SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Análises feitas pela Polícia Científica de São Paulo apontam que as chamadas drogas K consumidas na capital paulista costumam conter ao menos um entre 19 tipos de substâncias entorpecentes, que são misturadas a chás, ervas e temperos principalmente erva-doce e camomila.
Os peritos analisaram todas as drogas deste tipo apreendidas na região metropolitana de São Paulo no primeiro semestre deste ano. Conhecidos principalmente como K2 e K9, esses entorpecentes são mais fortes que o crack e, segundo a polícia, seu consumo tem aumentado na cidade.
A Secretaria Municipal da Saúde disse ter registrado 853 notificações de casos suspeitos de intoxicação por canabinoides sintéticos (como em geral são classificadas as drogas K) na cidade neste ano. Em 2022, tinham sido 99 casos. Segundo a pasta, 10 pessoas morreram em 2023 por suspeita de intoxicação.
Umas das principais dificuldades em combater o consumo está exatamente no fato que não se sabe exatamente como essas drogas são feitas, já que elas em geral são criadas a partir de uma mistura de substâncias.
A análise da Polícia Científica apontou que o material mais usado na produção das drogas K é uma substância chamada MDMB-4en-PINACA, com 966 detecções.
De acordo com o professor de toxicologia da Unicamp José Luiz da Costa, o produto é um tipo de canabinoide sintético ilegal no país e que não tem uso como medicamento.
“Canabinoide sintético é aquele grupo de substâncias que atuam no sistema nervoso central, no cérebro, no mesmo lugar em que o THC atua. Então, ele age no mesmo lugar que o princípio ativo da maconha atua. Eles não estão presentes na Cannabis sativa, nenhum deles. São feitos em laboratórios e só são utilizados como drogas de abuso, princípio ativo das drogas k”, explicou Costa.
Na sequência aparecem as substâncias MDA (324 detecções) e a anfetamina (215).
“MDMA [que também foi identificado, mas em proporção menor] e o MDA são princípios ativos que antigamente eram relacionados ao ecstasy. Os dois atuam no sistema nervoso central, são drogas que causam um aumento da empatia, aumento da comunicabilidade. São ilícitos, proibidos no Brasil”, disse o professor.
Já a anfetamina tem autorização para ser usada em medicamentos do país, mas muitas vezes é consumida com fins recreativos, diz Costa.
O levantamento produzido pelo núcleo da Polícia Científica apontou que 28% das drogas analisadas têm duas ou mais substâncias presentes. A grande quantidade de moléculas diferentes utilizadas no processo de fabricação das drogas sintéticas causa preocupação nos peritos.
“Cada um é livre para fazer sua formulação. E isso é o maior risco. Porque o cara não sabe o que está usando. Você não consegue ver, é igual a aparência. Só a perícia sabe o que o usuário está usando, nem o traficante sabe, nem o usuário sabe”, disse o diretor do Núcleo de Exames de Entorpecentes da Polícia Científica, Alexandre Learth Soares.
Uma segunda preocupação é a proporção que as drogas sintéticas têm chegado ao consumidor final. Soares diz que o número de apreensões aumentou, com os entorpecentes chegando diariamente aos peritos. “Tem se espalhado na cidade. Não é um DP [Distrito Policial], uma região específica. É constante. Quase toda apreensão vem [junto] com maconha e cocaína”.
“Nosso medo das drogas K é de que vire um crack. Uma droga que afete uma população mais vulnerável, de rua. É uma droga que lembra o crack por ter um efeito muito intenso, que passa rápido. Tudo isso leva o usuário a querer mais”, acrescenta Soares.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress