Lula evita pedir voto, mas reforça estratégia eleitoral de Boulos e acirra guerra de vices

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) dividiu palanque com Guilherme Boulos (PSOL) em evento do governo federal neste sábado (29) em São Paulo e reforçou a estratégia eleitoral do seu aliado, mas evitou pedido de voto após ter sido condenado por campanha antecipada no 1º de Maio.

Lula exaltou a ex-prefeita e vice de Boulos, Marta Suplicy (PT), e disse haver preconceito contra quem adota políticas sociais a favor dos mais pobres. O discurso vai em sintonia com a tentativa do pré-candidato do PSOL à prefeitura de se contrapor ao ex-Rota e coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL), escolhido para a vice de Ricardo Nunes (MDB).

O presidente se referiu a Marta como “a mulher que criou os CEUs e transporte integrado” e que “fez uma gestão extraordinária”. Disse que Marta “cuidou muito das pessoas mais pobres” e que ela foi derrotada em sua tentativa de reeleição em 2004 em razão de preconceito.

“A única coisa que justifica [a derrota de Marta] é o preconceito contra as pessoas que fazem política dando preferência para os pobres”, afirmou Lula. Na quinta (27), ao criticar Jair Bolsonaro (PL) e a derrota do rival em 2022, ele afirmou que “quem está na Presidência [da República] só perde a eleição se for incompetente”.

Apesar de destacar a “preferência” para os pobres, Lula disse querer “governar para o povo brasileiro” de modo geral, inclusive “para que os empresários ganhem dinheiro”. “Quero que a economia cresça, que todo mundo cresça.”

“Efetivamente eu não sou o pai dos pobres. Eu sou um pobre que chegou à Presidência da República por causa dos pobres desse país que me elegeram.”

Neste sábado, antes do presidente, Boulos, no mesmo palanque, deu recados indiretos a Nunes ao criticar o tratamento diferente dado a moradores da periferia e de bairros ricos.

Escolhido para a chapa de vice do atual prefeito, Mello Araújo defendeu em 2017 ao UOL diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins e na periferia.

“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse na época.

Boulos usou o palanque do evento com Lula neste sábado para dar recados políticos ao seu principal rival na disputa eleitoral.

“Enquanto tem gente que ainda hoje acha que um morador da periferia tem que ser tratado diferente do morador dos Jardins, nós que estamos aqui temos a certeza e a convicção de que o morador de Itaquera e Cidade Tiradentes tem que ser tratado com o mesmo respeito que o morador dos Jardins, do Morumbi ou de qualquer bairro rico desta cidade. Esta é diferença. É isto que está em jogo”, afirmou.

Além da contraposição à fala de Mello Araújo, Boulos fez críticas ao modelo de escolas militares, defendido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e por Nunes.

Em entrevista coletiva, Boulos rebateu críticas de Nunes de que o evento deste sábado seria um ato político, não de governo. “O atual prefeito se tornou refém de Bolsonaro. Tem medo de aparecer em evento do governo federal e ser atacado por bolsonaristas.”

Ele criticou a posição de Nunes favorável às escolas militares. “Papel de militar não é dentro de sala de aula. Acho lamentável que o atual prefeito de São Paulo cumpra de maneira descriteriosa a ideia de escolas militares que o governador está fazendo.”

Lula e Boulos dividiram palanque em cerimônias de inauguração de novos campi de institutos federais e expansão do metrô em São Paulo.

Adotaram uma atitude mais comedida nos discursos, depois de condenação pela Justiça a pagamento de multa em razão de fala no 1º de Maio considerada propaganda eleitoral antecipada.

Na ocasião, Lula afirmou que a disputa paulista pela prefeitura seria uma “verdadeira guerra” e pediu que seus eleitores votassem em Boulos. ” Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018… 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, disse no 1º de Maio.

O juiz eleitoral Paulo Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, condenou Lula e Boulos ao pagamento de multas de, respectivamente, R$ 20 mil e R$ 15 mil por causa do discurso do presidente no 1º de Maio.

Neste sábado, no palco de Lula, além de Boulos, Marta e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, estiveram ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Jader Filho (Cidades), além dos deputados petistas Jilmar Tatto e Rui Falcão e da primeira-dama Janja.

A programação de Lula é marcada por dois eventos, um na manhã e outro de tarde. De manhã, os políticos participaram de cerimônia de lançamento da pedra fundamental do campus Zona Leste da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do campus Cidade Tiradentes do IFSP (Instituto Federal de São Paulo).

De tarde, ocorre ato sobre a expansão do IFSP no bairro Jardim Ângela e a vinda de recursos do Novo PAC para a expansão da linha 5 lilás do metrô.

Antes de discursar pela manhã, Lula disse que iria corrigir “um pequeno equívoco” por não terem falado antes dele dois representantes de movimentos sociais, cedendo a palavra.

Lula afirmou que sua gestão encontrou o país como a “Faixa de Gaza no estado Palestino”, dizendo que encontraram o Brasil sem ministério, com rombo e sem governança.

Afirmou também não estar “preocupado em quem é governador de São Paulo, mas com quem é o povo que necessita”.

O evento deste sábado é exemplo de esforço do petista para alavancar a candidatura de Boulos à Prefeitura de São Paulo, em cenário reconhecido como prévia da disputa nacional entre Lula e o bolsonarismo.

Não participaram do evento o governador e o prefeito. Tarcísio está em viagem até início de julho, enquanto Nunes afirmou que os eventos têm sido tratados pelo presidente como atos políticos.

De olho nos dois próximos pleitos, o mandatário tem dito que pode se candidatar em 2026 se for para combater a volta de “trogloditas” e “fascistas”, além de falar em somar esforços em 2024 para evitar o avanço da extrema-direita.

ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress

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