SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) recebeu alta hospitalar neste domingo (15) após seis dias de internação. Ele foi para sua casa na região de Pinheiros, em São Paulo, onde deve ficar até a próxima quinta-feira.
O mandatário fez uma cirurgia de emergência na terça-feira (10) em razão de um hematoma de três centímetros entre o cérebro e uma das membranas (meninges) que envolvem o órgão.
O coágulo foi detectado após ele sentir fortes dores de cabeça na segunda-feira (9), quando foi encaminhado para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Lula saiu do hospital e foi para sua casa em São Paulo. Ele deverá ficar na cidade até quinta-feira, quando fará uma tomografia. Depois disso, poderá ir para Brasília.
Segundo o cardiologista Roberto Kalil, médico do petista, ele terá algumas restrições nos próximos 30 dias, como de atividade física intensa e viagens internacionais. Lula ainda deve ter acompanhamento tomográfico até a completa cicatrização, o que pode levar de 45 a 60 dias.
O presidente falou a jornalistas após a entrevista coletiva de sua equipe médica. Ele estava junto à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Segundo os médicos, Lula pode tirar o curativo depois de chegar em casa neste domingo. O curativo não estava visível, pois o mandatário compareceu à entrevista de chapéu.
Lula se emocionou ao falar de sua internação e disse ter ficado assustado. Agradeceu a Deus por ter cuidado dele, citando situações anteriores em que sua saúde ficou em risco, como quando teve câncer em 2011 e seu avião teve um problema no México.
“Eu nunca penso que vou morrer, mas eu tenho medo”, afirmou o presidente, que disse ter ficado assustado com o quadro que levou à cirurgia de emergência na terça-feira (10).
O petista disse que estava cortando as unhas das mãos, em outubro deste ano, quando caiu e se machucou.
“A única surpresa que eu tive é que eu achei que estava curado [depois da queda]”. Ele afirmou que, por isso, continuou a vida normalmente, inclusive fazendo exercícios físicos mais intensos. Lula relatou, entretanto, que percebeu haver algo errado quando, na segunda-feira (9), percebeu sintomas como lentidão, olhos vermelhos e muito sono. Em seguida, disse ter entrado em contato com os médicos para falar do quadro.
“Eu só fui ter noção da gravidade já depois da cirurgia pronta, depois da cabeça estar nova”, afirmou, dizendo que vai se cuidar e seguir as orientações médicas nos próximos dias.
“Vocês sabem que eu reivindico o direito de viver até 120 anos, porque quem vai viver 120 anos já nasceu, e eu acho que eu tenho o direito de reivindicar que seja eu”, brincou.
Durante a fala à imprensa, o presidente também comentou a prisão do general Braga Netto, ex-ministro e vice de chapa de Jair Bolsonaro (PL).
Lula defendeu que o militar, preso neste sábado (14) sob suspeita de tentativa de interferência nas investigações a respeito da trama golpista de 2022, tenha direito à presunção de inocência.
“O que eu não tive, eu quero que eles tenham: todo o direito e todo o respeito para que a lei seja cumprida. Mas, se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente”, disse.
O petista afirmou que tem paciência e que é democrático, defendendo o devido processo legal a Braga Netto e indiciados na trama golpista. Falou, entretanto, que deve haver punição se os envolvidos forem considerados culpados.
“Esse país teve gente que fez 10% do que eles fizeram e que foi morto na cadeia. Não é possível a gente aceitar o desrespeito à democracia, não é possível a gente aceitar o desrespeito à Constituição e não é possível a gente admitir que, em um país generoso como o Brasil, a gente tenha gente de alta graduação militar tramando a morte de um presidente da República, tramando a morte de seu vice [Geraldo Alckmin] e tramando a morte de um juiz que era presidente da suprema corte eleitoral [Alexandre de Moraes]”.
Ele disse ser seu desejo que o Brasil volte à sua “normalidade democrática”, com o respeito às instituições. ” Cada um cumpra com o seu papel, cada macaco no seu galho, tudo ficará resolvido nesse país”, disse.
Na quinta-feira (12), Lula foi submetido a uma embolização, procedimento para reduzir o risco de novo sangramento intracraniano.
Um dia depois do procedimento, o mandatário divulgou imagens caminhando nos corredores do hospital. Na ocasião, ele agradeceu mensagens e orações, dizendo estar “firme e forte”, e passou a ter cuidados “semi-intensivos”, com monitoramento em intervalos ampliados.
Segundo os médicos, ele se recupera bem e tem “cognição e memória perfeitas”. A equipe médica também informou que o presidente pode continuar normalmente com as atividades típicas do cargo, inclusive participando de reuniões. O que ele deve evitar são atividades físicas intensas e viagens longas.
“O que é importante é a gente entender que o paciente [Lula] não tem uma doença. Ele teve uma intercorrência, uma problema relacionado à queda [de outubro]. Resolvido esse problema, não é uma coisa que fica crônica, está resolvido. Ele está curado disso”, afirmou o neurologista Rogério Tuma, ressaltando que existe um tempo para a cicatrização total depois da cirurgia.
Além de Tuma, participam da coletiva os médicos José Guilherme Caldas, o cardiologista Roberto Kalil Filho, o neurocirurgião Marcos Stávale e Ana Helena Germoglio, médica do presidente.
ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress