GENEBRA, SUIÇA (FOLHAPRESS) – Diante de um público francamente amistoso, que em vários momentos puxou o coro de “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu em discurso no plenário da ONU a taxação dos super-ricos, atacou o bilionário Elon Musk e criticou a hegemonia dos países ricos no setor de inteligência artificial (IA).
O discurso de Lula em Genebra encerrou na tarde desta quinta-feira (13) o primeiro fórum da Coalizão Global pela Justiça Social, realizado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) como parte de sua conferência anual sobre o trabalho.
“A concentração [de renda] é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais. Não vamos buscar a saída em Marte”, disse Lula, alfinetando o projeto espacial do bilionário dono do X e usando a fortuna dele como exemplo para defender a taxação das grandes fortunas.
Lula aproveitou o discurso para reiterar pautas promovidas pelo Brasil na presidência rotativa do G20 o grupo de maiores economias mundiais, relacionadas à redução das desigualdades no planeta. O país ocupará o comando do G20 até o final de novembro.
Ao falar de IA, Lula propôs que os países do Sul Global, expressão usada para se referir aos países em desenvolvimento, criem um projeto próprio para a tecnologia. Também acusou os países ricos de tentarem “manipular o restante da humanidade” ao criá-la. “É importante dizer para o povo que a inteligência artificial nada mais é que a esperteza de alguns empresários que acumulam todos os dados [das pessoas]”, afirmou.
Em dois momentos do discurso, Lula mencionou as “milhares de mulheres e crianças” vítimas da guerra na Faixa de Gaza. Elogiou o premiê espanhol, Pedro Sánchez, por regulamentar os aplicativos de transporte, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem assinou no ano passado um compromisso de defesa dos direitos trabalhistas. Ainda aproveitou o discurso para citar números da economia brasileira, segundo ele em recuperação, com criação de empregos e investimento estrangeiro na indústria automobilística.
O presidente brasileiro foi um dos dois únicos chefes de Estado presentes ao fórum da OIT. O outro foi o presidente do Nepal, Ram Chandra Paudel, que discursou pela manhã. Indicado para a “copresidência” do fórum, Lula era o convidado de honra do evento.
O petista teve tratamento de rockstar da chegada ao prédio da ONU até a saída. Funcionários se acotovelaram para conseguir uma selfie ou um abraço. A primeira-dama, Janja, que assistiu ao discurso de um dos assentos da delegação brasileira no plenário, também foi tietada.
Ao apresentar o brasileiro ao plenário, o presidente da conferência, Alexei Buzu, ministro do Trabalho da Moldova, agradeceu-lhe “por ter salvado a Amazônia para nós”.
O presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde), o etíope Tedros Adhanom, também agradeceu a Lula, a quem chamou de “meu irmão”, por “fazer da saúde uma prioridade da presidência do G20”.
Em seu discurso, o diretor-geral da OIT, o togolês Gilbert Houngbo, mencionou as enchentes de maio no Rio Grande do Sul como exemplo de catástrofe relacionada às mudanças climáticas.
“Esse evento nos lembrou uma vez mais a urgência de acelerar a transição justa para economias sustentáveis, apoiando a economia verde.”
O fórum da Coalizão Global reuniu representantes de governos, trabalhadores e empresários para discutir soluções concretas para problemas que afetam trabalhadores de todo o planeta.
No início da noite, Lula participou de uma homenagem ao escritor Paulo Coelho, morador de Genebra, e seguiu para a região da Puglia, na Itália, onde participa como convidado da cúpula do G7, grupo que reúne sete das maiores economias do mundo mais a União Europeia.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress