SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, acusou o ex-presidente Donald Trump de ser “fascista”. Em um programa de entrevistas da rede CNN, na noite desta quarta-feira (23), a atual vice-presidente alegou que o republicano é “cada vez mais instável e incapaz de servir”. A elevação do tom de acusações contra Trump foi interpretada como um sinal do aumento da tensão na corrida presidencial, faltando menos de duas semanas para o voto.
O termo ‘fascista’ vinha sendo evitado pelos democratas, na esperança de que o processo eleitoral pudesse ser realizado em uma tradicional normalidade institucional. Mas, nas últimas semanas, sinais de que Trump poderia não aceitar o resultado e o envolvimento de grupos radicais nos comícios dos republicanos levaram a campanha de Kamala Harris a reavaliar a narrativa.
“As pessoas que trabalharam com ele na Casa Branca, na Sala de Crise, no Salão Oval, todos republicanos, a propósito, que serviram em seu governo, seu ex-chefe de gabinete, seu conselheiro de segurança nacional, ex-secretários de defesa e seu vice-presidente, todos o chamaram de inapto e perigoso. Eles disseram explicitamente que ele despreza a constituição dos Estados Unidos. Eles disseram que ele nunca mais deveria servir como presidente dos Estados Unidos”, disse Kamala Harris.
Em resposta à pergunta do jornalista Anderson Cooper se Trump seria fascista, Harris respondeu: “Sim, eu acho”.
Com a eleição marcada para o início de novembro, a tensão e os discursos de ambos os lados têm ganhado um novo patamar.
Horas antes, foi a Casa Branca quem disse que o presidente Joe Biden acreditava que Trump deveria tratado como um fascista.
Os comentários da secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, foram feitos um dia depois que o ex-chefe de gabinete de Trump, o general aposentado da Marinha John Kelly, disse em artigos que o ex-presidente se encaixa “na definição geral de fascista” e queria o “tipo de generais que Hitler tinha”.
Kamala Harris disse que os comentários de Kelly mostraram que Trump “não quer um exército que seja leal à constituição dos Estados Unidos”.
“Ele quer um exército que seja leal a ele, pessoalmente, que obedeça às suas ordens, mesmo quando ele lhes disser para violar a lei ou abandonar seu juramento à constituição dos Estados Unidos”, disse a candidata.
“Sabemos o que Donald Trump quer. Ele quer poder sem controle”, completou.
Também passou a ser explorada pelos democratas a explicação que Trump deu para o que ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021, quando seus apoiadores invadiram o Capitólio.
“Centenas de milhares de pessoas vieram a Washington. Elas não vieram por minha causa. Elas vieram por causa da eleição”, disse Trump. Ele, de fato, havia incentivado seus apoiadores a irem a Washington para um comício naquele dia.
“Algumas dessas pessoas foram ao Capitólio de forma pacífica e patriótica. Não fizeram nada de errado. Nada foi feito de errado. Não havia armas lá embaixo. Nós não tínhamos armas. Os outros tinham armas, mas nós não tínhamos armas. Mas aquele foi um dia de amor”, disse.
A campanha de Harris, de seu lado, destacou como Trump passou a usar o termo “nós” para se referir às pessoas que invadiram o Capitólio, enquanto os “outros” seriam a Polícia do Capitólio.
“Trump defende os insurrecionistas de 6 de janeiro”, atacou a campanha democrata.
O caráter autoritário e negacionista de Trump ganhou um novo capítulo quando, na semana passada, o candidato republicano à vice-presidência, JD Vance, afirmou que “problemas sérios” foram registrados na eleição de 2020, sugeriu que Trump não perdeu a disputa.
“Donald Trump perdeu a eleição? Não com as palavras que eu usaria”, disse Vance. Horas depois, ele voltou a insistir no tema. “Acho que as grandes empresas de tecnologia manipularam a eleição em 2020. Essa é a minha opinião. E se você discordar de mim, tudo bem”, completou.
JAMIL CHADE / Folhapress