BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse nesta quinta-feira (29) que a criação do Foro de São Paulo é uma “bênção” para a América Latina e que é preciso rediscutir o discurso da esquerda para evitar o avanço do que chamou de “direita fascista”.
Lula afirmou que os adversários usam “fake news” sobre o foro para atacar a esquerda e fez um apelo por unidade dentro do campo. Para o presidente, é melhor que ter “um companheiro” de esquerda cometendo “alguns erros” do que alguém da extrema direita no poder.
“Portanto, é muito melhor ter um companheiro da gente fazendo alguns equívocos para a gente criticar do que alguém de direita governando que não permita sequer que a gente tenha espaço para fazer criticas, contando mentiras, usando fake news, violentando qualquer parâmetro de dignidade para voltar ao poder”, afirmou.
O petista ainda avalia que a “direita fascista” tem crescido e ganhado espaço no mundo e que é preciso repensar o discurso da esquerda.
“É preciso a gente rediscutir o discurso da esquerda. É preciso que a gente repita o que a gente quer e como vamos fazer para conquistar. Muitas vezes a direita tem mais facilidade que nós com o discurso fascista”, afirmou.
Durante o discurso, Lula disse que o foro foi criado para que os partidos de esquerda pudessem vencer na democracia. O petista comentou que não deixou o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, participar do Foro na época em que seu companheiro do país vizinho havia tentado dar um golpe no país.
“Não deixamos Chávez participar porque ele tinha tentado dar o golpe na Venezuela, tinha tentado dar um golpe e quando chegou em El Salvador, não deixamos o Chávez participar. Por que você não é democrático, não vai participar do Foro, todos tinham essa consciência”, disse Lula.
O Foro de São Paulo, congregação de partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe, é criticado pela direita e até mesmo por setores progressistas por ser complacente com ditaduras na América Latina, sobretudo depois da visita do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil.
Lula esteve no principal evento do dia de abertura do encontro, em Brasília –foi a primeira reunião da aliança de países desde a pandemia e aconteceu na capital brasileira justamente em razão da eleição do petista em 2022.
O principal tema do evento, a integração regional, vai ao encontro da agenda de política externa do petista, que reuniu 11 líderes de países da América do Sul em Brasília no mês passado.
O 26° encontro acontece ainda num contexto de preocupação da esquerda com as fake news. A versão de que o Foro de São Paulo pretende implantar ditaduras de esquerda na região é atribuída por petistas a Olavo de Carvalho, escritor guru do bolsonarismo morto em janeiro de 2022.
Com a diretriz de que a definição do seu regime político cabe a cada país e sua população, o foro, que se posiciona contra o imperialismo e o neoliberalismo, evita tratar do cerceamento de opositores e violações dos direitos humanos em países como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Questionados sobre conivência com as ditaduras de esquerda, integrantes do foro se esquivam de criticar o autoritarismo de países aliados e argumentam que a organização preza pela mediação e pela construção do diálogo, rechaçando interferência nos 28 países-membros.
Além disso, o foro não se posiciona acerca do que não é consenso entre os cerca de 130 partidos e entidades que o compõem -incluindo nacionalistas, socialistas e comunistas.
Segundo dirigentes do grupo, porém, o foro tem compromisso com a democracia e todos os seus membros defendem que a disputa política deve se dar por meio de eleições -e não de revoluções.
No Brasil, PT, PC do B e PCB são os partidos que compõem o foro. Com uma crítica ao autoritarismo de Maduro, o PSB decidiu deixar o foro em 2019.
Além da integração regional, organizadores do foro dizem que as discussões vão se concentrar em políticas de desenvolvimento e na agenda ambiental de preservação da Amazônia.
O evento terá convidados estrangeiros, como o Democratas Socialistas da América, grupo do senador Bernie Sanders dentro do Partido Democrata dos EUA, e o Partido Esquerda Europeia, que integra o Parlamento Europeu.
JOÃO GABRIEL E JULIA CHAIB / Folhapress