SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça soltou 11 de 13 presos acusados de tráfico de drogas durante operação da Polícia Civil realizada neste domingo (30) na cracolândia, na região central de São Paulo. Em audiência de custódia realizada nesta segunda-feira (31), duas prisões em flagrante foram convertidas em preventiva.
A ação ocorreu na rua dos Gusmões, região central da cidade de São Paulo, onde o fluxo de usuários de drogas se concentra há cerca de dois meses. Foi a segunda operação policial deflagrada na cracolândia em uma semana.
Segundo as investigações, a maior parte dos 13 presos no domingo era de olheiros, pessoas que têm a função de monitorar o entorno da cracolândia e avisar os traficantes a respeito de qualquer movimentação estranha.
Foram detidos também traficantes que aparecem vendendo pedras de crack em imagens captadas pelos policiais, e um homem apontado como gerente das barracas onde as drogas são comercializadas.
Durante a operação, foram apreendidos também 16 porções de K9, três tijolos e 39 porções de maconha, 26 invólucros com cocaína e duas pedras de crack. Foram recolhidos de dentro do fluxo de usuários de drogas três balanças de precisão, barracas e guarda-sóis.
Nas audiências de custódia, porém, todos foram soltos com exceção de um homem e uma mulher que portavam drogas no momento da prisão, segundo boletim de ocorrência. Ele tinha 26 invólucros com cocaína e ela, 20 papelotes contendo a mesma droga.
O homem já tinha sido preso em flagrante em março ao furtar o celular de uma mulher, na região central. De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima estava em uma galeria quando foi abordada por ele que lhe pediu um cigarro. O celular estava no bolso de trás da calça e foi sacado quando ela se virou.
Antes, ele já havia sido preso duas vezes por furto em Cotia, na região metropolitana, e foi liberado após passar por audiência de custódia.
A outra pessoa que teve a prisão mantida já tinha sido detida por tráfico de drogas em dezembro de 2019 no bairro São Domingos, na zona oeste de São Paulo. De acordo com o boletim de ocorrência, ela foi presa com cocaína, maconha e crack. Ela negou o crime na audiência que determinou pena de cinco anos em prisão domiciliar.
Em relação à operação policial deflagrada na cracolândia na semana anterior, a Justiça manteve a prisão de 12 de 18 detidos no último dia 22. A ação tinha como objetivo prender 35 alvos identificados pelas investigações.
Segundo relatório divulgado pela Defensoria Pública na semana passada, operações da Polícia Civil na cracolândia encontraram drogas em apenas 1,7% das prisões realizadas entre setembro e novembro do ano passado das 641 detenções analisadas no período, só em 11 o suspeito tinha posse de entorpecentes.
Na maioria dos casos (73,6%), foram encontrados apenas “resquícios e sujidades” de substâncias proibidas em utensílios apreendidos para fumar crack, como cachimbos.
Em entrevista coletiva nesta segunda, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, comentou o relatório da Defensoria e afirmou que as prisões feitas na cracolândia nesta gestão são diferentes das feitas no ano passado “pelo corpo probatório robusto”. “Nessas operações da cracolândia, nós temos filmagens dos indivíduos comercializando drogas”, disse o secretário. “Isso dá provas para o juiz decidir de forma tranquila de que aquele indivíduo é traficante”, continuou.
Derrite também afirmou que tem encaminhado ofícios ao Judiciário para que sejam aplicadas tornozeleiras eletrônicas a presos reincidentes na cracolândia.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública disse que a Justiça decretou a prisão preventiva “somente daqueles que tinham drogas em seu poder” e que os demais presos em flagrante foram liberados a responder o processo de associação ao tráfico em liberdade.
MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress