Líderes amazônicos ignoram demanda popular e fecham acordo sem bloqueio a petróleo

Líderes assinaram a Declaração de Belém | Foto: Ricardo Stuckert/PRFoto: Ricardo Stuckert/PR

Após dias de protestos e falas incisivas da sociedade civil pedindo o banimento à exploração de petróleo na Amazônia, o texto final do evento entre os chefes de Estado do bioma não menciona o termo combustíveis fósseis, como antecipado pela Folha de S.Paulo. Batizado de Declaração de Belém, o documento foi publicado nesta terça-feira (8), após uma reunião a portas fechadas.

O texto menciona quatro vezes o objetivo de se evitar o ponto de não retorno da floresta amazônica, ou seja, limitar o desmate em até cerca de 20% do bioma, impedindo um processo irreversível de desertificação que levaria à perda das características da floresta tropical.

No entanto, o documento não traz metas ou prazos para a conservação florestal e o combate ao desmatamento.

A meta de desmatamento zero, defendida pelo Brasil e pela Colômbia, também fica de fora das decisões. O termo é mencionado no preâmbulo apenas como “um ideal a ser alcançado na região”.

Entre os parágrafos da decisão, a questão volta a aparecer como uma das opções de metas nacionais a serem apoiadas pela cooperação regional.

Em uma das poucas mudanças na linguagem do texto, houve um pequeno avanço na única menção do documento ao setor de combustíveis fósseis.

“Iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na região amazônica, no marco da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e de suas políticas nacionais soberanas”, diz a Declaração de Belém.

O rascunho do último domingo (6) responsabilizava apenas atores privados, prevendo “exortar os atores envolvidos no ciclo de vida de minérios e hidrocarbonetos a alinhar suas práticas à Agenda 2030”.

O documento mantém o teor do rascunho acessado pela reportagem no último final de semana, antes da conclusão dos Diálogos Amazônicos, que reuniu ONGs e movimentos sociais nos três dias anteriores à Cúpula sob a promessa do governo federal de considerar reivindicações populares na reunião de chefes de Estado.

A Cúpula começou ainda pela manhã, com uma abertura oficial com discursos das autoridades e representantes da sociedade civil.

A fala mais impactante foi a do presidente colombiano, Gustavo Petro, que aproveitou a oportunidade para jogar luz sobre os dissensos em torno do encontro -em especial sobre o fim do petróleo na Amazônia, defendido publicamente por ele e rejeitado pelo presidente Lula (PT).

Numa fala dura, que aconteceu pouco depois do discurso do brasileiro, acusou a esquerda de negacionismo climático. “Há um enorme conflito ético, sobretudo por forças progressistas, que deveriam estar ao lado da ciência”, afirmou, tratando do consenso científico sobre a crise do clima.

“[Os governos de] direita têm um fácil escape, que é o negacionismo. Negam a ciência. Para os progressistas, é muito difícil. Gera então outro tipo de negacionismo: falar em transições”, disse, em referência ao frequente termo usado por governos para justificar a continuidade dos investimentos em energias de fontes fósseis.

ANA CAROLINA AMARAL E JÉSSICA MAES / Folhapress

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