito pelo filho “é normal” na cidade onde moram, Bertioga (SP). “O moleque tinha 16 anos. Deveriam ter orientado: ‘Aqui não pode fazer esse símbolo, é de outra facção’, falado isso para ele ou qualquer outra pessoa que não tem ciência. Não fazer uma crueldade dessas, achando que um moleque de 16 anos era envolvido com facção”, declarou à TV Verdes Mares.
Polícia não confirma que Henrique foi morto por fazer o símbolo na foto. O caso é investigado pela Polícia Civil do Ceará, mas até o momento ninguém foi preso.
O QUE O GESTO SIGNIFICA?
No mundo do crime, o gesto do número “três” com as mãos seria uma referência à facção criminosa Primeiro Comando da Capital. O grupo tem origem em São Paulo, mas com atuação nacional.
Gestos e símbolos são usados como forma de controle territorial e intimidação. Fazer a letra “V” com dois dedos, num símbolo de ‘paz e amor’ ou ‘vitória’, pode ser interpretado como apoio ao CV (Comando Vermelho). Já um gesto como roqueiro, por exemplo, levantando três dedos, pode ser visto como uma saudação para integrantes do BDM (Bonde do Maluco).
Guerra entre facções acende um alerta. Nesse cenário de disputa, fazer qualquer sinal pode resultar em violência letal, como ocorreu com Henrique e, mais recentemente, na Bahia.
Neste ano, ao menos seis pessoas foram assassinadas na Bahia após exibirem gestos associados a facções criminosas. Os gestos, frequentemente compartilhados nas redes sociais, são vistos por facções rivais como provocações diretas, levando a retaliações rápidas e brutais
A propagação de fotos com os gestos nas redes sociais aumenta o risco de retaliação, pois são um gatilho para a violência. “A pessoa pode não ter envolvimento, mas, ao postar um gesto ligado a uma facção, ela se coloca em grande risco”, disse o advogado e professor de Direito Penal, Armindo Madoz Robinson, em entrevista anterior ao UOL.
O uso de uma simbologia própria é parte da estrutura dessas facções. Rogério Neres, advogado criminal e professor de Direito Penal da Universidade Cruzeiro do Sul, esclarece que gestos, cortes de cabelo e tatuagens funcionam como códigos de comunicação entre membros. “Qualquer provocação pode ser mortal”, afirma Neres.
A Polícia Civil e o Ministério Público também monitoram gestos que possam sinalizar apologia ao crime. Neres adverte que, em alguns casos, fazer esses gestos nas redes pode resultar em investigações criminais. “A pessoa pode ser erroneamente vista como membro de uma facção e acabar sendo investigada”, completa.
Henrique Marques de Jesus desapareceu entre a madrugada de segunda (16) e terça-feira (17). O jovem viajava de férias com o pai. Segundo Danilo, os dois estavam na Vila de Jericoacoara, principal ponto turístico do Ceará, quando o filho disse que iria para o hotel descansar.
No percurso de volta para o hotel, Henrique teria sido sequestrado. “Quando eu voltei para o hotel não encontrei mais o meu filho. Passei a buscar em todos os lugares, refiz o percurso, e vi que tinham várias câmeras do comércio local que poderiam ter flagrado algo. Fui até um dos locais, e pedi as imagens. Agora é tarde, já encontraram ele morto”, disse o pai ao UOL.
Câmeras de segurança flagraram o momento em que o adolescente é carregado por pelo menos sete pessoas. Os suspeitos aparecem com a vítima entre as vielas estreitas da vila. Nas imagens, é possível ver a vítima aparentemente rendida. Imagens nas redes sociais foram publicadas para ajudar nas buscas do desaparecido.
Na tarde desta quarta, a polícia foi acionada por populares para identificar um corpo que apareceu boiando na lagoa do Paraíso, em Jijoca, a 18 km do local onde a vítima foi vista pela última vez. A família de Henrique foi acionada e fez o primeiro reconhecimento por meio de vídeos e fotos. Ao UOL, o pai do adolescente confirmou a informação.
“Sequestraram e mataram meu filho. Meu filho nunca teve envolvimento com nada de errado. Tinha sonhos como qualquer jovem de trabalhar e estudar. Estávamos aqui, eu e ele, passando dias de lazer pela primeira vez juntos. Agora, a mãe dele está desesperada em São Paulo, e eu aqui tendo que levar o corpo do meu filho”, disse Danilo Martins de Jesus, pai de Henrique.
Um inquérito policial foi aberto na delegacia municipal de Jijoca para investigar o caso como desaparecimento. A Secretaria da Segurança Pública informou que enviou equipes da Polícia Militar para a região e que imagens de câmeras de segurança auxiliam na investigação.
Redação / Folhapress