BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito foi a 432,3% ao ano em julho e atingiu o maior patamar de 2024, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (29).
Houve um aumento de 3,6 pontos percentuais na variação mensal e uma alta de 8,9 pontos percentuais no trimestre. Em dezembro de 2023, a taxa média estava em 442,1% ao ano. Após um recuo em janeiro, quando passou a vigorar a nova regra da modalidade, a tendência de alta voltou a ser observada nos meses mais recentes.
Desde o dia 3 de janeiro, está em vigor a norma que estabelece que a dívida de quem atrasa o pagamento da fatura do cartão de crédito não pode mais superar o dobro do montante original. Isso significa que a taxa de juros é limitada a um teto de 100% do valor da dívida contraída.
O dado divulgado nesta quinta engloba também as dívidas que já estavam no estoque antes da mudança nas regras do rotativo. Sendo assim, a taxa média não reflete na totalidade as mudanças implementadas no início do ano.
A nova regulamentação foi definida em dezembro do ano passado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) -colegiado formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), além do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
O rotativo é a linha de crédito mais cara do mercado, recomendada por especialistas apenas em casos emergenciais. Ele é acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura na data de vencimento.
A taxa divulgada pelo BC é anualizada e ela representa o preço da operação de crédito no momento da contratação acordada entre o banco e o cliente, cifra que pode ser repactuada ao longo da operação em caso de inadimplência.
Uma taxa média de 432,3% ao ano é equivalente a um juro mensal médio de 14,95%.
Desde 2017, os bancos são obrigados após um mês a transferir a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, que possui juros mais baixos.
A taxa do parcelado do cartão caiu em julho, passando para 178% ao ano -recuo de 4,5 pontos percentuais um mês antes (182,5% ao ano).
Em julho, a inadimplência no rotativo do cartão de crédito subiu 1,4 ponto percentual na comparação mensal, a 55,9% -mais da metade do volume das operações. Em 12 meses, a alta corresponde a 6,4 pontos percentuais.
No mês passado, houve liberação de R$ 29,225 bilhões na modalidade -em junho, foram concedidos R$ 29,133 bilhões. O pico de concessões foi atingido em novembro do ano passado, com R$ 33 bilhões -o mês com maior volume liberado no rotativo desde o início da série histórica em março de 2011.
Ao observar o saldo por modalidade no cartão de crédito, o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, vê desdobramentos positivos no conjunto agregado.
“No mês, o [saldo do] cartão parcelado [com juros] aumentou 0,5%, mas o [saldo do] cartão rotativo reduziu 5,6%. Quando se compara julho de 2024 com julho de 2023, a gente tem um crescimento 8,7% no cartão de crédito como um todo e um crescimento de 12,6% no cartão à vista”, afirma.
Ele ressalta que o crescimento do saldo do cartão à vista foi maior do que o do cartão de crédito como um todo. Isso ocorreu porque houve uma redução mais significativa do saldo do cartão rotativo.
“É como se houvesse uma troca entre as operações do cartão de crédito rotativo e as operações do cartão de crédito parcelado. Ou seja, a negociação entre clientes, a migração de saldos do cartão rotativo para o cartão parcelado parece que está ocorrendo”, diz.
Como exemplo, cita que no período de 12 meses, o saldo do cartão rotativo caiu 22,5% (R$ 17 bilhões) e que o estoque do cartão parcelado aumentou 13%, o que corresponde a R$ 14 bilhões.
Os dados do BC também mostraram que, em julho, o montante de juros acumulado no rotativo e no parcelado do cartão de crédito em relação ao valor original da dívida contraída pelos clientes seguiu o comportamento esperado de alta na maioria das instituições financeiras acompanhadas pelo regulador.
Considerando 99% das operações realizadas pelas instituições, houve um salto na média de 52,9% em junho para 58,8% em julho. No Itaú Unibanco, por exemplo, o acumulado atingiu 73,57%, atrás apenas da financeira que é fruto de uma parceria entre Itaú Unibanco e Magazine Luiza, chamada Luizacred, com 73,91%. Na outra ponta, aparecem o Banco do Brasil (31,73%) e a Caixa Econômica Federal (33,77%).
A autoridade monetária selecionou para acompanhamento uma amostra de 15 instituições financeiras, que representam cerca de 80% desse mercado de crédito, para fornecer informações relativas ao chamado “muro inglês”.
O cálculo do novo indicador considera as dívidas em aberto no mês desde que as novas regras do rotativo do cartão de crédito entraram em vigor, em 3 de janeiro, independente da data exata de contratação nesse intervalo de tempo.
NATHALIA GARCIA / Folhapress