‘Let It Be’ volta restaurado com bastidores dos Beatles perto do fim da banda

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia 20 de julho de 1969 —um domingo em que os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros seres humanos a pisarem na Lua—, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr estavam em uma sala de cinema assistindo a uma sessão privativa do primeiro corte do filme “Let It Be”, que à época sequer tinha esse título.

A versão apresentada aos Beatles pelo diretor Michael Lindsay-Hogg tinha cerca de uma hora a mais do que a versão final que veio a público. No dia seguinte, o diretor já tinha recebido ordens para fazer cortes, o que deixou o filme com seus 80 minutos de duração.

Relançado nesta semana no Disney+, “Let It Be” volta às telas pela primeira vez numa versão restaurada, em data escolhida por marcar exatos 54 anos do lançamento do disco de mesmo nome, em 1970.

À época, a estreia do filme aconteceu cinco dias depois, sem a presença de nenhum beatle, já que o anúncio da saída de Paul McCartney da banda —e sua consequente dissolução— havia acontecido no mês anterior. Um novo clipe da música “Let It Be” também foi lançado nesta sexta com takes inéditos no canal dos Beatles no YouTube.

“Para mim é uma combinação de tristeza e também felicidade, e o filme exemplifica isso”, disse Michael Lindsay-Hogg, ao canal ABC News, sobre o momento que os Beatles viviam na época das filmagens, em janeiro de 1969.

“Let It Be” foi responsável por dar aos Beatles o Oscar de melhor trilha sonora original, em 1971, mas quem subiu ao palco para buscar o prêmio em nome dos Fab Four foi o produtor Quincy Jones. No mesmo ano, Paul e Linda, sua esposa, foram receber o Grammy vencido pelos Beatles na mesma categoria.

A restauração foi comandada por Peter Jackson, diretor de “Get Back” —minissérie documental lançada em 2021 e que usou o material bruto das filmagens de Lindsay-Hogg. Originalmente, ao passarem de 16mm para 35mm para ir aos cinemas, as imagens ficaram granuladas. Com a restauração, as imagens estão límpidas, mas Jackson optou por manter o enquadramento original do filme, diferentemente do widescreen de “Get Back”.

Em sua minissérie, Jackson optou por evitar repetir cenas da obra original, salvo quando fosse inevitável. Por isso, o relançamento do filme de Lindsay-Hogg é uma oportunidade para os fãs que assistiram “Get Back” poderem ver novos takes dos Beatles, como na bela sequência em que John e Yoko se beijam e dançam ao som de “I Me Mine”, tocada pelos outros três integrantes da banda.

Com o relançamento do filme, a Disney+ também produziu um bate-papo entre os diretores Michael Lindsay-Hogg e Peter Jackson, responsáveis pelas duas obras.

“Eu amo eles quatro, eu realmente sinto amor por eles como um diretor frequentemente sente amor por um ator”, declarou-se Lindsay-Hogg, que antes do documentário havia dirigido os Beatles nos clipes de “Paperback Writer”, “Rain”, “Revolution” e “Hey Jude”.

Nos últimos anos, as novas tecnologias vêm ajudando os Beatles a passarem sua história a limpo, como na remixagem e remasterização de alguns de seus discos. Assim, acabam motivando a criação de novas tecnologias, como a Machine Audio Learning (MAL), criada pela empresa de Peter Jackson, que permite a total separação de áudio para posterior mixagem.

A tecnologia, já usada no “Get Back”, possibilitou o lançamento de “Now and Then”, a última música do grupo. Agora, também foi usada na restauração de “Let It Be”.

“Os dois projetos apoiam-se e melhoram-se mutuamente: ‘Let It Be’ é o clímax de ‘Get Back’, enquanto ‘Get Back’ fornece um contexto vital que falta para ‘Let It Be'”, disse Jackson.

As quase oito horas da minissérie “Get Back” fazem com que o filme pareça incompleto em seus 80 minutos. De qualquer forma, todo o mérito da reveladora obra de Peter Jackson tem como fonte o trabalho de Michael Lindsay-Hogg, que não teve disponíveis à época as mesmas liberdade e tecnologia, mas tinha exata noção do que estava acontecendo ao seu redor.

Na manhã seguinte à saída abrupta e temporária de George Harrison da banda, mostrada só em “Get Back”, Lindsay-Hogg e Ringo Starr conversam no Twickenham Studios sobre o andamento das gravações. “Você conseguiu o bastante para um bom documentário?”, pergunta Ringo.

“Depende de como a situação fluir”, responde o diretor. “Se mostrarmos as coisas como elas são, teremos um documentário muito bom. Mas se nos escondermos, não temos muito” —percebendo que o que havia dado errado nos primeiros dias de gravação era justamente o que de mais importante ele tinha em mãos.

“Use tudo”, recomendou Ringo.

LET IT BE

Onde Disponível no Disney+

Classificação 12 anos

Direção Michael Lindsay-Hogg

LUCAS FRÓES / Folhapress

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