PORTO ALEGRE, RS, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse nesta sexta-feira (15) em Porto Alegre que a democracia corre risco no Brasil e em outros países. O petista citou nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Argentina, Javier Milei, ao abordar o assunto.
“A política está tomada por um ódio que certamente a maioria de vocês que fazem política aqui nunca tenham vivido isso. [A convivência pacífica entre adversários] Acabou no Brasil, acabou nos Estados Unidos, está acabando em Portugal, acabou na Espanha e está acabando em muitos outros países”, disse Lula.
“A democracia está correndo risco. Possivelmente, porque mudamos de comportamento. A esquerda e os setores progressistas antes criticavam o sistema. Na hora que ganham as eleições, passam a fazer parte do sistema e a direita que fica fora diz que é contra o sistema”, afirmou.
“Quem é contra o sistema hoje que critica tudo é o Milei na Argentina, até o Banco Central ele quer fechar, cortar tudo com o serrote. É aqui o Bolsonaro, que eu não queria falar o nome dele, mas até hoje ele não reconhece a derrota dele. Ele fala ‘não sei como perdi’. Ele não sabe porque gastou quase 300 bilhões de reais e achava que não ia perder e perdeu”, acrescentou Lula, em discurso.
“Temos que lutar para recuperar o valor das instituições que garantem a democracia.”
As falas foram proferidas durante evento em Porto Alegre para anúncios de R$ 29,5 bilhões em investimentos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Rio Grande do Sul.
O presidente também classificou o estágio atual da política como “medíocre” e lamentou que a América do Sul tenha, além dele, outros três presidentes de esquerda: Gabriel Boric, do Chile, Gustavo Petro, da Colômbia, e Luis Arce, da Bolívia. Lula não mencionou o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
“Em todas as lutas que a gente tem que fazer daqui pra frente, a gente tem que lembrar que o que corre risco no mundo hoje é a democracia, pelo fascismo, nazismo, extrema-direita raivosa, ignorante, bruta, que ofende e não acredita nas pessoas (…) Temos que convencer o povo e os democratas que não é possível defender a democracia com fome, com racismo e com a desigualdade estampada na saúde, educação, nos transportes, de gênero, de raça, de tudo.”
Lula também abordou as recentes pesquisas que indicam queda de popularidade do presidente, como levantamento da Quaest divulgado dia 6 de março que mostra que a avaliação negativa do governo cresceu e foi a 34%. Já na cidade de São Paulo, a reprovação de Lula subiu 9 pontos percentuais e atingiu 34%, conforme mostrou o Datafolha.
“Esses dias saiu uma pesquisa e a imprensa me perguntou, eu falei ‘tudo bem’. É porque estou aquém do que o povo esperava que eu tivesse. Não estou cumprindo aquilo que eu prometi. Porque quando planto um pé de jabuticaba, eu não chupo a fruta no dia seguinte, tenho que esperar ela crescer, brotar, para poder [comer]. E é esse ano [2024] que a gente começa a colher o que a gente plantou o ano inteiro [de 2023]”, disse Lula.
Além do presidente, estavam presentes no evento o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), que foi vaiado pela plateia. Outros ministros do governo federal também compareceram.
Entre as obras da nova edição do PAC no Rio Grande do Sul estão a duplicação da BR-116, de Porto Alegre a Pelotas, a construção da segunda ponte sobre o Rio Guaíba (BR-116/290), a duplicação da BR-290 e as conclusões das barragens Arroio Jaguari, Arroio Taquarembó e Arvorezinha.
As construções do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria, do Centro de Apoio Diagnóstico e do Centro de Atendimento ao Paciente Crítico e Cirúrgico, ambos do Grupo Hospitalar Conceição, também foram prometidas.
O governador Eduardo Leite pediu a Lula discussões sobre a renegociação da dívida do Rio Grande do Sul. No discurso, o presidente prometeu diálogo e disse que o governo federal tem “obrigação de tentar encontrar uma solução”.
CARLOS VILLELA E JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress