BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse nesta segunda-feira (8) que a ministra Nísia Trindade (Saúde) fala manso com a alma e a consciência das pessoas. A declaração foi um gesto, depois de ele ter cobrado a titular da pasta, em uma reunião ministerial no mês passado, a “falar grosso”.
Na época, Nísia chegou a se emocionar e deixou a reunião amparada pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
“Se é um homem falando ele certamente ia falar grosso. Ia dar impressão de que estava falando de coisas que são inexequíveis, impossíveis de serem feitas. Eu acho que Nísia, falando manso do jeito que ela falou, posso até achar Nísia que pode até alguém não gostar de você, mas duvido que tenha alguém que não acredite em cada palavra que você fala”, disse Lula.
“Seu jeito delicado de falar sem rompante, sem tentar passar entusiasmo além do necessário, você consegue falar com alma e consciência das pessoas”, prosseguiu.
A declaração foi dada durante coletiva de imprensa com jornalistas da saúde e a ministra Nísia Trindade, no Palácio do Planalto.
Na época da reunião ministerial, Nísia foi duramente cobrada pelo presidente. A ministra foi destacada para falar aos colegas de Esplanada devido a problemas enfrentados em sua pasta.
De acordo com relatos, Lula perguntou quanto tempo duraria sua exposição, se apenas dez minutos. O presidente teria dito, então, que seria necessária uma hora caso ela tivesse que se manifestar sobre reportagem apresentada pelo Fantástico, da TV Globo, na véspera, sobre a situação dos hospitais federais no Rio de Janeiro.
A ministra da Saúde disse sofrer muita pressão política e afirmou que algumas pessoas cobram que ela fale grosso, mas que ela vai continuar falando como faz atualmente, com “contundência”.
Segundo pessoas que acompanharam a reunião, a ministra ficou com a voz embargada quando falou que na condição de mulher não iria falar grosso e que não seria certo ser cobrada por isso. Em seguida, Lula disse que ela era uma mulher “mansa e firme”.
O presidente disse que a ministra será mantida no cargo, afirmando que apenas ele é quem nomeia e demite no governo.
Nísia foi alvo de seguidas cobranças do centrão devido aos critérios para liberação de emendas parlamentares.
Além do desagravo à ministra, a fala de Lula também ocorre em meio a pressões renovadas por uma reforma ministerial. A discussão voltou à agenda do dia com a nova crise da Petrobras, que pode levar a uma troca no comando da companhia, hoje sob Jean Paul Prates.
Aliados de Lula acreditam que a mudança na empresa pode antecipar outras trocas que estavam previstas para mais adiante. A Saúde é sempre um dos ministérios citados, por ser alvo da cobiça do centrão.
Por um lado, ele entra na disputa de aliados do Congresso Nacional. Por outro, um dos cotados para uma eventual sucessão de Nísia Trindade seria o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que já comandou a pasta em outros governos.
MARIANNA HOLANDA E RAQUEL LOPES / Folhapress