BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Com a substituição de Fernanda Guardado pelo professor Paulo Picchetti na diretoria de Assuntos Internacionais, o Banco Central passará a ter apenas uma mulher na cúpula da autoridade monetária no próximo ano: Carolina de Assis Barros (Administração), cujo mandato expira em 31 de dezembro de 2024.
Embora o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defenda publicamente que haja maior diversidade em postos de comando, tendo inclusive lançado recentemente a iniciativa Brasil sem Misoginia, o que se vê na prática são ações que vão na direção contrária à equidade de gênero.
Na semana passada, Rita Serrano foi demitida da presidência da Caixa Econômica Federal. Ela foi a terceira mulher dispensada de cargos de alto escalão desde o início do governo Lula, em menos de um ano após a gestão petista se vangloriar de que tinha a Esplanada com a maior quantidade de ministras mulheres da história.
Em meio à ofensiva do centrão por mais espaço na atual administração, também foram obrigadas a deixar seus cargos Daniela Carneiro (ex-ministra do Turismo) e Ana Moser (ex-ministra dos Esportes).
No BC, apenas cinco mulheres chegaram a ocupar postos na diretoria. A primeira foi Tereza Grossi, que morreu no mês passado aos 74 anos. A servidora de carreira do BC foi diretora de Fiscalização entre 2000 e 2003. Foi a primeira mulher a integrar o Copom (Comitê de Política Monetária).
Depois dela, Maria Celina Arraes chefiou a área de Assuntos Internacionais entre 2008 e 2010. Ela foi a responsável pela implementação do SML (Sistema de Pagamentos em Moeda Local), mecanismo que tem como foco facilitar transações entre países do Mercosul.
Após um longo vácuo sem mulheres no alto comando do BC, Barros assumiu a diretoria de Administração em 2018, na gestão de Ilan Goldfajn, antecessor do atual presidente, Roberto Campos Neto.
O colegiado do BC passou a ter duas mulheres simultaneamente pela primeira vez em 2019, com a entrada de Fernanda Nechio, ex-diretora de Assuntos Internacionais. Ela ficou no cargo até 2021, quando deixou o cargo por “razões pessoais”.
A vaga foi preenchida por Guardado, que terminará seu mandato em 31 de dezembro deste ano.
Em março, em um evento no TCU (Tribunal de Contas da União) sobre equidade de gênero no setor público, Campos Neto admitiu que essa é uma realidade ainda distante na autoridade monetária.
“O que nos preocupa é que esse número se mantenha estável há muitos anos, indicando necessidade de ações para que ele cresça e que possamos ter uma representatividade maior de mulheres em funções de liderança, pelo menos para refletir a proporcionalidade de servidores ativos do nosso quadro”, disse.
Segundo o presidente do BC, dos 3.372 servidores ativos que formam os quadros da instituição ocupando as carreiras de analistas, técnicos e procuradores, apenas 23% são mulheres, contra 77% homens.
“Quando olhamos se a proporção está refletida nos cargos de liderança, vemos que de maneira geral até está, mas a balança ainda pende para uma proporção maior de comissionados homens do que mulheres. Temos atualmente 19,4% de mulheres ocupando funções comissionadas”, complementou.
Na ocasião, Campos Neto disse que o panorama mostrava que seria possível “melhorar muito” quanto à representatividade feminina no BC. A declaração vai na contramão da decisão tomada pelo governo Lula.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) também anunciou nesta segunda-feira (30) o servidor Rodrigo Alves Teixeira como substituto de Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta).
Os nomes indicados ainda passarão por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal e levados ao plenário para aprovação.
NATHALIA GARCIA / Folhapress