Líder do Irã pede reação contra Israel, e Biden vai à zona de guerra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A esgrima retórica entre os Estados Unidos e o Irã acerca da guerra entre Israel e o Hamas, que gera temores de uma escalada regional com dimensões militares do conflito, ganhou novos capítulos nesta terça (17).

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que Israel está cometendo “um genocídio” de palestinos na Faixa de Gaza e voltou a insinuar que seus aliados, como o Hamas, que provocou a atual guerra com seu ataque terrorista do dia 7 passado, deverão agir contra Tel Aviv.

“Ninguém pode confrontar os muçulmanos e as forças de resistência se os crimes contra os palestinos do regime sionista continuarem”, afirmou a estudantes em Teerã. “O bombardeio de Gaza deve parar imediatamente. Nós devemos responder, devemos reagir ao que está acontecendo.”

A retaliação de Israel ao ataque já matou mais de 3.000 palestinos. Khamenei, cujo país não reconhece o Estado judeu desde que a teocracia foi implantada em 1979, naturalmente não fez menção ao ataque do Hamas, que deixou mais de 1.400 mortos. O país nega ter participado da ação.

Na véspera, o presidente Ebrahim Raisi havia falado em uma ação iminente do que chama de forças de resistência, algo repetido nesta terça pelo chefe-adjunto da temida Guarda Revolucionária, mas até aqui não houve nada além da troca de fogo na fronteira do Líbano com o Hizbullah -outro grupo bancado por Teerã.

Por lá, a situação permanece tensa. As IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa) mataram quatro militantes que se infiltraram no norte do país, mas não especificaram de qual grupo eram. Depois, o Hizbullah afirmou ter perdido cinco soldados, mas não se sabe se são as mesmas pessoas.

Ao longo do dia, houve ao menos dois incidentes em que o Hizbullah disparou mísseis antitanque contra posições do Exército israelense, ferindo ao menos três pessoas. Segundo relatos da imprensa libanesa, ao menos quatro pessoas morreram na vila de Alma Al-Shaab na retaliação de Tel Aviv.

Israel determinou a retirada de civis numa área de 2 km a partir da fronteira com o Líbano. A abertura de uma segunda frente com aliados do Hamas é um dos maiores temores militares de Israel, dado que o Hizbullah, com quem travou uma guerra em 2006, é uma força mais capaz do que a palestina.

País em perene crise e com dificuldades econômicas exacerbadas desde a explosão que devastou o porto de Beirute, há três anos, o Líbano prende a respiração na atual guerra: o Hizbullah tem grande poder militar e político. Nesta terça, a empresa aérea estatal MEA enviou 5 de seus 24 aviões para a Turquia, visando protegê-los de um eventual alastramento do conflito.

Apesar de em princípio não interessar a ninguém além do Hamas, o risco de uma conflagração regional está colocado -foi citado abertamente pelos presidentes Joe Biden e Raisi, por exemplo.

Nesta quarta (18), o americano fará uma inédita visita a Israel como zona de guerra. Ele vai reafirmar seu apoio ao Estado judeu na crise, algo já demonstrado na prática pelo envio de dois grupos de porta-aviões para as águas próximas do país -um já está lá, outro deve chegar em três semanas. Dois mil fuzileiros navais poderão ir à região, que já tem 30 mil militares americanos.

Os israelenses mantêm a tensão no ar. “Ele [Biden] está deixando claro para nossos inimigos que se eles só imaginarem fazer parte de uma ofensiva contra os cidadãos de Israel, haverá envolvimento do governo americano aqui”, disse em entrevista Tzachi Hanegbi, conselheiros de segurança nacional do Estado judeu.

Por óbvio, é uma viagem arriscada em todos os sentidos. Na sequência, ele iria no mesmo dia encontrar-se com os líderes da Jordânia, Egito e Autoridade Nacional Palestina em Amã, capital jordaniana, para debater a guerra e o temor de escalada. O encontro, porém, foi cancelado. “Não faz sentido discutir qualquer coisa agora que não parar a guerra”, afirmaram os anfitriões.

A ANP, que governa a Cisjordânia e tem um acordo de paz com Tel Aviv, é rival do Hamas e foi enfraquecida politicamente nos últimos anos pelo governo de Binyamin Netanyahu. A tática do premiê era de manter Israel sob segurança relativa enquanto negociava a paz com mais vizinhos árabes, mas no processo os radicais de Gaza se reforçaram.

Com os egípcios, Biden deverá discutir também a questão da reabertura da passagem de Rafah, no sul de Gaza, onde refugiados com dupla nacionalidade ou estrangeiros que estavam na região esperam para fugir para o país árabes. Há 26 pessoas sob os cuidados do Itamaraty entre eles.

IGOR GIELOW / Folhapress

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