RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Local escolhido para servir de ponto de concentração dos torcedores do Peñarol antes do duelo com o Botafogo, no Nilton Santos, a Praia do Pontal que faz parte da orla do Recreio transformou-se em uma verdadeira praça de guerra na última quarta-feira (23).
A região foi indicada pela Polícia Militar com o consenso do próprio consulado do Uruguai, muito embora a associação de moradores do bairro fosse contra e a Prefeitura do Rio sinalizasse com outras alternativas.
O QUE ACONTECEU
Uma reunião entre a PM e o consulado aconteceu na última segunda (21). Na ocasião, foram alinhadas as estratégias de segurança e definida a Praia do Pontal como o ponto de partida dos torcedores do Peñarol.
O Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (Bepe) chegou a postar o encontro de forma confiante: “A segurança dos jogadores, das equipes e das torcidas foi o tema central da reunião. Estamos trabalhando para garantir que você aproveite o grande espetáculo com total segurança”.
A avaliação foi a de que a Praia do Pontal ofereceria um isolamento aos uruguaios, já que fica distante de pontos mais turísticos e visados, como Copacabana, Ipanema, Arpoador, Leblon e Barra da Tijuca.
O próprio Peñarol divulgou um comunicado avisando aos torcedores na manhã de terça. A nota dizia que o local tinha capacidade para receber “toda a torcida e fica na frente da praia, ideal para quem quer aproveitar o dia antes da partida”.
Se tinha também um entendimento de que a segurança havia funcionado na localidade no duelo do Peñarol com o Flamengo, na fase anterior, muito embora tivessem ocorrido brigas, corre-corre e ofensas, segundo moradores e comerciantes.
Na ocasião, porém, os uruguaios ficaram ainda mais isolados na região. Eles se concentraram em um camping na Praia da Macumba, que fica depois do Pontal, e com um efetivo policial muito maior.
PM ADMITE FALHAS
O secretário estadual de Segurança Público do Estado do Rio, Victor Santos, admitiu falhas no planejamento. Ele colocou para si a responsabilidade do caos instaurado no Recreio.
Santos confessou que “subestimou” a torcida do Peñarol, mas ressaltou que os três ônibus que causaram as confusões não haviam avisado ao consulado do Uruguai sobre suas chegadas.
A principal falha apontada foi o pouco efetivo de policiais. No início da selvageria, a PM ficou acuada e não conseguiu conter os uruguaios.
O reforço no policiamento estava previsto, inicialmente, somente para as 17h30. As brigas, porém, começaram por volta das 12h e o vandalismo se estendeu por cerca de uma hora e meia sem cessar. Os torcedores do Peñarol só conseguiram ser contidos com a chegada do Batalhão de Choque.
Os estragos, no entanto, já estavam feitos na região: dois quiosques destruídos, ao menos cinco motos incendiadas, uma guarderia de pranchas queimada, um carro apedrejado, além de outros prejuízos.
LOCAL GERA TROCA DE FARPAS ENTRE PREFEITURA E GOVERNO
A escolha pela Praia do Pontal foi alvo de críticas por parte do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Segundo ele, a Prefeitura havia alertado ao Governo do Estado sobre os riscos de se abrigar a torcida do Peñarol naquela região. A sinalização ainda foi reforçada pela Associação de Moradores do Recreio dos Bandeirantes.
Como opção, segundo Paes, foi sugerido o antigo Parque dos Atletas, também na Zona Oeste, mas numa região mais isolada, próxima do Rio Centro.
O prefeito, porém, diz que a Polícia Militar rechaçou a ideia e garantiu a segurança. Já o secretário de Segurança Pública do Estado, Victor Santos, o ironizou, dizendo que o político “ainda estava em campanha”, se referindo às eleições municipais recentes, onde Paes se reelegeu no primeiro turno.
Com o caos já instaurado no Recreio no dia do jogo, as autoridades ainda não conseguiram deslocar alguns ônibus para o Parque dos Atletas, impedindo que mais torcedores do Peñarol chegassem à Praia do Pontal.
20 URUGUAIOS SÃO PRESOS E DEMAIS DEIXAM O RIO
No total, 20 torcedores do Peñarol seguem presos no Rio de Janeiro. Eles dormiram na Cidade da Polícia e foram levados na manhã de quinta-feira (24) para o presídio José Frederico Marques, em Benfica, também na Zona Norte (RJ), onde passarão por audiência de custódia nesta sexta (25).
Outros dois torcedores do Peñarol ficaram presos na 16ª DP (Barra da Tijuca). Um deles é menor de idade e foi transferido para a Vara da Infância e da Juventude.
A audiência de custódia decidirá se eles permanecerão presos no Rio ou responderão em liberdade. Caso continuem em cárcere, eles serão transferidos para presídios da cidade.
Os uruguaios foram autuados por diversos crimes: porte de arma, racismo, roubo, associação criminosa, incêndio, dano qualificado e resistência à prisão. Além disso, responderão também por artigos do Estatuto do Torcedor.
Os demais detidos no dia anterior cerca de 260 foram escoltados até a divisa do Rio para deixar o estado. Eles também responderão por artigos do Estatuto do Torcedor.
BRUNO BRAZ / Folhapress