Linhas de metrô de SP serão movidas por autoprodução de energia limpa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Todas as linhas de metrô em operação atualmente na cidade de São Paulo, além da linha 17-ouro, com previsão de inauguração em 2026, serão alimentadas por autoprodução de energia a partir de parques eólicos e solares no Piauí.

O Metrô de São Paulo e o grupo CCR, responsável pelas concessionárias ViaQuatro e ViaMobilidade -linhas 4-amarela e 5-lilás-, anunciaram projetos de operação em parques de energia renovável no estado do Nordeste. O investimento também vai beneficiar as linhas 8-diamante e 9-esmeralda do trem metropolitano.

A capacidade de produção é de aproximadamente 170 MW (megawatts), o suficiente para movimentar todas as linhas, com sobra para utilização nas estações, se necessário.

Os trens das empresas do grupo CCR serão alimentados por autoprodução de energia já no começo de 2025.

No Metrô, a previsão é de início gradual em 2027 e pico atingido em 2029. Por questões de estruturação e pelo fato de a empresa estatal ter contratos em vigência para fornecimento energético, haverá dois anos de prazo para a mudança.

Os projetos são distintos, mas com objetivos comuns: não ficar refém das oscilações do mercado de energia, reduzir custos e visar a sustentabilidade.

“Com essa operação, conseguimos o benefício do travamento de preço”, diz Diego Ferreira, gerente-executivo de energia da CCR. “O preço de energia no nosso mercado oscila muito. Segundo algumas consultorias, ele é dez vezes mais volátil, por exemplo, que o Ibovespa.”

No modelo de negócios, a empresa se tornou sócia da Neoenergia, braço brasileiro da espanhola Iberdrola, em três parques eólicos em Dom Inocêncio (PI). O investimento é de R$ 21,6 milhões, e o contrato terá vigência de 16 anos, segundo comunicado feito pela companhia no mês passado.

A energia gerada pelas torres eólicas irá atender 60% da demanda do grupo e será suficiente para mover todos os trens da empresa em São Paulo -por enquanto, o projeto não deve beneficiar o metrô da Bahia e o VLT (veículo leve sobre trilhos) do Rio de Janeiro, ambos também sob concessão da CCR.

O Metrô optou por assinar com um consórcio chinês o arrendamento de uma usina de produção de energia solar e eólica de aproximadamente 150 hectares em Lagoa do Barro do Piauí (PI).

O consórcio parceiro do Metrô tem entre os participantes a CGN Brasil e Pontoon Energia.

Não haverá investimento, e a perspectiva é R$ 12,2 milhões ao ano em economia -a energia gerada será certificada como incentivada, garantindo descontos nas tarifas de uso da rede e isenção tributária- e maior previsibilidade nos custos.

Segundo Eraldo Rett, gerente de planejamento financeiro do Metrô, a energia gerada será suficiente para tração dos trens das linhas 1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata.

“A gente tinha de sair um pouco da caixinha e buscar alternativas para reduzir esse custo”, diz o executivo -conforme o Metrô, no ano passado a empresa gastou R$ 189 milhões com energia elétrica.

A ideia de gerar a própria energia nasceu há menos de um ano e meio. De acordo com Rett, o Metrô buscou consultoria de um escritório de advogados especializado no assunto e abriu consulta pública. Das 39 empresas que fizeram propostas, 9 foram selecionadas para análise.

O grupo vencedor, que será pago pela energia que fornecer, fará implantação, operação e manutenção da usina -o Metrô deve ter um gasto anual de R$ 85 milhões para ajudar a manter o parque energético, exclusivo para a companhia.

A primeira fase está prevista para começar com a geração de 10 MW médios em 2027, chegando a 20 MW médios em 2029. De início, a energia consumida será de origem solar e depois terá um misto com eólica. O Metrô não pretende vender excedente. “A nossa vocação é de transportar pessoas”, afirma Rett.

A autoprodução deve ser usada prioritariamente para movimentação dos trens. O restante continuará sendo comprado no mercado livre de energia, para garantir abastecimento e evitar que um trem pare caso ocorra algum problema no fornecimento.

“Teremos energia segurada por um período longo, independente do que aconteça com a companhia do Metrô, se [ela] for para o privado ou continuar no público.”

A Linha Uni, responsável pela construção e gestão da linha 6-laranja do metrô, avalia a autoprodução de energia por equiparação ou arrendamento.

A concessionária diz que a contratação de energia será definida em 2025 para o início de operação, previsto para o ano seguinte. E que será 100% renovável.

DE OLHO NA SUSTENTABILIDADE

A autoprodução de energia renovável, diz o Metrô, atesta a busca por selo verde. “Coloca a empresa em outro patamar”, acredita o gerente executivo.

O uso de energia limpa em trilhos que cortam a capital paulista e cidades da região metropolitana de São Paulo é uma das estratégias da CCR para redução de riscos climáticos, afirma a diretora de sustentabilidade, Juliana Silva.

Segundo ela, o grupo tem metas de redução de emissão de poluentes até 2033 e de neutralidade de carbono. “Essa é a motivação para para buscar energia de fonte renovável, essa autoprodução”, afirma.

Ao contrário do Metrô, a CCR avaliou que o uso de energia eólica proporciona um abastecimento mais seguro que a solar, pela constância dos ventos para alimentar um transporte público que circula 20 horas por dia.

PLACAS SOLARES EM ESTAÇÃO

O Metrô vai instalar uma usina solar na estação Brás, da linha 3-vermelha. A expectativa é que o projeto gere cerca de 540 MWh/ano, com economia de até R$ 35 mil por mês.

Em nota, a companhia diz que é estimada a instalação de cerca de 1.150 painéis sobre o teto de 6.000 m² que conecta as estações Brás do Metrô e da CPTM. “A estrutura é adequada para suportar os painéis, pesando 15 kg/m², e permite a inclinação necessária para máxima eficiência solar”, diz trecho do texto.

O Consórcio Ourolux Polican Linha 3, vencedor da licitação, terá 36 meses, ou seja, até 2027, para elaborar o projeto, adaptar a estrutura da estação, instalar os painéis fotovoltaicos e comissionar o sistema, além de realizar manutenções. O valor do contrato não foi informado.

FÁBIO PESCARINI / Folhapress

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