SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As taxas de juros futuros de longo prazo vêm registrando queda e operam em seus menores níveis do ano neste mês, após a consolidação das expectativas de que o Banco Central deve iniciar um ciclo de redução de juros no segundo semestre deste ano.
Nesta quarta (21), o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a Selic (taxa básica de juros) em 13,75% ao ano, mas não sinalizou que possíveis cortes estão a caminho. A aposta do mercado, porém, é de que os juros comecem a ser reduzidos já em agosto, na próxima reunião do comitê.
Após o anúncio da Selic, as taxas de juros futuros de longo prazo registraram queda, e os contratos com vencimento em janeiro de 2027 saíram de 10,53% para 10,50%. As curvas de 2024, 2025 e 2026 tiveram leve alta, mas ainda registram queda significativa desde o início do ano.
As taxas para janeiro de 2024, por exemplo, estavam em 13,52% em 1° de janeiro de 2023. Nesta quarta, chegaram a 13,03%, queda de quase 0,5 ponto percentual.
Nas curvas mais longas, a queda foi ainda maior: os juros para 2025 saíram de 12,91% para 11,11% no mesmo período, enquanto os para 2026 foram de 12,87% para 10,53%. Os para 2027, que estão em 10,50%, começaram o ano no patamar de 12,91%.
Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, afirma que a perspectiva de quedas dos juros começou a ficar mais clara com os mais recentes dados de inflação, em especial a partir de abril, quando a alta de preços desacelerou a 0,61%, ante 0,71% em março.
Foram os dados de maio, porém, que consolidaram as projeções de queda, quando o IPCA registrou sua menor variação para o mês desde 2020 ao desacelerar a 0,23%. O indicador surpreendeu o mercado, que esperava alta de 0,33%.
“Os indicadores mostraram que o Brasil conseguiu combater a alta de preços, que estava forte no início do ano. Isso trouxe um momento interessante para o BC começar a sinalizar um corte de juros, o que reflete diretamente nas taxas futuras, que já começam a prever esse movimento”, diz Corrêa.
O economista Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos, cita a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados como um dos fatores que auxiliaram na queda dos juros futuros. As novas regras eram classificadas pelo BC como algo que possibilitaria mais clareza no ambiente econômico, já que diminuiria a percepção de risco do país.
“O mercado entendeu que o cenário para o Banco Central reduzir os juros estava mais claro e consolidou as expectativas de redução de juros, o que tem impacto direto nas curvas futuras”, diz Siqueira.
As expectativas foram reforçadas, ainda, pelo PIB acima do esperado no primeiro trimestre, divulgado no início de junho, o que desencadeou uma série de revisões positivas para o crescimento da economia brasileira. Como impulso adicional, Corrêa cita a elevação da perspectiva de longo prazo do Brasil pela S&P, que derrubou o dólar e deu fôlego à Bolsa brasileira nos últimos pregões.
Apesar de o Copom não ter sinalizado queda após a reunião desta quarta, o consenso do mercado é de que já há espaço para redução da Selic em agosto, o que poderia diminuir ainda mais os juros futuros.
O economista-chefe da XP, Caio Megale, afirma que o comitê abriu portas para um possível corte em sua próxima reunião ao mencionar melhora nas perspectivas de inflação. Por isso, a XP manteve sua projeção de que um corte de 0,25 ponto percentual será o próximo passo do BC e vê a taxa em 11% no primeiro trimestre de 2024.
Analistas consultados pelo Banco Central seguem a mesma perspectiva de cortes em agosto. O boletim Focus desta semana mostrou que o mercado espera um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de agosto e projeta a Selic em 12,50% no fim do ano.
Já Siqueira, da Guide, diz que a casa projeta que os juros podem cair até a faixa de 9% no ano que vem.
Se confirmadas, as projeções podem dar fôlego a uma queda ainda maior das curvas futuras, na esteira das projeções otimistas para a economia brasileira em 2023.
MARCELO AZEVEDO / Folhapress