Lula diz que Campos Neto trabalha contra o país e Tarcísio influencia BC

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse na manhã desta terça-feira (18) que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem lado político e trabalha para prejudicar o país.

Ele também comparou-o com o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro e citou o jantar que o governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) fez em homenagem ao presidente da autoridade monetária. Para o presidente, o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) tem mais influência nas decisões de Campos Neto do que ele.

A declaração foi dada em entrevista à rádio CBN. O chefe do Executivo criticou ainda a taxa de juros, que começa hoje a ser analisada pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central —a decisão sobre a taxa será tomada nesta quarta (19). Para ele, não há motivo para a taxa Selic continuar igual.

“O presidente do Banco Central, que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país”, afirmou, após declarar que a autoridade monetária está “desajustada”.

Lula citou ainda o jantar em homenagem feito a Campos Neto em São Paulo, e sugeriu que ele teria pretensões político-eleitorais.

“[Tarcísio] Tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%”, disse Lula.

“A quem esse rapaz é submetido, como ele vai numa festa em São Paulo, quase assumindo candidatura um cargo no governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?”, questionou.

A festa a que ele se refere ocorreu no Palácio dos Bandeirantes, na semana passada, por iniciativa de Tarcísio. O governador convidou alguns aliados, banqueiro e empresários num jantar a Campos Neto, que levou sua família.

Horas antes ele foi homenageado com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), maior condecoração da Casa. A honraria foi proposta pelo deputado bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos), vice-líder do governo Tarcísio na Alesp.

Segundo relatos de presentes, o jantar teve clima ameno e descontraído. Nas conversas, Campos Neto era elogiado pela conduta à frente do BC, criticada por Lula.

“Quando ele se auto lança a um cargo…Vamos repetir [Sérgio] Moro? Presidente do Banco Central está disposto a fazer mesmo papel que Moro fez, paladino da justiça com rabo preso com compromissos políticos?”, questionou.

A comparação com Moro se dá porque, como mostrou o Painel SA, o presidente do Banco Central sinalizou a Tarcísio que aceitaria um eventual cargo de ministro da Fazenda, num eventual governo, caso ele concorra e ganhe eleição.

Campos Neto foi alçado à presidência do BC por Bolsonaro, e ficou amigo de Tarcísio, à época ministro da Infraestrutura.

Já Moro, hoje senador, foi juiz da Operação Lava Jato, responsável pela condenação que levou à prisão de Lula no passado. Depois da eleição de 2018, deixou a magistratura e aceitou convite para ser ministro da Justiça de Bolsonaro.

Depois, Lula teve condenações da Lava Jato anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e pôde voltar à política.

Durante a entrevista desta segunda-feira, o presidente também voltou a criticar o que considera ser alta taxa de juros básico da economia.

Ele disse que conversa com presidentes de bancos internacionais e que há muito otimismo com país, relatou índices positivos e disse ficar “triste” com a Selic.

“Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Não pode continuar com taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. (…) Que o Banco Central de comporte na perspectiva de ajudar esse país, não atrapalhar o crescimento do país”, afirmou.

Apesar dos apelos de Lula, a perspectiva vai na contramão. Os economistas do mercado financeiro esperam uma decisão unânime do Copom pela manutenção da taxa básica de juros –a Selic– no atual patamar de 10,50% ao ano.

Lula evitou comentar quem indicaria para a sucessão de Campos Neto no Banco Central, cujo mandato se encerra em 31 de dezembro, mesmo sendo diretamente questionado sobre o diretor e ex-secretário da Fazenda, Gabriel Galípolo, tido como um dos favoritos ao cargo.

“Vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável. Alguém que tenha responsabilidade pelo cargo que exerce. Alguém que não se submeta a pressões do mercado, faça aquilo que for de interesse dos 213 milhões de brasileiros”.

MARIANNA HOLANDA / Folhapress

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