SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Juizado Especial do Torcedor do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que analisa a possibilidade de expandir a torcida única para o Brasil, considera que episódios de violência entre organizadas longe dos estádios podem ser um “efeito colateral” da medida.
O QUE ACONTECEU
Na análise do TJSP, a torcida única em São Paulo tem sucesso em seu objetivo: diminuir a violência nos estádios. A decisão está em vigor no estado desde 2016 para partidas de Corinthians, Santos, São Paulo, Palmeiras, Guarani e Ponte Preta.
Por outro lado, para o Juizado do Torcedor “é preferível” ter episódios isolados em regiões afastadas do que brigas generalizadas dentro das arenas esportivas.
Na medida em que a torcida única tira esse perigo do estádio, da arena esportiva, mas, às vezes, acaba gerando situações pontuais de maior violência, que aconteceriam no estádio e acabam acontecendo numa estação de metrô, num terminal de ônibus, numa praça pública… Isso é inevitável. Na medida do possível, eu acredito que os órgãos de segurança pública estão atentos a isso, estão fazendo uma estratégia. Mas ainda assim é preferível que haja um ou outro evento atomizado, espalhado e menor num ou outro lugar.José Fernando Steinberg, Juiz titular do Juizado Especial Criminal
“Se for para ter, é melhor que tenha um ou outro caso pequeno do que que exploda isso dentro de uma arena com 50, 60, 80 mil torcedores, que a desgraça é sempre é amplificada. Então, esse é um efeito colateral da torcida única. Todo remédio tem um efeito colateral. Esse é o efeito colateral, mas acho que ele é ainda menor e melhor de assumir esse risco do que você ter o conflito generalizado dentro de uma arena”, acrescentou o desembargador.
TJSP QUE EXPANDIR TORCIDA ÚNICA PARA O BRASIL
O Juizado Especial do Torcedor quer expandir o projeto de torcida única para o Brasil. A ideia é abrir diálogo com a CBF sobre o assunto nos próximos meses. Em reunião realizada no dia 18 de outubro, com membros do Poder Público e da Federação Paulista de Futebol (FPF), o Juizado do Torcedor também debateu os próximos passos a serem adotados para a empreitada.
Deliberamos abrir um diálogo com a Confederação Brasileira de Futebol para que isso possa ser espraiado, talvez para outros estados, outros tipos de eventos, como já ocorre aqui em São Paulo desde 2016.Sérgio Antonio Ribas, Coordenador da Comissão do Juizado Especial do Torcedor
A medida gera polêmicas desde a sua implementação, mas o TJSP confirma que houve queda significativa nos números de brigas dentro dos estádios e se mostra satisfeito com os resultados nos quase oito anos de existência.
Diria que a torcida única é uma medida amarga, mas necessária, porque a violência está sendo aumentada gradativamente e há uma transferência da agressividade para o futebol, que é algo relacionado ao amor. Então, nós temos o amor e temos o ódio. Então você transfere todas as suas frustrações para o futebol. Através da torcida única, conseguimos minimizar a agressividade que existe entre as torcidas.Sérgio Antonio Ribas
“Desde que nós implantamos a torcida única em clássicos paulistas e jogos de grande risco, há uma constatação de que a agressividade dentro dos estádios minorou. Então, eu entendo como muito positiva a realização de jogos com torcidas únicas”, concluiu Ribas.
EMBOSCADAS VIRAM ‘ROTINA’ EM SÃO PAULO
Em menos de duas semanas, torcidas paulistas estiveram envolvidas em “emboscadas”. O episódio mais grave aconteceu no último domingo (27), quando torcedores do Palmeiras incendiaram um ônibus com cruzeirenses em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo. Um homem morreu e outros 17 ficaram feridos.
Outras duas emboscadas foram feitas por torcedores de Corinthians e Santos a flamenguistas e atleticanos, respectivamente.
LIVIA CAMILLO / Folhapress