SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Entidades quilombolas do país cobram do Ministério Público e da Polícia Militar da Bahia esclarecimentos sobre o assassinato do jovem quilombola José William dos Santos Barros, 26, morto com um tiro nas costas no último domingo (27) na comunidade Alagadiço, em Juazeiro. O crime ocorreu dez dias após a morte de Bernadete Pacífico, liderança quilombola na Grande Salvador.
O caso aconteceu em uma estrada entre os povoados de Lagoa do Salitre e Rodeadouro. Segundo o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Juazeiro, moradores relataram que o jovem estava em pé em uma moto, na estrada em frente ao Alagadiço, com várias outras pessoas da comunidade, quando foi alvejado nas costas pela Polícia Militar, morrendo na hora.
Ainda de acordo com os moradores, o corpo sumiu durante uma hora, sem que fosse dada satisfação aos moradores, que o encontraram no Hospital Regional da Cidade.
Na noite de segunda-feira (28), após o velório e enterro de William -que reuniu cerca de 500 pessoas- lideranças da comunidade e representantes do Compir se reuniram virtualmente com a titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do estado, Angela Guimarães, além do secretário dos Direitos Humanos, Felipe Freitas, o subsecretário da SSP (Secretaria de Segurança Pública), Marcel Oliveira, e o corregedor-geral da pasta, Sérgio Mendes.
A comunidade do Alagadiço afirma estar apreensiva com os sinais de ameaças que estão ocorrendo no
local. Durante a manhã de segunda-feira (28), dia seguinte ao assassinato, os moradores relataram a presença de homens desconhecidos dos locais, que chegaram em um carro preto, perguntando nomes de lideranças do quilombo.
Dentre as reivindicações do grupo aos representantes do governo do estado estão ações de proteção a testemunhas que estão sendo intimidadas por policiais, acolhimento à família da vítima e rapidez nas investigações da Polícia Civil.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que a investigação do caso, ocorrido durante ação da PM da Bahia, é acompanhada pela corregedoria-geral da pasta.
Ainda conforme a SSP, policiais civis da 1ª Delegacia Territorial de Juazeiro iniciaram as apurações, e as armas envolvidas na ocorrência também passarão por perícia.
Entidades como a Educafro também se manifestaram contra os sucessivos episódios de violência por meio de uma carta aberta direcionada ao Governo Lula e ao PT nacional. Conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia é o estado com maior número absoluto de mortes violentas do Brasil desde 2019.
No comunicado, a organização cobrou diretamente um posicionamento do Ministério Público da Bahia, cujo estado vive grave momento da segurança pública.
“O Ministério Público da Bahia precisa responder à nação, explicando o porquê de sua omissão frente aos 11 quilombolas assassinados. E agora, com o assassinato deste décimo segundo -o jovem José William Santos Barros, de 26 anos […] como será a postura do Ministério Público? Vai, mais uma vez, mandar arquivar?”, questiona em trecho.
O comunicado expõe ainda a questão da impunidade nos casos de violência policial. “A polícia não pode continuar, impunemente, tendo o direito de prender, julgar, matar e ser premiada com o arquivamento solicitado pelo Ministério Público. Os brancos podem jogar bombas na polícia, na hora em que recebem voz de prisão e a polícia não os mata. E se fosse uma pessoa negra? Estaria ainda viva?”
O Compir se reuniu nesta quarta com o Ministério Público –procurada pela reportagem, a Promotoria não respondeu até a publicação. Pela manhã, o conselho também esteve na comunidade com advogada da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.
MARIANA BRASIL / Folhapress