BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A Justiça Eleitoral da Argentina abriu nesta quinta (6) uma investigação preliminar contra o ultraliberal Javier Milei, candidato à Presidência nas eleições que ocorrerão em outubro no país. Ex-aliados acusam a coalizão que o deputado federal lidera, a Liberdade Avança, de vender candidaturas, o que ele nega.
É mais um revés recente ao economista de cabelos desgrenhados. Ele somou derrotas nas eleições regionais nos últimos meses e dá sinais de queda nas pesquisas eleitorais depois que as duas principais forças políticas -o peronismo e a oposição macrista– finalmente definiram seus candidatos às primárias, marcadas para agosto.
A investigação aberta agora vai apurar se existem ou não indícios de condutas criminosas, antes que seja aberto um eventual processo. Se esse for o caso, a juíza federal eleitoral responsável vai julgar não só a responsabilidade dos imputados, como também a legitimidade das candidaturas nacionais envolvidas, segundo o jornal local La Nación. Já as candidaturas provinciais seriam julgadas pelas cortes locais.
As denúncias sobre a suposta venda de candidaturas por valores em dólares pelo grupo liderado por Milei começaram a surgir há alguns meses, mas ganharam força nos últimos dias, quando o empresário Juan Carlos Blumberg, que deixou a coalizão recentemente, acusou o grupo de fazer da política “um negócio” e de pedir até US$ 50 mil dólares para que se ele candidatasse a vereador.
“O grupo de Milei começou a vender cargos para quem quisesse ser candidato”, disse em entrevista à rádio La Red, na qual citou alguns altos dirigentes do Liberdade Avança, como Carlos Kikuchi, articulador nacional da sigla, Sebastián Pareja, responsável pela articulação na província de Buenos Aires, e Karina Milei, irmã do presidenciável.
O empresário foi um dos convocados a dar declarações à Justiça Eleitoral na próxima semana, junto a pelo menos outros três ex-aliados de Milei que acusam o grupo das mesmas práticas.
Nesta quarta (5), o La Nación também publicou áudios de uma das responsáveis pela coalizão na província de Entre Ríos, na fronteira com o Uruguai, em que ela explica as cobranças a interessados em disputar vagas para cargos de vereadores, prefeitos e deputados provinciais
Milei vem reagindo às acusações em redes sociais e entrevistas. “Temos sido duramente questionados sobre o financiamento da nossa campanha. Digo a vocês: no nosso espaço cada um autofinancia sua campanha, ou seja, financiamos a campanha com o nosso próprio dinheiro e esforço”, disse em um vídeo no TikTok.
“Claro, isso incomoda os políticos tradicionais. Você sabe por quê? Porque eles se financiam com o dinheiro dos impostos. Ou seja, eles roubam o que você paga para fazer campanha. Portanto, a todo esse grupo de pessoas que nos caluniou, vamos levá-los à Justiça. Acabou esse sistema corrupto onde as pessoas de bem têm que pagar pelas loucuras dos políticos”, seguiu.
Economista e professor, Javier Milei foi eleito deputado federal pela capital Buenos Aires em 2021. Ele ficou conhecido a partir de 2018 por críticas contundentes à atual vice-presidente Cristina Kirchner, ao presidente Alberto Fernández e ao seu antecessor, Maurício Macri e por seu modo agressivo de falar. Ele se define como “anarcocapitalista” e tem como principal proposta a dolarização da economia argentina.
Seus principais concorrentes à Presidência serão Sergio Massa, ministro da Economia e candidato da coalizão peronista União pela Pátria, e Horacio Larreta, chefe da capital federal Buenos Aires, ou Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança de Macri, que disputam as primárias pela oposição republicana Juntos por el Cambio.
JÚLIA BARBON / Folhapress