Justiça da Espanha condena assassinos de brasileiro gay a até 24 anos de prisão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro pessoas foram condenadas pela Justiça da Espanha, nesta quarta-feira (8), a penas que vão de 10 a 24 anos de prisão pelo assassinato de Samuel Muñiz, homem gay nascido no Brasil que morreu após ser espancado em Corunha. O caso gerou comoção no país europeu e estimulou debates sobre homofobia.

Técnico de enfermagem, Muñiz foi espancado até a morte próximo de uma boate na orla de Corunha, cidade de cerca de 250 mil habitantes na Galícia. O crime ocorreu em julho de 2021, e a vítima tinha 24 anos. À época, muitos adolescentes circulavam entre bares e festas, aproveitando a reabertura de atrações noturnas após a retirada de restrições para conter a Covid-19.

O premiê espanhol, Pedro Sánchez, chegou a comentar o assassinato e manifestar solidariedade aos familiares da vítima. O crime provocou indignação sobretudo na comunidade LGBTQIA+ e motivou protestos. Pessoas próximas de Muñiz sempre disseram que os agressores agiram por homofobia.

O principal suspeito do crime, identificado como Diego M.M., foi condenado a 24 anos de cadeia. No caso dele, houve agravante de discriminação por motivos de orientação sexual, segundo nota divulgada pelo tribunal.

De acordo com a sentença, Diego começou a agressão ao pensar, de forma equivocada, que estava sendo filmado por Muñiz. À época do assassinato, Lina, amiga da vítima, contou ao jornal La Voz de Galicia que, por volta das 3h no horário local, ambos saíram para fumar do lado de fora da boate, e ela então fez uma videochamada, da qual o brasileiro também participou.

Enquanto falavam e riam, movimentavam o celular para mostrar o ambiente. Diego, que passava pelo local, achou que estava sendo filmado e passou a ameaçá-los. Lina disse que eles tentaram explicar que estavam em uma chamada de vídeo, mas a justificativa não adiantou.

“Pare de gravar se não quiser ser morto, puto viado”, ameaçou o agressor. Depois de ser xingado, Samuel teria respondido: “Viado de quê?”. Em seguida, ele tomou um soco e foi jogado no chão –um jovem de origem africana, ainda não identificado, conteve o ataque. O criminoso então se afastou, mas pouco depois voltou ao local com mais pessoas para continuar a agressão.

Samuel tentou fugir, mas foi perseguido, atingido por socos e chutes e caiu no chão. A surra durou cerca de um minuto e parou quando o grupo percebeu que a vítima não se mexia mais.

De acordo com o tribunal de Corunha, o acusado mostrou em todos os momentos “uma absoluta falta de empatia e crueldade que merecem uma maior reprovação penal”.

Outros dois homens que participaram da agressão, Alejandro F.G. e Kaio A.S.C., foram condenados a 20 anos e 20 anos e seis meses de prisão, respectivamente, enquanto uma quarta pessoa, Alejandro M.R., apontada como cúmplice, recebeu dez anos de cadeia pois, embora não tenha agredido Muñiz, impediu que ele fugisse e que outras pessoas o ajudassem.

O veredicto ressalta a “falta de empatia e crueldade” dos condenados, que deixaram a vítima “jogada no meio de uma rotatória, inconsciente e com o rosto ensanguentado”.

A namorada de Diego, que estava no local do crime, também foi julgada, mas acabou absolvida pois o tribunal entendeu que ela não participou da agressão.

A sentença de primeira instância, que pode ser objeto de recurso, obriga também os quatro condenados a indenizar a família do brasileiro com EUR 303 mil (cerca de R$ 1,91 milhão). Diego M.M., Alejandro F.G. e Kaio A.S.C permanecerão presos até que a condenação seja definitiva, segundo o tribunal.

Filho de um brasileiro e de uma espanhola, Muñiz vivia na Espanha desde bebê e trabalhava em uma casa para idosos. Seu pai, Maxsoud Luiz, disse em entrevista a uma emissora de TV espanhola, em 2021, que o filho não se metia em brigas, não costumava chegar bêbado em casa ou usar drogas e que eles nunca haviam conversado sobre o brasileiro ser gay.

Redação / Folhapress

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