(FOLHAPRESS) – Poucas franquias longevas têm tantos altos e baixos como “Sonic”, a ponto de virar motivo de piada e seguir dividindo os fãs a cada aposta mirabolante. O personagem já virou lobisomem, lutou de espada e até salvou ETs em um parque de diversão.
Assim, é difícil não rir de “‘Sonic x Shadow Generations” por tudo que ele tem de bom, de mediano e de mais óbvio é feito sob medida para quem, por insistência ou paixão, nunca largou a mão do ouriço azul.
Ou melhor, do ouriço preto e vermelho, já que o grande atrativo dessa remasterização do jogo de 2011, elogiado à época, é a nova campanha estrelada pelo anti-herói Shadow. Um personagem amado pelos fãs pelo seu jeito durão, contra o bom-mocismo de Sonic, e que brilhou ao debutar em “Sonic Adventure 2”, de 2001 justamente quando a franquia seguia para o 3D e decepcionava os defensores do Mega Drive.
O jogo antecipa uma publicidade do filme “Sonic 3”, que estreia nos cinemas perto do Natal com Shadow no elenco. Mas desde 2005, o bichano virou motivo de polêmica quando protagonizou seu jogo solo, numa pegada mais sombria, lutando contra alienígenas de metralhadora na mão algo inédito (e duvidoso) para aquele mundo de animais falantes. Mesmo para quem gostou na época, apesar dos defeitos técnicos, o gosto era agridoce.
E nada melhor que a nostalgia e a autoironia para reavaliar essas imagens e músicas sempre um rock enérgico e descolado num game que, felizmente, tem ideias bem executadas. Em trama paralela à que vemos em “Sonic Generations”, por um acaso espaço-temporal, Shadow vai para uma dimensão vazia, encontrando figuras do seu passado e de seu futuro, enquanto explora mapas e tenta reestabelecer a ordem derrotando Black Doom, vilão da obra de 2005.
Esse ambiente explorável, mas não tão amplo, dá alguma ordem às ideias de “Sonic Frontiers”, que pecou na repetição e na falta de um design inteligente. Também é um passo à frente ao ambiente original de “Sonic Generations”, bidimensional, que funciona mais para pular de fase em fase.
O melhor mesmo são os níveis dessa campanha nova, que resgatam ambientes de jogos anteriores, muitos detestados, como o Rail Canyon, de “Sonic Heroes” ou o Kingdom Valley do reboot “Sonic the Hedgehog”, de 2006.
Recalibrados num jogo bem pensado, com movimentos fluídos, poderes como um turbo que acelera o personagem, habilidades de surf, transformação e de tiro (dessa vez mágico, não bélico) costuram bem a jogatina que salta entre visões 3D e 2D.
São cerca de cinco horas até o final, mas a diversão se estende com a exploração do lobby semiaberto, cheio de colecionáveis (extras, artes, músicas etc.) que dependem de moedas encontradas nas fases, além de desafios que reaproveitam os mapas jogados para chegar aos chefões.
Esses encontros deverão ser de grande prazer para os fãs de carteirinha, como reencontrar o escalafobético Sonic Overlord, um dragão azul metálico gigantesco, ou Mephiles the Dark, um ouriço sobrenatural, ao som de trilhas decerto escondidas na memória de muitos.
Mas não são joias em termos de jogabilidade. Compensam pelo espetáculo visual, com batalhas nos ares, mas são frágeis em comparação com as fases velozes e bem coordenadas, já que o posicionamento de câmera atrapalha partes das lutas, pouco desafiador e repetitivas.
De restante, falando do “Sonic Generations” já conhecido do público, as modificações são poucas. O ouriço das épocas 3D e 2D coexistem e se alternam entre lugares célebres ao longo da franquia neste caso, uma nostalgia menos controversa. Na remasterização há pequenas mudanças nos comandos e a inclusão da habilidade “drop dash”, para emendar um pulo num impulso em forma de bolinha, útil para jogadores experientes.
A inclusão de Chaos pelas fases, em referências aos títulos de Game Boy Advance, e de pequenas mudanças nos diálogos, recheados de citações ao passado, também passam despercebidos. Ainda assim, entre as últimas investidas da franquia, este é um pacote que vale um aperto de mão.
SONIC X SHADOW GENERATIONS
– Avaliação Bom
– Preço A partir de R$ 219
– Produção Sonic Team
– Plataforma Nintendo Switch, PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series X|S, PC
HENRIQUE ARTUNI / Folhapress