Jovens são mais favoráveis à legalização do aborto do que da maconha para uso recreativo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os jovens brasileiros são mais favoráveis à legalização do aborto voluntário do que ao uso recreativo de maconha, segundo pesquisa do Sou_Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), da Unifesp.

O levantamento foi feito com o objetivo de entender as características, valores e opiniões dos jovens de 18 a 27 anos. Os dados mostram que 40,8% da população dessa faixa etária é a favor da legalização do aborto, enquanto apenas 33,3% são favoráveis a legalização do uso de maconha.

“Havia uma expectativa de que os jovens fossem mais abertos a esses temas, por estarem mais imersos nessas situações do que os mais velhos. Mas os dados nos mostram outra realidade, menos da metade deles são favoráveis a pautas mais progressistas de comportamento”, diz Pedro Arantes, coordenador da pesquisa.

Foram entrevistadas 1.034 pessoas de todas as regiões do país no período de 16 e 23 de setembro. Os dados foram ajustados com base no censo mais recente do IBGE para refletir o perfil real da juventude brasileira. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Os dados indicam que os jovens de mais baixa renda são os mais contrários à legalização da maconha. Entre as classes D e E, apenas 29,7% apoiam a proposta, enquanto entre os jovens das classes A e B esse percentual chega a 36,8%.

A pesquisa sugere ainda que a orientação política é um fator decisivo sobre o tema. Os jovens que se dizem de esquerda/centro-esquerda são mais abertos à legalização (54,4%) do que os que se dizem de direita/centro-direita (19,8%).

Situação parecida ocorre em relação à legalização do aborto. Entre os jovens das classes A e B, 46,3% são favoráveis à prática, enquanto o apoio dos jovens das classes D e E cai para 32,9%.

A orientação política também é decisiva nesse tema. Apenas 25% dos jovens autodeclarados de direita ou centro-direita se dizem a favor da interrupção voluntária da gravidez, enquanto 68,6% dos de esquerda e centro-esquerda concordam com a legalização.

Arantes destaca também que a pesquisa identificou um grande contingente de jovens nem-nem, ou seja, aqueles que dizem não ter uma posição política. Dos entrevistados, 66% respondeu que não sabia ou não queria responder com qual espectro político se identifica ou que disseram não ter uma posição no assunto.

Apenas 16% disseram se identificar como de esquerda, e 17% se disseram de direita

Os dados mostram ainda que os jovens nem-nem foram os que percentualmente mais se abstiveram de responder às questões de opinião.

“A ideia de que jovem tem opinião sobre tudo não é mais verdade. Muitos deles não sabem ou não querem opinar sobre temas variados, o que pode estar ligado ao fato de se sentirem acuados em se posicionar com o nível de conflitividade tão alto nos debates do Brasil”, diz Arantes.

CASAMENTO HOMOAFETIVO

Outro dado destacado pelos pesquisadores é que menos da metade dos jovens brasileiros (44,3%) disse ser favoráveis ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, assegurado no Brasil há 13 anos.

Em maio de 2011, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que as uniões entre pessoas do mesmo sexo se equiparam, no âmbito do direito civil, às uniões entre pessoas de sexos opostos.

A renda e posicionamento político aparecem como fatores importantes para a opinião sobre o tema. Mas nesse assunto, também tem grande influência a religião.

Entre os jovens das classes A e B, 48,5% afirmam ser favoráveis ao casamento homoafetivo. Entre os das classes D e E, apenas 35,4% dizem apoiar o direito.

A orientação política aparece como o fator mais decisivo na opinião sobre o assunto: quanto mais à esquerda, maior a chance de ser favorável a ela. Entre os jovens que se identificam como de esquerda e centro-esquerda, 79,3% apoiam a pauta, segundo a pesquisa. Já entre os de direita e centro-direira, apenas 26,7% são favoráveis.

Os jovens autodeclarados ateus são os que mais apoiam a causa (58,6%), seguidos pelos católicos (48,8%). Protestantes e evangélicos são o grupo que menos se declara favorável ao tema, com apenas 26,3%.

ISABELA PALHARES / Folhapress

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