SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A livraria Mandarina, em Pinheiros, vai fechar as portas no próximo mês de maio. Aberta em 2019, com um porte modesto, foi uma das primeiras livrarias de rua inauguradas na cidade de São Paulo em meio à decadência das grandes redes Cultura e Siciliano.
Segundo Roberta Paixão, que tem conduzido a Mandarina com sua sócia Daniela Amendola, a casa vai funcionar até este domingo, dia 5. Há uma chance de que reabra apenas no final de semana do Dia das Mães (11 e 12).
O reajuste no valor do aluguel da casa tornou o negócio inviável, afirma ela. “Livrarias já trabalham com margens de lucro muito apertadas, e agora o aluguel se tornou estratosférico.”
A Mandarina fica na rua Ferreira de Araújo, no chamado Baixo Pinheiros. Nos últimos anos, a via tem se consolidado como um dos mais badalados eixos gastronômicos da cidade. “Quando abrimos, havia papelaria, loja de materiais de construção e outros tipos de comércio na rua. Tudo isso foi embora e agora chegou a vez da livraria ser expulsa. Os restaurantes conseguem pagar um aluguel de valor mais alto; nós não”, ela diz.
Nos próximos dias, as sócias devem lançar a versão online da loja.
Ao longo desses cinco anos, a Mandarina promoveu lançamentos de obras de autores brasileiros, como Milton Hatoum e Conceição Evaristo, e estrangeiros, caso do angolano Gonçalo M. Tavares. Também recebeu cursos sobre escritores como Clarice Lispector e Virginia Woolf.
Nesse período, nas palavras de Paixão, elas venderam “o que a gente entende”, o que inclui literatura e humanidades, de psicologia a teoria literária. Nada de publicações de auto-ajuda e livros técnicos.
“Se não tiver uma regulação no mercado, como esse projeto em discussão no Congresso, outras livrarias de rua vão fechar”, diz Paixão. Ela se refere à Lei Cortez, que propõe fixar o preço de livros recém-lançados pelo período de um ano -o ajuste máximo permitido seria de 10%. A medida evitaria descontos que a indústria do livro considera abusivos.
NAIEF HADDAD / Folhapress