BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu, na noite desta segunda-feira (8), com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) em meio à crise na Petrobras.
O encontro estava previsto na agenda oficial das autoridades e durou cerca de 40 minutos, segundo a Secom.
Especulações aumentaram nas últimas semanas sobre a permanência de Jean Paul Prates à frente da companhia. Uma ala de interlocutores de Lula defende arrefecer a crise, mantendo o executivo na presidência da Petrobras, sob condição de que ele adote posicionamento mais próximo ao que a União quer e evite atritos públicos.
O ministro da Fazenda é um dos que, até o momento, defendia a permanência de Prates.
Haddad era esperado na manhã desta segunda no Rumos 2024, evento promovido pelo jornal Valor Econômico em São Palo, mas cancelou sua presença.
Ele iria presencialmente à abertura do evento, mas mudou de planos após ser convocado pelo presidente para reunião no Palácio da Alvorada na noite de domingo (7). Na pauta, a sucessão da Petrobras.
O ministro escalou seu secretário-executivo, Dario Durigan, para participar do evento.
Ele deixou São Paulo no fim da tarde, mas o encontro com Lula não ocorreu. Embora não confirmada pela assessoria do presidente, a reunião estava prevista para as 20h e acabou cancelada. A causa seria a contrariedade de Lula com vazamento da agenda extraoficial.
A expectativa era que Haddad intercedesse em favor da permanência de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, sob argumento de que não haveria motivos técnicos para sua demissão.
A crise na companhia expôs falta de coordenação no governo Lula 3 e acirrou intrigas e atritos na Esplanada. Apontada por aliados do presidente como um momento difícil do terceiro mandato de Lula, a semana passada foi marcada por desconfiança entre os principais ministros do governo.
A tensão toma conta da equipe do presidente em meio à tentativa do governo de reverter a tendência de queda na sua aprovação, buscando soluções para ajustar uma comunicação criticada e pressionando ministros pela entrega de resultados.
No caso da Petrobras, a crise ganhou novos contornos com a decisão de não pagar dividendos extraordinários aos seus acionistas, num movimento que desagradou mercado e contrariou o Prates. Haddad concordou com o presidente da Petrobras, mas foi voto vencido.
Do outro lado, estavam o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa.
Rumores envolvendo a demissão de Prates ganharam força após entrevista à Folha de S.Paulo do ministro de Minas que admitiu haver conflito entre o seu papel e o do presidente da empresa.
Silveira foi questionado e evitou avaliar se Jean Paul Prates estaria fazendo um bom trabalho. “A avaliação da gestão do presidente da Petrobras eu deixo a cargo do presidente da República”, afirmou.
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CATIA SEABRA E MARIANNA HOLANDA / Folhapress