SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça da Bahia tornou ré uma chilena suspeita de atacar uma comerciante judia de Arraial d’Ajuda, em Porto Seguro (BA), no último dia 2 de fevereiro. A vítima, que gravou um vídeo com a agressão e deu queixa na polícia, foi xingada de “assassina de crianças” e teve sua loja depredada pela agressora.
As imagens mostram uma mulher chamando a comerciante Herta Breslauer de “sionista” e “assassina de criança”. Ela quebra as mercadorias nas estantes da loja e, em seguida, grita: “Eu vou te pegar, maldita sionista”. A agressora foi imobilizada por homens que a levaram para fora do local.
No vídeo com os xingamentos, é possível ouvir a vítima falar que é judia, em meio às agressões verbais.
A denúncia, que tornou Ana Maria Leiva Blanco ré, foi recebida no último dia 7 pelo juiz André Marcelo Strogenski, da 1ª Vara Criminal de Porto Seguro. O magistrado deu dez dias de prazo para manifestação das partes.
Assim, a suspeita responderá judicialmente por injúria racial. Caso condenada, ela poderá pegar de dois a cinco anos de reclusão.
O inquérito instaurado pela Polícia Civil da Bahia apurou crime de racismo, lesão corporal e dano praticado.
A reportagem não conseguiu contato com Blanco. No processo, disponível no site do Tribunal de Justiça da Bahia, não consta o nome de sua defesa.
Em recente entrevista do Fantástico, da TV Globo, a mulher disse que teve um surto e que se arrependia.
“Eu me arrependo muito. Isso aqui não tem nada a ver com intolerância religiosa, tem a ver com uma coisa política. Ela pensa de um jeito eu penso de outro, e ela quer que eu pense do jeito dela”, afirmou ela na entrevista à TV.
“Se alguma pessoa do povo judeu se sentiu ofendida com as minhas palavras, eu peço desculpa”, disse.
Ainda segunda a reportagem, ela afirmou que faz uso de remédio controlado e que teve um surto ao entrar na loja de Herta.
A violência ocorre em meio à guerra entre Israel e a organização terrorista islâmica Hamas, que se arrasta desde 7 de outubro do ano passado.
Na entrevista à TV Globo, Blanco declarou à polícia ser apoiadora da causa palestina e que a agressão ocorreu depois de ser chamada de terrorista.
Segundo o Hamas, mais de 30,5 mil pessoas foram mortas por causa dos ataques israelenses no território palestino.
A vítima registrou um boletim de ocorrência na 2ª Delegacia Territorial de Arraial D’Ajuda no mesmo dia e gravou um vídeo em frente ao local, por meio do qual deu a sua versão sobre o ocorrido. “Ela entrou [na loja], me agrediu, me bateu. Destruiu minha loja. Simplesmente pelo fato de eu ser judia.”
A advogada da vítima, Lilia Frankenthal, afirmou à Folha no mês passado que a comerciante foi agredida com um tapa no rosto.
A Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a Sociedade Israelita da Bahia emitiram nota de repúdio na época da violência.
“Uma agressão covarde, antissemita, que deve ser investigada como crime de ódio e seguir o seu devido processo legal. A Conib vem pedindo moderação e equilíbrio às nossas lideranças para não importarmos o trágico conflito em curso no Oriente Médio”, afirmam as entidades.
Redação / Folhapress