SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atriz Léa Garcia, que morreu na terça (15) aos 90 anos, é um dos nomes de destaque da série “Companhias do Teatro Brasileiro”, em exibição no canal Curta!.
O depoimento dela está no documentário sobre o Teatro Experimental do Negro (TEN), uma das 15 companhias lembradas ao longo da série dirigida por Roberto Bomtempo. Cada grupo tem sua trajetória rememorada em um episódio, com cerca de 30 minutos de duração.
Desde julho, o canal tem lançado um documentário por semana, programação que vai até o início de novembro. A produção sobre o TEN ganha exibição neste sábado (19) e domingo (20). Depois da apresentação no canal, os episódios ficam disponíveis no Curta!On – Clube de Documentários.
Fundado pelo diretor, autor e artista visual Abdias do Nascimento no Rio de Janeiro em 1944, a companhia buscava valorizar a identidade negra no Brasil por meio da arte e da educação. Chamou a atenção do público e da crítica ao longo daquela década com montagens como “O Imperador Jones” (1945) e “Todos os Filhos de Deus Têm Asas” (1946), ambas do dramaturgo norte-americano Eugene O’Neill.
O grupo de Abdias teve papel fundador no teatro do país ao apostar no protagonismo negro no elenco e nos temas abordados, mas sua relevância vai além desse pioneirismo. “O legado do TEN foi dar consciência à população negra sobre a sua situação dentro da sociedade brasileira”, diz Léa Garcia no documentário..
No final dos anos 1940 e no início da década de 1950, houve dissidências no grupo. Deixaram o elenco, por exemplo, Ruth de Souza, que havia ganho uma bolsa para estudar teatro nos EUA, e Haroldo Costa, que fundou sua própria companhia, o Grupo do Novos.
Começou, então, o período considerado como a segunda fase do TEN, quando as luzes se voltaram para uma jovem atriz, Léa Garcia. Em seu primeiro espetáculo, “Rapsódia Negra” (1952), dividido em diversos quadros, ela dançava, declamava versos de “Navio Negreiro”, de Castro Alves, e interpretava Oxum.
Brilhou em peças como “Orfeu da Conceição” (1956), escrita por Vinícius de Morais, que inspirou o roteiro de “Orfeu Negro”, filme de 1959 dirigido pelo francês Marcel Camus. Com Léa Garcia em um papel relevante, o longa conquistou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro.
“Léa entrou no TEN e foi um furacão”, diz Bomtempo, diretor e também ator. Ele lamenta, contudo, que a atriz tenha obtido menos visibilidade do que merecia. “Na TV e no cinema, ela fez muitos personagens estereotipados, infelizmente. O fato é que nossa profissão aproveitou pouco a Léa, que poderia ter tido uma oferta maior de bons personagens.”
Bontempo conta que ele e sua equipe escolheram as 15 companhias de teatro para compor a série a partir de uma combinação de critérios. Entre eles, a longevidade e a influência do grupo, caso do mineiro Galpão, criado em 1982 e ainda em atividade. Também foi levada em conta a importância política para a sua época, caso da trupe paulista do Teatro de Arena.
Um outro critério foi a relevância geracional, caso do Asdrúbal Trouxe o Trombone, grupo dirigido por Hamilton Vaz Pereira que inflamou a juventude carioca entre os anos 1970 e 1980.
Realizada ao longo de três anos, “Companhias do Teatro Brasileiro” ganha peso histórico ao trazer depoimentos inéditos de diretores, atores e cenógrafos notáveis que nos deixaram recentemente. São os casos de Zé Celso, Etty Fraser e Hélio Eichbauer no documentário sobre o Oficina; Eva Wilma, Milton Gonçalves e Flávio Migliaccio no episódio sobre o Arena; e, claro, Léa Garcia e Ruth de Souza na produção sobre o TEN.
COMPANHIAS DO TEATRO BRASILEIRO
Quando documentário sobre o Teatro Experimental do Negro neste final de semana: sáb. (19), às 18h30, e dom. (20), às 8h30; na semana que vem, a partir de terça (22), exibição do episódio sobre a Companhia Maria Della Costa; um grupo por semana até o início de novembroOnde canal Curta!; depois da estreia no canal, o episódio fica disponível no Curta!On – Clube de Documentários, que está na Claro TV+ e em www.curtaon.com.brDireção Roberto Bomtempo
NAIEF HADDAD / Folhapress