Kamala e Trump tentam fazer piada em evento católico nos EUA, para tristeza da plateia

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Se a habilidade de fazer rir contasse na eleição, tanto Kamala Harris quanto Donald Trump sairiam derrotados. Ao menos essa é a conclusão do constrangedor desempenho de ambos em um evento tradicional do calendário eleitoral que ficou conhecido por ser uma espécie de alívio cômico nesta reta final.

O tenso momento político e a crescente agressividade das campanhas não deixam de ter sua fatia de culpa no desconforto causado por muitas das piadas.

O jantar foi oferecido pela organização católica Fundação Memorial Alfred E. Smith em Nova York, na noite de quinta (17). Há anos candidatos à Presidência participam do evento, fazendo piadas sobre si e o oponente. Kamala quebrou a tradição neste ano, enviando um vídeo pré-gravado -a primeira vez que um democrata fura, deixando o oponente sozinho, desde Walter Mondale, em 1984. Ele foi derrotado por Ronald Reagan.

Em 1992, 1996 e 2004, nenhum dos lados participou.

A ausência foi explorada por Trump. “Católicos, vocês têm que votar em mim. Lembrem-se: eu estou aqui, ela não”, disse. “Se você queria que Harris aceitasse seu convite, deveria ter dito a ela que os fundos seriam para resgatar os manifestantes e saqueadores em Minneapolis”, em uma referência aos protestos Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd por um policial, em maio de 2020.

“Se os democratas realmente quisessem que alguém não estivesse com a gente esta noite, eles teriam enviado apenas Joe Biden”, declarou.

Em uma rara piada sobre si mesmo, disse que, “hoje em dia, é realmente um prazer estar em qualquer lugar de Nova York sem uma intimação para minha presença”.

Embora a plateia tenha dado risada e aplaudido alguns momentos, a reação de modo geral foi de desconforto ou até vaias.

Um desses momentos foi uma alusão feita pelo ex-presidente a um caso extraconjugal de Doug Emhoff, marido de Kamala, durante o primeiro casamento. “O único conselho que eu daria a ela [Kamala], caso ela vença, é não deixar o marido, Doug, chegar perto das babás”, disse. Em seguida, vendo a reação ruim, emendou: “Essa é maldosa. Eu disse para esses idiotas que me deram esse material que essa é pesada demais.”

O republicano repetiu ataques à inteligência da adversária, como faz em comícios e entrevistas, mas desta vez tentando dar um verniz de humor. Trump também fez piadas transfóbicas com o presidente do Senado, o democrata Chuck Schumer, e o candidato a vice de Kamala, Tim Walz.

Kamala tampouco provocou uma reação melhor da plateia, apesar de contracenar no vídeo com a comediante Molly Shannon, que interpretou uma estudante de colégio católico (um dos personagens que fazia em sua época no programa Saturday Night Live).

Um dos poucos momentos inspirados foi quando, ao ouvir de Shannon o conselho de “não darás falso testemunho contra o teu próximo”, a democrata respondeu: “especialmente os resultados das eleições do teu próximo”.

Kamala também disse que não tiraria sarro de católicos em um evento católico porque isso seria como tirar sarro de Detroit -no estado-chave de Michigan- em Detroit.

Foi uma alusão a Trump ter afirmado na semana passada que, se perder, os EUA inteiros vão acabar como Detroit. A declaração foi feita durante entrevista ao Clube Econômico de Detroit.

Apresentador do evento, o humorista Jim Gaffigan resumiu a reação do público após o fim do vídeo. “Enquanto assistia a isso, não pude deixar de pensar: agora eu sei como meus filhos se sentiram quando eu entrei por vídeo em um recital de piano em que eles estavam.”

O ator, que interpreta o vice de Kamala no SNL, ilustrou o momento estranho em que o país se encontra, a menos de três semanas da eleição.

“Há um grupo que me deixa perplexo. E acho que deixa quase todos neste país perplexos. Estou falando dos eleitores indecisos. Você está brincando comigo? Você está brincando comigo? Você não sabe em quem vai votar?”, disse. “Você não vê a diferença entre Kamala Harris e Donald Trump. Tipo, ninguém nunca pensou: ‘Espera, essa é uma frase do Trump ou da Harris?'”.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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